Ícone da cultura mato-grossense, a viola de cocho não era considerada um símbolo de orgulho para a população 30 anos atrás. Apesar de conduzir o cururu e o siriri nos quintais cuiabanos, era vista como um instrumento sem valor e os jovens não tinham interesse em perpetuar a tradição. O despertar começou quando o professor e músico Abel Santos Anjos Filho, o Abel dy Anjos, se interessou pela história, o modo de fazer e o som da viola de cocho. A partir do trabalho dele, o instrumento desbravou o Brasil, ganhou a Europa e, mais importante, passou a ser visto como legado da cultura popular regional.
A história de homenagem a Abel está contada na série documental ‘Viola dy Anjos’, produzido por Raphael Gustavo Coiado. “Ele teve um papel determinante ao tirar a viola de cocho das festas nos sítios e apresentar o instrumento em toda a sua plenitude à sociedade cuiabana, trazendo também os músicos e a comunidade ribeirinha e pantaneira para condição de artistas regionais”, destaca o produtor.
Com seis capítulos e uma coletânea musical, ambos disponíveis no youtube, o projeto foi executado com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio do edital “Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite”, da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel).
A série traz uma retrospectiva de todo trabalho de pesquisa e aproximação com mestres do Cururu em Cuiabá, a geração de valor econômico e cultural da viola de cocho, a valorização do saber popular na comunidade e no mundo, a inovação no modo de tocar o instrumento. Por estes e outros motivos, o trabalho reconhece a importância da atuação de Abel para a difusão, resgate e perpetuação da cultura cuiabana nos últimos 30 anos.
“O professor Abel dy Anjos foi a figura responsável pela redescoberta e reinvenção da viola de cocho em Mato Grosso. Realizou um excepcional trabalho, tanto ao reapresentar o instrumento mundo afora, quanto ao desenvolver um novo método para tocá-la, facilitando o acesso das novas gerações”, comenta Raphael.
Além de depoimentos do próprio Abel, a série conta com participação de pessoas que fizeram a história com ele e contribuíram neste trabalho de resgate cultural. Entre eles, falecido mestre Caetano Ribeiro, mestres Thomas Flaviano e Alcides Ribeiro, além da artista Vera Capilé e o professor Waldir Bertúlio. O trabalho incluiu a criação de uma coletânea musical com 15 obras selecionadas especialmente para o projeto, e que marcam a trajetória dele como musicista, professor, artista e mestre da cultura.
Conexão Mestres da Cultura
O edital surgiu para compartilhar os saberes e fazeres artísticos e culturais do estado, reconhecendo o trabalho desenvolvido por pessoas impactaram a cultura mato-grossense, considerando sua contribuição para o fortalecimento da cultura do estado e sua importância para a comunidade que atua. No total, o edital atendeu 75 projetos com investimento total R$ 7,5 milhões.