Rondonópolis amanheceu em crise na saúde pública depois que a vereadora Luciana Horta (PL), médica angiologista e especialista em cirurgia vascular, decidiu abandonar a escala de plantões da Santa Casa de Misericórdia no dia 8 de setembro. O gesto, classificado pela própria direção do hospital como “abrupto”, comprometeu os atendimentos vasculares e endovasculares oferecidos via SUS, deixando pacientes desassistidos justamente em uma das áreas mais sensíveis do sistema.

A justificativa da parlamentar soa como cortina de fumaça. Luciana afirmou que foi vítima de “ataques e insultos” nas redes sociais e que sua imagem estaria sendo explorada como se fosse a única responsável pelo serviço. O problema é que, ao invés de encarar a pressão inerente à função de médica contratada para salvar vidas, a vereadora optou por recuar e deixar a instituição às voltas com a falta de especialistas.

Enquanto pacientes aguardam por atendimento, os bastidores políticos revelam o que realmente pesa: Luciana está de birra com o prefeito Cláudio Ferreira (PL). O mal-estar começou porque ela não recebeu qualquer sinalização de apoio do gestor para sua pretensão de disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2026. A reação foi misturar o papel de vereadora, médica e pré-candidata, transformando uma obrigação profissional em arma política.

A Prefeitura, pressionada pela falha, protocolou representação extrajudicial exigindo explicações da Santa Casa. O hospital, por sua vez, assegura que pacientes internados não ficaram sem assistência, mas admite dificuldades para manter a escala. A “situação temporária”, como chamou a direção, evidencia o quanto um serviço essencial pode ser abalado por disputas pessoais de uma parlamentar em crise de vaidade.

Mais do que um caso pontual, o episódio escancara a vulnerabilidade da saúde pública em Rondonópolis, refém da mistura entre política e medicina. A decisão de Luciana Horta não foi apenas a de se afastar de um plantão: foi a escolha de instrumentalizar a saúde como palco de disputa eleitoral, sacrificando o interesse coletivo em nome de conveniências políticas.

E fica a pergunta, com a dose de ironia que a situação merece: já pensou se todo político que for atacado em rede social, que for cobrado pela população, resolver fazer birra, resolver fazer beicinho e parar de trabalhar? O que seria — ou melhor, o que será — do país se esse comportamento virar regra?