Brasil atinge menor número de filhos por mulher da história, revela Censo
Dados do IBGE mostram que mulheres estão tendo menos filhos e cada vez mais tarde. Queda da fecundidade impõe novos desafios para o futuro do país. Foto: Reprodução
O Brasil nunca teve tão poucos nascimentos por mulher como agora. Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (27) pelo IBGE, a taxa média de fecundidade caiu para 1,55 filho por mulher, o menor índice da série histórica iniciada em 1940. A pesquisa faz parte do Censo Demográfico 2022 e confirma uma mudança profunda no perfil das famílias brasileiras.
O número está bem abaixo da chamada “taxa de reposição populacional”, de 2,1 filhos por mulher — considerada necessária para que uma população se mantenha estável ao longo do tempo, sem depender da imigração. Ou seja: o Brasil está encolhendo silenciosamente, e com rapidez.
Regiões com menos filhos: Sudeste lidera queda
O fenômeno atinge o país como um todo, mas com nuances regionais. O Sudeste tem o menor índice do Brasil: 1,41 filho por mulher. Em seguida aparecem o Sul (1,50), Centro-Oeste (1,64) e Nordeste (1,60). Apenas a região Norte apresenta média um pouco mais alta, com 1,89 filho por mulher — ainda assim, abaixo do necessário para manter a população.
Entre os estados, Roraima é o único com taxa acima de 2 filhos por mulher (2,19). Já Rio de Janeiro (1,35), Distrito Federal (1,38) e São Paulo (1,39) registram os menores índices do país.
Mulheres adiam maternidade e encerram ciclo sem filhos
Outro dado importante revela que as brasileiras estão adiando cada vez mais a maternidade. A idade média para ter filhos subiu para 28,1 anos, um salto em relação aos 26,3 anos registrados em 2000. No Sudeste e no Sul, a média já se aproxima de 29 anos. No Norte, é de 27.
Além disso, cresceu o número de mulheres que encerram o período fértil sem ter filhos. Entre as brasileiras com idade entre 50 e 59 anos, 16,1% não tiveram filhos — um aumento significativo em comparação aos 11,8% observados em 2010. Em estados como o Rio de Janeiro, esse número chega a 21%.
Fecundidade varia conforme escolaridade, raça e religião
Os dados também revelam que a decisão de ter filhos está diretamente ligada a fatores sociais, econômicos e culturais. Mulheres com ensino superior completo têm, em média, 1,19 filho. Já entre aquelas com baixa escolaridade, a média sobe para 2,01 filhos.
Quando o recorte é feito por raça e cor, as mulheres indígenas apresentam a maior taxa de fecundidade (2,8 filhos). Em seguida aparecem as pardas (1,7), pretas (1,6), brancas (1,4) e amarelas (1,2).
O aspecto religioso também influencia. Evangélicas têm, em média, 1,74 filho por mulher, enquanto católicas (1,49), sem religião (1,47), umbandistas e candomblecistas (1,25) e espíritas (1,01) têm índices mais baixos.
E agora? Os impactos de um país que envelhece
Com menos crianças nascendo e a população vivendo mais, o Brasil entra numa fase crítica: o envelhecimento acelerado. Isso impõe uma série de desafios para o país, como a sustentabilidade da Previdência Social, o custo da saúde pública, e a possível falta de mão de obra jovem no mercado.
O país vive, neste momento, uma espécie de “janela demográfica” — uma fase em que a população em idade produtiva ainda é maioria. Mas essa janela está se fechando rapidamente. Sem políticas públicas que incentivem a natalidade, apoiem a maternidade e facilitem a conciliação entre trabalho e família, o Brasil pode seguir o caminho de países como Japão, Itália e Coreia do Sul, que hoje enfrentam sérias crises provocadas pela escassez de nascimentos.
Segundo o próprio IBGE, se essa tendência continuar, o Brasil pode começar a reduzir de população antes mesmo de 2040. O dado já não é apenas estatístico — é um alerta.