• 10 de maio de 2025
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JUDICIÁRIO

Lobista no centro de esquema bilionário: PF vê corrupção “sofisticada” e pede mais 60 dias para investigar

Operação Sisamnes expõe rede de venda de sentenças envolvendo lobista, ministros e gabinetes no STJ; esquema pode ter movimentado R$ 2 bilhões
Foto: Redes sociais

A Polícia Federal identificou um dos esquemas de corrupção mais sofisticados já registrados na cúpula do Judiciário brasileiro e apontou o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves como figura central de uma rede que teria operado a venda de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A gravidade das descobertas levou os investigadores a pedir ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a prorrogação por mais 60 dias do prazo para aprofundar as apurações.

De acordo com relatório enviado ao STF, o sistema é “mais complexo e estruturado” do que qualquer outro investigado até hoje nesse tipo de crime. A PF acredita que o grupo agia com hierarquia e divisão de tarefas, envolvendo desde lobistas e advogados até servidores estratégicos de gabinetes ministeriais. O foco da atuação era influenciar sentenças com o objetivo de beneficiar interesses privados mediante pagamento de propina — valores que podem ter ultrapassado R$ 2 bilhões.

O epicentro da operação, batizada de Sisamnes — referência a um juiz persa do século V a.C. executado por vender sentenças — é o lobista Andreson Gonçalves, que, segundo a PF, circulava nos bastidores do STJ com acesso direto a informações privilegiadas. Utilizando inclusive uma carteira da OAB falsificada, Andreson se apresentava como advogado para aumentar sua influência. A Polícia já confirmou que ele se relacionava com pelo menos três assessores ligados a ministros da Corte.

As primeiras pistas do esquema surgiram após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023. A análise do celular da vítima revelou uma série de mensagens e trocas de favores que ligam Andreson a uma rede coordenada de negociação de sentenças. A partir desses dados, a PF deflagrou uma série de mandados de busca e apreensão e prendeu Andreson preventivamente.

Outro nome que passou a figurar entre os alvos da investigação é o da esposa do lobista, a advogada Mirian Ribeiro Gonçalves. Segundo a PF, ela atuava nos bastidores de processos em que o marido exercia influência e teria papel ativo no esquema. Um dos celulares apreendidos pela Polícia, considerado peça-chave na apuração, está registrado em nome de Mirian, e Andreson se recusou a fornecer a senha do aparelho, o que reforçou as suspeitas sobre sua participação direta nas articulações.

O casal é natural de Primavera do Leste, município do interior de Mato Grosso, a 239 km de Cuiabá, e ambos são figuras conhecidas na região. A PF acredita que, por meio de contatos forjados e aparência de legitimidade, Andreson e Mirian construíram uma rede de atuação que alcançou o núcleo do Poder Judiciário.

O pedido de prorrogação das investigações por mais 60 dias, feito pela Polícia Federal ao STF, demonstra que o caso ainda está longe de ser encerrado. A expectativa é que novos nomes de autoridades públicas possam emergir à medida que o conteúdo dos dispositivos eletrônicos e os fluxos financeiros forem desvendados.

Este caso expõe não apenas a fragilidade das barreiras institucionais dentro dos tribunais superiores, mas também a urgência de ampliar os mecanismos de controle sobre a atuação de lobistas, advogados e servidores. A Operação Sisamnes, segundo os investigadores, poderá se desdobrar em fases ainda mais amplas, colocando em xeque a integridade de decisões judiciais que impactam diretamente a segurança jurídica do país.