Penso seriamente em parar de escrever, não pela falta de assuntos, porque tenho 14 livros pré-prontos para publicação, faltando alguns enxertos e complementos, mas pelo que sentimos sobre a leitura na nossa cidade, estado e país e, o desconhecimento geral aos escritores, que ainda conseguem publicar seus textos, mesmo que em tiragens ínfimas, porque não recebem reconhecimento para suas publicações, em todas as formas.
Cansei de passar o pires, e olha que desde o primeiro livro em 1994, ainda continua do mesmo jeito, talvez com os mesmos mecenas de outrora, e outros novos conquistados a duras penas. Corre, a boca pequena, que no Mato Grosso o livro deve ser gratuito, que as leis de incentivo bancam as edições, um grande desrespeito ao autor, porque são pouquíssimos os projetos abarcados pela lei estadual, exceto agora nessa pandemia, pelos editais, quase que obrigatórios no município e no estado através da lei federal Aldir Blanc, ou seja, cumprimentam com o chapéu dos outros, na verdade, não investem um centavo dos valores orçamentários. Haveremos de ver historiadores lá no futuro – que parece longe, mas não é -, debruçados sobre os planos de governo dos candidatos quanto as suas promessas para cultura, apresentados durante à eleição e, os textos publicitados por aqueles profissionais do saber, dizendo a verdade, não mais que a verdade.
Quando o Valter Almada, presidente da Associação Poguba de Artesãos de Rondonópolis colocava uma placa feita à mão, na Praça Brasil, durante os seus eventos, dizendo que não tinha nenhum apoio da prefeitura, isso no milênio passado, eu não entendia direito, no entanto dói saber que hoje continua da mesma forma. Alguém dizia naquela época, que éramos uma cidade de forasteiros, que nós viemos aqui só para ganhar dinheiro, acho que estava certo.
Tenho anotado uma relação de 27 escritores que tem seus trabalhos prontos para edição, mas não conseguem apoio. Alguns deles tem mais de dois livros prontos. Participei de três projetos apresentados ao município, a pedido da administração mesmo sabendo que o processo não se completaria, com exaustiva demora para tramitação e pedidos de inúmeros documentos, tanto pela Secretaria de Cultura como pela Educação, mas que foram barrados pela procuradoria, que alegava ser o lançamento de edital o caminho correto para tal, mas esse edital parece coxa de freira, ninguém viu, ninguém vê.
Os livros que lancei, na sua maioria foram em parcerias, alguns customizados para alcançar os propensos patrocinadores, mas tenho consciência que poucos foram lidos, servindo para emoldurar ou completar espaços de estantes, ou ainda, como calço de mesa. E, até uso isso como mote. Num lançamento de um deles, ao final, descobri que havia vendido dois exemplares, e dias depois descobri também que um deles foi comprado pela minha genitora. Daí me vem a fala: “Larga dessa cantoria menino, música não vai levar você a lugar nenhum”, na abertura da música “Mamãe eu não queria“, do mito Raul Seixas, em complemento com o mesmo cantor: “Não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho”, da música “No fundo do quintal da escola”. Fui.
Sei que os livros só são vendidos em poucas hipóteses, quando se tem um bom título, uma boa capa, alguém falou dele – alguém público, melhor ainda –, ou quando sai nas páginas de alguma plataforma específica. A chance de você escrever um bom livro e ele se tornar best-seller é pequena, se não tiver investimento alto para chegar às editoras, ou através de boas indicações.
Tenho contrato com a Editora Komedi, e já lancei bons livros por lá, e de lá chega, às vezes, alguns créditos na minha conta corrente. Lá está o meu melhor livro: “Incisão perfeita”, um serial killer, que daria um filme, espero que um dia ele tenha o reconhecimento merecido. Também o livro que mais me dá royalties, sobre a cidade campineira: “Encontro das artes: Campinas – São Paulo – Brasil”, em coautoria com a Doutora Renata Sunega.
Não sei quantificar as vezes que ouvi a prostituta das respostas: Não! Entretanto, entrava num ouvido e saía no outro. E, passando por tantos turbilhões, mas reconhecendo os padrinhos que permitiram alcançar o livro impresso de número 26: “Talk show, com Hermélio Silva”, que será lançado em junho de 2021, mesmo a contragosto me despeço do livro físico.
Continuarei representando as editoras “Umanos Editora” e “E. O. S. Editora”, para a publicação de livros dos meus clientes, dos quais temos 11 em tramitação. Esperamos que eles obtenham sucesso no pleito, porque são bons livros, e, não seria consultor cultural deles, se assim não fosse.
Enquanto não acreditarem na cultura/literatura, colocando-a em seu valoroso e merecido posto, não viveremos da arte literária em Rondonópolis.
Hermélio Silva
14.5.21.