O projeto “A dança do mestre guerreiro! Mestre Ray Kintê e seu amor pela capoeira” foi contemplado no edital Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), e homenageia o mestre de capoeira Raimundo Lima dos Santos Filho, de 57 anos, mais conhecido Ray Kintê, que desenvolve um trabalho cultural e social em Várzea Grande.
Em novembro deste ano devem ser lançados um website, um documentário e um álbum com cantigas de roda de capoeiras de autoria do mestre Ray Kintê. O lançamento dos produtos está previsto para a semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). O projeto foi proposto pela Associação dos Artistas e Compositores, Músicos e Produtores (ACMP) e conta com a produção da Trinca.
Mestre Ray usa a capoeira como força de expressão, filosofia de vida e como forma de transmitir ensinamentos e valores. Há mais de 30 anos, ele se dedica ao ensino das práticas culturais de forma gratuita para jovens em situação de vulnerabilidade social, apenas pela alegria de ensinar aos interessados sobre o ofício da capoeira e sobre a herança cultural africana.
Ray Kintê é cuiabano de nascimento e mudou-se para Várzea Grande aos nove anos de idade. Com apenas cinco anos ele já tocava tambores no terreiro de seu pai. Aos 12 conduzia a música na academia de capoeira de seu mestre Eron e impressionava por ter pouca idade e tocar tão bem o atabaque. E por saber tocar, ganhou o direito de frequentar as aulas e aprender a arte da capoeira, desde que continuasse tocando atabaque.
“Eu me ofereci para tocar e o mestre Eron não aceitou de primeiro momento. Quando eu peguei o atabaque e ele ouviu aquele som diferente, ele se aproximou, ficou interessado e perguntou se eu queria tocar nas apresentações e assim foi feito, fui aprendendo a capoeira e tocando nas apresentações”, confessa Raimundo todo orgulhoso de ter conseguido a desejada aprovação de seu mestre.
Aos 32 anos, assim que se tornou mestre, Ray Kinté decidiu transmitir a arte e os fundamentos da capoeira aos jovens que estivessem dispostos a aprender. Fundou a “Associação de Capoeira a Dança do Guerreiro”, por onde já passou cerca de 300 alunos. A associação é mantida com o investimento do próprio mestre que ira uma parte de seu salário como sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso para custear o projeto.
“Para mim, a capoeira representa liberdade. Pois era por meio dessa luta arte que nossos ancestrais podiam manifestar sua cultura e aproveitava para treinar sua luta sem levantar suspeitas dos seus senhores. E desde que me tornei mestre em capoeira, ninguém nunca pagou mensalidade na minha associação, ou para aprender comigo. Já ensinei muitas pessoas, e eu vejo meu trabalho como uma porta aberta para quem realmente deseja aprender a arte”, afirma Ray.
Atualmente o mestre Ray Kinte segue ativamente com seu trabalho e vem se empenhando para transformar a associação em um instituto de fomento à cultura afro-brasileira que se chamará Instituto Mutale em homenagem a seu pai, Raimundo Mutale.