Preços abusivos na Exposição de Rondonópolis chocam população e expõem omissão do Procon
Pastel a R$ 25, cerveja a R$ 12 ou R$ 15 (dependendo da marca), refrigerante a R$ 12 e água a R$ 10 escancaram exploração econômica na exposul; órgão de defesa do consumidor segue calado diante da revolta popular Foto: Reprodução
A Exposição Agropecuária de Rondonópolis, a tradicional exposul, se transformou em alvo de duras críticas nas redes sociais e na imprensa após a divulgação de preços abusivos cobrados por alimentos e bebidas dentro do parque. O que deveria ser um espaço de celebração da força do agronegócio virou palco de indignação popular, com denúncias de que o evento virou inacessível para o cidadão comum.
A gota d’água veio com o vídeo do empresário Joel da Somarfield, gravado dentro da feira, onde ele denuncia os valores praticados: pastel a R$ 25, cachorro‑quente a R$ 25, espetinho a R$ 25, além da cerveja (Skol e Brahma por R$ 12; Original por R$ 15), refrigerante a R$ 12 e água mineral a R$ 10. Detalhe: a cerveja vendida é na menor lata, de apenas 269 ml. “Tá fora da base. Nunca fui de reclamar de preço, mas… R$ 25 em um pastel é doído”, pontua Joel, ecoando o sentimento de muitos que veem a feira deixando de ser um evento popular.
Os recursos públicos investidos são significativos: R$ 1 milhão pela Prefeitura e mais R$ 2,5 milhões do Governo do Estado, totalizando R$ 3,5 milhões de dinheiro público. Isso não impediu que o passaporte completo para acesso ao parque fosse vendido a partir de R$ 279,99.
Enquanto isso, a Prefeitura apenas apoia o evento (como já havia sido noticiado), assim como o Governo do Estado — ambos como patrocinadores, e não como protagonistas da organização. Isso reforça a sensação de distanciamento entre quem financia e quem é beneficiado pelo evento.
Para ilustrar de forma clara o peso financeiro imposto ao cidadão comum, basta fazer as contas. Uma família com quatro pessoas gastaria:
• 4 passaportes: R$ 279,99 × 4 = R$ 1.119,96
• 2 pastéis: R$ 25 × 2 = R$ 50
• 1 cachorro‑quente: R$ 25
• 2 espetinhos: R$ 25 × 2 = R$ 50
• 1 caixinha com 12 cervejas (6 Skol/Brahma e 6 Original): (R$ 12 × 6) + (R$ 15 × 6) = R$ 162
• 2 refrigerantes: R$ 12 × 2 = R$ 24
• 4 águas minerais: R$ 10 × 4 = R$ 40
• 10 brinquedos do parque (5 minutos cada): R$ 15 × 10 = R$ 150
Total da noite: R$ 1.670,96
Uma quantia que representa mais de um salário e meio, apenas para que uma família participe por algumas horas de uma feira que se apresenta como popular, mas pratica preços de luxo.
Apesar da repercussão, o Procon de Rondonópolis segue em silêncio — nenhuma fiscalização ou medida corretiva foi anunciada. A omissão deixa em cheque a efetividade do órgão na defesa do consumidor.
Vale lembrar que o Código de Defesa do Consumidor proíbe práticas abusivas, especialmente em ambientes como feiras onde a concorrência é limitada. Esses preços não apenas violam a lógica do mercado como indicam possíveis infrações legais, com base para autuações.
A Prefeitura e o Governo do Estado, na condição de apoiadores, precisam se posicionar com clareza. O evento que deveria acolher a população, com apoio público, não pode ser um mero palco para lucros desproporcionais.
A exposul, que já foi orgulho da cidade, corre o risco de se tornar símbolo de exclusão social — e quem frequenta a feira sente isso no bolso.
O Procon deve agir, sem mais demora. A população já demonstrou seu descontentamento — agora é hora de transformá-lo em ação concreta. Organizar, fiscalizar, notificar e, se necessário, punir. Pois, quando o poder público se omite, deixa de proteger o consumidor e passa a defender interesses restritos.