Botelho expõe racha com Mauro Mendes e alerta: Jayme Campos pode romper com o grupo em 2026
Deputado estadual desmascara discurso de unidade no União Brasil, critica favoritismo de Mauro a Pivetta e aponta risco de debandada histórica de Jayme Campos da base governista Foto: Reprodução
A entrevista concedida pelo deputado estadual Eduardo Botelho (União Brasil) ao Jornal do Meio-Dia, exibido pela TV Vila Real (canal 10.1 de Cuiabá), foi marcada por sinceridade desconcertante e, ao mesmo tempo, reveladora. Com o estilo direto que o caracteriza, Botelho abriu o jogo sobre a disputa interna no União Brasil pela sucessão do governador Mauro Mendes em 2026, expondo as rachaduras entre as alas ligadas a Jayme Campos e Otaviano Pivetta — e criticando, sem rodeios, o comportamento do próprio governador.
“Essa polarização agora vai gerar problema para a eleição”
Ao ser questionado sobre o cenário dentro do União Brasil para a escolha do próximo candidato ao governo estadual, Botelho não hesitou:
“Essa polarização agora, em cima de um candidato e de outro, vai gerar problema para a eleição. Eu tive esse problema na eleição em Cuiabá, porque os partidários de Fábio Garcia já estavam muito animados com a campanha dele, já estavam muito aguerridos, e eles não vieram para a minha campanha. Foram para a campanha de outro só porque estavam chateados de eu ter sido o candidato.”
O parlamentar resgata o episódio traumático de 2020, quando disputou a Prefeitura de Cuiabá e sentiu o peso da divisão interna no grupo. Ao comparar aquele momento com o atual embate entre Pivetta (apoiado por Mendes) e Jayme Campos, Botelho traça um paralelo entre imposição de candidaturas e fracassos eleitorais — e alerta para a repetição do erro.
“Talvez a resistência seja mais pessoal do governador, não do partido”
Botelho foi ainda mais incisivo ao comentar a postura do governador Mauro Mendes:
“Nós temos o senador Jayme Campos que está colocando o nome como possível candidato; o Mauro Mendes já definiu seu apoio ao Otaviano Pivetta; e eu estou defendendo o diálogo. Talvez essa resistência ao Jayme seja mais pessoal do governador, não do partido. O partido tem conversado, todo mundo está junto.”
A fala é direta: o problema não é ideológico nem técnico — é pessoal. Botelho sugere que Mauro Mendes, mesmo sem declarar publicamente, vetou Jayme Campos nos bastidores, e está tentando empurrar a candidatura de Pivetta como sucessão natural, atropelando os processos internos do partido.
“Se baterem o martelo agora, os jaimistas não vão apoiar”
Com franqueza, Botelho descreveu o que já se comenta entre lideranças do interior:
“Se definirem que o candidato é o Otaviano, os jaimistas não vão apoiar. E o contrário também é verdade. Quem é do Otaviano, se for no Jayme, também não apoia. Então eu estou defendendo que a gente precisa construir essa conversa, sem essa de bater o martelo agora.”
A fala é um retrato da desintegração do grupo político de Mauro Mendes, que há sete anos governa o Estado com uma base ampla e aparentemente estável. Segundo Botelho, essa base está longe de ser sólida: a divisão interna é real e as feridas da imposição estão abertas.
“Já aconteceu na eleição de prefeito e pode acontecer de novo”
Em outro momento, ele reforça o apelo ao diálogo com base na experiência própria:
“Eu inclusive cheguei a falar com o governador: vamos construir dentro do partido uma unidade, porque já aconteceu isso na eleição de prefeito e pode acontecer de novo.”
A repetição desse trecho na entrevista revela o grau de preocupação de Botelho com a condução autoritária do processo de sucessão. Ele sabe que, sem articulação ampla, a base governista pode chegar rachada em 2026 — o que significaria derrota certa contra uma oposição fortalecida.
Jayme Campos pode sair do grupo e romper com Mendes
Embora Botelho não diga com todas as letras, o que ele deixa claro é que Jayme Campos tem estrutura, prestígio e musculatura política suficientes para romper com o grupo, mudar de partido e lançar uma candidatura competitiva fora da base de Mauro Mendes. E isso colocaria em xeque todo o projeto de continuidade do atual governo.
Jayme Campos, com passagens pelo governo do Estado, Senado e Prefeitura de Várzea Grande, ainda mantém forte influência entre prefeitos, lideranças do interior e segmentos empresariais. Se isolado dentro do União Brasil, pode ser convencido por outras legendas a encampar um projeto alternativo ao de Pivetta.
A entrevista de Eduardo Botelho desmontou o discurso de unidade no União Brasil. Ao revelar que o governador Mauro Mendes já se posicionou por Pivetta sem construir diálogo, e que existe resistência real e recíproca entre os grupos de Jayme e Otaviano, o deputado traçou o cenário de uma base em conflito e de uma sucessão em risco.
“Eu estou defendendo o diálogo. Se não fizer isso, vamos repetir os erros de Cuiabá.”
Se Mauro Mendes insistir no caminho da imposição, poderá não apenas perder aliados, mas também a governabilidade que construiu desde 2018. E Jayme Campos, com sua trajetória e respaldo popular, pode ser justamente a ruptura que faltava para implodir o projeto de poder do governador.