• 4 de dezembro de 2025
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Cientistas da Unesp identificam nova espécie de cigarrinha que ameaça lavouras de cana-de-açúcar no Brasil

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Descoberta inédita alerta para nova praga nas plantações de cana

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) identificaram uma nova espécie de cigarrinha-da-raiz que vem atacando lavouras de cana-de-açúcar em diferentes regiões do país. A descoberta, publicada no Bulletin of Entomological Research da Universidade de Cambridge, recebeu o nome de Mahanarva diakantha — termo que significa “dois espinhos”, em referência à morfologia diferenciada do inseto.

A constatação da nova espécie surgiu após produtores relatarem ineficiência de defensivos agrícolas tradicionais no combate à praga. A partir dessa resistência incomum, os agricultores solicitaram apoio a especialistas da Unesp, que, junto a pesquisadores da PUC-RS, iniciaram uma investigação genética e morfológica das amostras coletadas em usinas de cana-de-açúcar.

Cana-de-açúcar: base da economia e alvo de ameaças

A cana-de-açúcar é uma das principais culturas agrícolas do Brasil, responsável por movimentar cerca de US$ 8,7 bilhões em exportações em 2020. O país é o maior exportador mundial de açúcar e também utiliza a planta para a produção de etanol e energia elétrica a partir do bagaço.

Dada essa relevância econômica, o surgimento de novas pragas preocupa o setor. A cigarrinha-da-raiz tradicional, das espécies Mahanarva fimbriolata e Mahanarva spectabilis, já é conhecida por causar perdas de até 36 toneladas por alqueire, ao sugar a seiva da planta e liberar toxinas que reduzem a concentração de sacarose. A nova espécie, M. diakantha, apresenta comportamento semelhante, mas com diferenças genéticas e resistência mais elevada, dificultando o controle químico convencional.

Análises genéticas e morfológicas confirmam nova espécie

O docente Diogo Cavalcanti Cabral-de-Mello, do Instituto de Biociências da Unesp, coordena há mais de uma década um laboratório dedicado à evolução genômica de insetos. Segundo ele, a descoberta foi possível graças à análise de marcadores de DNA mitocondrial, que mostraram variações significativas entre as amostras e as espécies já conhecidas.

Além da genética, o estudo contou com avaliações morfológicas detalhadas conduzidas pelos pesquisadores Andressa Paladini e Gervásio Silva Carvalho, que observaram uma característica única na genitália dos machos da nova espécie: uma estrutura bifurcada e pontiaguda, diferente do formato quadrangular das demais cigarrinhas. Essa peculiaridade confirmou a existência de uma nova espécie no país.

Resistência desafia controle químico e exige novas soluções

Os produtores que relataram o problema notaram que os defensivos agrícolas disponíveis não apresentavam eficácia contra a praga. Segundo Mello, isso ocorre porque os produtos costumam ter ação específica para determinadas espécies. Assim, mesmo insetos semelhantes podem reagir de formas diferentes às mesmas substâncias.

Com a identificação do M. diakantha, pesquisadores poderão desenvolver novas formulações e estratégias de controle mais direcionadas. A descoberta também levou à revisão de coleções científicas: Paladini identificou registros de exemplares da década de 1960, que foram erroneamente classificados como M. fimbriolata.

Controle biológico ainda é alternativa mais eficaz

Apesar da descoberta, especialistas acreditam que o risco imediato para as lavouras não é alarmante. Segundo Odair Aparecido Fernandes, docente da Unesp de Jaboticabal e líder do Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (Cepenfito), o controle biológico com o fungo Metarhizium anisopliae continua sendo uma das estratégias mais eficazes.

O fungo é cultivado em laboratório e aplicado nas plantações, atacando exclusivamente os insetos sem causar danos à planta ou ao meio ambiente. “É um dos exemplos mais bem-sucedidos de controle biológico no mundo”, afirma Fernandes.

Mesmo assim, novas pesquisas serão necessárias para avaliar a eficiência dessas técnicas contra o M. diakantha e compreender seu comportamento reprodutivo, variabilidade genética e impacto nas lavouras atuais.

Cooperação entre universidades e setor produtivo

A pesquisa contou com forte colaboração entre a Unesp, a PUC-RS e empresas do setor agrícola, demonstrando a importância da integração entre ciência e produção. “A universidade precisa estar aberta a resolver os problemas da sociedade. Neste caso, a ciência básica foi aplicada para solucionar uma questão prática do campo”, afirma Mello.

O Cepenfito, financiado pela Fapesp e pelo Grupo São Martinho, é um exemplo desse modelo de parceria público-privada. O centro conduz atualmente 55 projetos voltados à saúde vegetal e manejo de pragas, em cooperação com indústrias sucroalcooleiras e produtores de diversas regiões do país.

Outras ameaças à cultura da cana

Além da nova cigarrinha, Fernandes aponta outras duas grandes preocupações para o setor:

  • Síndrome do murchamento da cana, causada por uma combinação de fatores climáticos e biológicos, que pode reduzir a produção em até 40%;
  • Bicudo-da-cana, um besouro que se alimenta do tecido vegetal e provoca perdas de até 25 toneladas por hectare, favorecido pela colheita mecanizada com palhada, que mantém a umidade no solo, mas facilita sua reprodução.

De acordo com o pesquisador, o Cepenfito segue buscando estratégias de manejo mais eficazes para enfrentar essas pragas e garantir a sustentabilidade da produção nas regiões Centro-Sul e Sudeste.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio

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