Na tentativa de se reposicionar politicamente, o ex-prefeito de Primavera do Leste, Léo Bortolin (MDB), publicou nesta quinta-feira (17) um vídeo cuidadosamente roteirizado em que volta a afirmar, com tom sereno e ensaiado, que teria deixado R$ 84 milhões em caixa ao fim de sua gestão. A ação coordenada, acompanhada por matéria jornalística publicada em seguida, tenta dar verniz técnico a uma narrativa que não resiste aos fatos.

O que Léo não disse — e que a população precisa saber — é que cerca de 60% desse valor estava vinculado a despesas obrigatórias, como recursos do Fundeb, Fundo Municipal de Saúde, SUAS e emendas impositivas. Dinheiro comprometido por lei, sem liberdade de uso para novas ações de governo.

Mas o problema vai muito além disso. A contabilidade do município estava paralisada desde outubro de 2024, o que impediu o fechamento correto do exercício financeiro e deixou um rombo administrativo difícil de mensurar. Além disso, o CNPJ da Prefeitura foi parar no CAUC — o “Serasa das prefeituras” — justamente em decorrência da desorganização herdada da gestão anterior, o que compromete o acesso a transferências voluntárias e convênios com a União.

A cereja do bolo da desordem, no entanto, foi a troca do sistema de gestão administrativa da Prefeitura, que afetou praticamente todos os serviços públicos: emissão de boletos de impostos, alvarás, multas, relatórios fiscais e orçamentários — tudo travou. A mudança começou em 7 de outubro, um dia após a derrota eleitoral do então vice-prefeito Ademir (União Brasil). Coincidência ou não, o sistema anterior foi abandonado sem planejamento, e a implantação do novo software, da empresa Fiorilli, foi desastrosa.

Embora parte das funcionalidades só tenha sido liberada a partir de fevereiro de 2025, até hoje há ferramentas do sistema que ainda não foram implantadas em sua totalidade, prejudicando o pleno funcionamento da administração municipal.

Durante esse período, servidores enfrentaram um verdadeiro apagão administrativo, sem acesso às ferramentas básicas para operar a máquina pública. A transição foi conduzida de forma atabalhoada e sem qualquer responsabilidade com a continuidade dos serviços.

Ainda assim, Bortolin tenta posar como gestor exemplar — agora em vídeo, com fala mansa e seu já conhecido desempenho nas redes sociais. Mas a população já deu sua resposta: nas urnas, com uma derrota acachapante, mostrando que Primavera do Leste não se deixa enganar por narrativa rasa nem por marketing digital maquiado de prestação de contas.

Por trás do discurso polido, o que ficou foi um rastro de desorganização, vaidade e irresponsabilidade administrativa.