Crise no Egito: queda nas importações de trigo expõe falhas na nova gestão de compras públicas
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O Egito, um dos maiores importadores de trigo do mundo, enfrenta uma das fases mais delicadas de sua política de abastecimento. Desde a mudança repentina na gestão das compras públicas de grãos, no final de 2024, o país registrou queda expressiva nas importações, redução de estoques e desconfiança entre os principais fornecedores internacionais.
Em dezembro de 2024, o governo egípcio transferiu a responsabilidade da tradicional Autoridade Geral de Abastecimento de Commodities (GASC) para a organização militar Future of Egypt (Mostakbal Misr), encerrando um modelo que operava há décadas. A transição ocorreu sem aviso prévio, gerando incertezas e expondo a falta de preparo técnico da nova administração.
Importações caem mais de 27% no primeiro semestre de 2025
Segundo dados do setor, as importações egípcias de trigo somaram 5,2 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2025, uma redução de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já a participação do Estado nas compras caiu 57%, reflexo direto da desorganização no novo sistema.
Consultores apontam que a Mostakbal Misr não possuía estrutura operacional adequada nem equipes qualificadas, o que gerou atrasos, confusões e dificuldades financeiras herdadas da antiga agência. As incertezas criadas com a mudança comprometeram a confiança de exportadores, que passaram a adotar postura mais cautelosa nas negociações com o Egito.
Falta de experiência e perda de credibilidade internacional
A falta de experiência da nova gestora dificultou o relacionamento com o mercado global, tradicionalmente baseado em contratos de longo prazo e previsibilidade financeira. Para conter a crise, o governo nomeou uma ex-funcionária da GASC para supervisionar as operações, medida que trouxe alívio momentâneo, mas não solucionou os problemas estruturais.
Especialistas alertam que o sistema de compras depende de equipes experientes, fluxo financeiro estável e credibilidade institucional — fatores que ainda precisam ser restabelecidos para que o país recupere sua posição de destaque no comércio internacional de grãos.
Falta de transparência e atrasos em pagamentos agravam situação
Com o fim das licitações centralizadas e a adoção de negociações bilaterais, as operações tornaram-se menos transparentes e mais irregulares. Foram registradas tentativas de renegociação de contratos e atrasos em pagamentos, interpretados por fornecedores como descumprimento contratual.
Essas falhas comprometeram a imagem do Egito como comprador confiável, elevando os custos de operação e reduzindo a disposição de países exportadores em manter os mesmos volumes de fornecimento.
Analistas sugerem aperfeiçoar sistema de preços e reduzir dependência externa
Para reverter o cenário, analistas defendem aperfeiçoamentos no sistema de preços, gestão de riscos e logística, além da redução da dependência externa. A expectativa é que a produção doméstica de trigo avance gradualmente, impulsionada por novas tecnologias, variedades mais produtivas e modernização do armazenamento.
Também estão em discussão medidas para ajustar os padrões de panificação e aumentar a eficiência da cadeia de suprimentos. Entre as soluções sugeridas, ganha força a possível devolução do controle das importações à GASC, com o objetivo de restabelecer transparência, estabilidade e confiança no sistema de compras públicas.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio






