À frente da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso desde julho do ano passado, Alberto Machado, o Beto Dois a Um, destaca em entrevista para a Revista RDM, os resultados alcançados pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer até aqui e revela os desafios de uma gestão consciente e dedicada.
O secretário comemora as conquistas da pasta em pouco mais de um ano de gestão e diz se sentir um privilegiado por estar à frente da Secel em um momento tão complicado, o que requer ainda mais dedicação.
De acordo com o jornalista Rui Matos, responsável pela entrevista, “o resultado é a construção de políticas públicas inovadoras, assertivas e de inclusão nunca vista em Mato Grosso. Um balaio cultural e esportivo que mistura o que há de melhor na sociedade e na equipe que faz essa engrenagem funcionar de olho no presente e no futuro”.
Confira a seguir a entrevista na íntegra.
Mato Grosso é dono de um balaio cultural com DNA de praticamente todos os estados. Como é fazer gestão cultural em um cenário tão complexo?
Essa miscigenação é o grande trunfo da nossa cultura. Temos hoje traços de todas as manifestações já mescladas com a cultura raiz de Mato Grosso, sem contar as manifestações dos povos originários que são tão vivas no nosso dia a dia. Uma das grandes qualidades de nós mato-grossenses é sabermos nos comunicar e misturar todas essas vertentes nesse balaio cultural que a miscigenação causa na música, dança, literatura, artes plásticas, manifestações populares, entre tantas outras. Tudo isso se torna um grande ativo, que é o nosso maior patrimônio hoje.
O senhor se tornou artista no meio musical. Como é mesclar todas essas nuances já citadas para compreender e representá-las em toda a sua plenitude?
Entendo a diversidade e a pluralidade da nossa cultura desde quando subi no palco pela primeira vez ainda muito jovem. Amadureci construindo esse conceito e continuo vendo que há novidades chegando e se acomodando sempre bem-vindas. Orgulho-me dos avanços que conquistamos, mas confesso que não foi fácil. Foi um processo de construção. Tive o privilégio de trabalhar com pessoas que me ajudaram nessa compreensão, como Paulo Traven, também o Jan Moura, entre outros gigantes da cultura de Mato Grosso. O gestor cultural que sou hoje foi moldado experimentando, vendo e sentindo in loco a nossa cultura, além de compartilhar da experiência do time da Secel.
Quando se fala em cultura, não se pode deixar de fora a questão racial e de gênero, só para citar alguns. Como é para o senhor inserir essas questões na gestão da Secel?
Fizemos reparos históricos nessa gestão. Algumas questões precisaram ser debatidas e enfrentadas. Criamos formatos em nossos e ditais para todos tivessem vez e voz. Isso inclui quilombolas, portadores de necessidades especiais, comunidade GLBT, entre outros. Inclusive, as questões geográficas ou regionais também foram revistas. A Secel não poderia continuar representando quase que unicamente a região de Cuiabá. Precisávamos estar presentes nos 141 municípios e fizemos isso. Corrigimos essas discrepâncias e os resultados que temos hoje nos orgulham. Antes, por exemplo, cerca de 70 por cento dos projetos culturais eram aprovados por homens. Hoje, as mulheres representam 54 por cento dos conselheiros que aprovam projetos. São avanços que continuam sendo aprimorados. Ainda temos que avançar, apesar das conquistas.
Como ocorreu essa costura com os atores da cultura e do esporte nos municípios?
Tenho levando essa mensagem e feito o dever de casa em todas as regiões. Mato Grosso tem dimensões continentais e cada município tem o seu próprio estágio de cultura e esporte. O que fizemos foi pôr fim à fórmula única para todos. Cada um é cada um. Nas políticas públicas contemplamos cada uma das situações expostas pelos municípios e temos feito isso pessoalmente para entender o que se passa, quais as demandas e quais as nossas possibilidades.
A cultura se mostrou imprescindível nessa pandemia. Diante de tudo o que se passou, o setor avançou em amadurecimento e até buscando novas formas?
Infelizmente, essa pandemia foi um preço caro a se pagar para que esse aprendizado acontecesse. Foi uma das maiores tragédias da nossa geração, mas serviu sim para que a sociedade compreendesse a importância da cultura. Cultura e esporte foram os primeiros a parar e os últimos a voltar à atividade. No entanto, foi a cultura que segurou a onda emocional por meio de lives, livros, documentários, filmes, novelas. Acredito que a cultura deu conforto emocional a todos nesse momento. O esporte também deu a sua contribuição, cada um ao seu modo. Apesar dos impactos que sofreram, cultura e esporte foram protagonistas no sentido de amenizar a ansiedade e melhorar a saúde mental nesse momento único da humanidade. Saímos fortalecidos, sem dúvida.
Os novos editais lançados pela Secel podem ser considerados divisores de uma nova realidade?
Penso que os editais vieram para materializar a fala do governador Mauro Mendes de levar cultura e esportes para todo o estado. É a primeira vez na história que temos um edital nos moldes do MT Afluentes para que todos os municípios acessem. São 12 milhões de reais, sendo seis em pauta livre e outros seis para o tema Natal. Cada município pode propor um projeto em cada eixo e não terá concorrência, sendo todos contemplados. Vejo que Mato Grosso está feliz com os caminhos que o governo, por meio da Secel, está tomando para a cultura e esporte de Mato Grosso. Só para citar alguns, temos também o Olimpus, Movimentar, MT Preservar, Move MT, 26º Salão Jovem Arte, Estevão de Mendonça, entre outros.
Quando esses recursos entram na economia eles triplicam, né?
A cadeia produtiva da cultura e do esporte é gigante. O edital da Lei Aldir Blanc é um exemplo disso. O valor repassado a um escritor, por exemplo, beneficia o setor gráfico, diagramador, revisor, arte finalista, livrarias, além do próprio autor. Os recursos se multiplicam sim. Cultura e esporte movimentam a economia, sem dúvida. O que faltava era essa visão de conjunto e apoio integral aos 141 municípios. Hoje conseguimos mensurar que fomos, quem somos e o quanto geramos de resultados ao estado.
Outro trunfo dessa gestão foi resgatar o Salão Jovem Arte. Representa muito para o setor que andava meio esquecido.
Sem dúvida, será mais um case positivo para o Governo e para a Secel. Essa vigésima sexta edição do Salão Jovem Arte é emblemática tanto pelo resgate, quanto pela inovação. No ano que vem estaremos pronto para fazer a edição de número vinte e sete e que não haja mais esse hiato entre um evento e outro.
No setor literário o Edital Estevão de Mendonça está consolidado. Além da publicação de obras inéditas, há que se destacar o fortalecimento das bibliotecas públicas e escolares, além da inclusão literária que foi uma das novidades da última edição.
Foi uma ação que envolveu todo o time da Secel. Cultura deve ser inclusiva e a nossa equipe entendeu que deve ser assim de agora em diante. Visualizamos as necessidades da sociedade e facilitamos o processo burocrático para que as pessoas que necessitam tivessem acesso aos novos livros.
Em relação ao patrimônio histórico, sempre houve entrave burocrático ou financeiro para a sua manutenção ou recuperação. Houve avanço nessa área?
Lançamos um edital de três milhões de reais para conservação do patrimônio histórico no estado. É o primeiro edital da nossa história voltado exclusivamente para manutenção e conservação do patrimônio histórico. Podem participar do certame tanto os municípios, quanto pessoas físicas ou associações culturais.
Outra novidade foi projeto Olympus. Qual a filosofia dessa proposta?
É o projeto de política pública mais relevante hoje no pais. Ele envolve toda a jornada esportiva de um atleta. Começa na base, em fase estudantil, prossegue quando o atleta tem índice nacional e vai até quando ele atinge ranking internacional. Desde que foi implantado, há quase um ano, todo dia 30 os atletas recebem em sua conta bancária o valor determinado. Isso já foi uma mudança de paradigma num momento tão complicado como esse de pandemia. Toda a cadeia produtiva do esporte foi contemplada e já criamos a segunda fase do Olimpus: Técnico Nacional, Técnica Internacional. Além disso, criamos o Prêmio Participação Olímpica. Todos os atletas olímpicos e paraolímpicos que foram para as olimpíadas de Tókio, receberam uma bolsa de 30 mil reais. No caso do Romário Marques, que trouxe medalha no Goalball Paraolímpico, recebeu também uma bolsa de 100 mil reais. Isso é inédito em Mato Grosso e está sendo copiado por outros estados.
Como foi tirar o selo de ‘elefante branco’ da Arena Pantanal?
Saiu de elefante branco para a queridinha da Copa América. O governador Mauro Mendes entendeu o protagonismo da Arena Pantanal, não só para nós, mas para todo o Brasil, e nos deu condições com planejamento, orçamento e autonomia para agir. Elegemos prioridades e a Arena foi uma delas. Cuiabá estava indo bem na Série B, subiu para a Série A e ativamos em cem por cento o espaço. Em dez dias deixamos a Arena apta para receber a Copa América. Torço para que o público também faça a sua parte ajudando a conservá-la e voltando à arquibancada com segurança. Além disso, a Arena recebeu o Centro de Triagem da Covid, Detran, Secretaria-Adjunta de Esporte e se tornou de fato, uma Arena multiuso.
Quem foi Beto Dois a Um, músico, e quem é Alberto Machado, secretário de Estado?
Sou a mesma pessoa, ontem e hoje. Na música eu trabalhava com os mesmos sonhos e ideais de hoje. Trabalhando com cultura temos essa liberdade de manter essas aspirações sempre ativas. Acreditei e gostei muito de tudo o que fiz na música. Sinto-me um privilegiado por estar agora à frente da Secel em um momento como esse, representando Cultura e Esporte com legitimidade. A mesma vontade e empenho que eu tinha na música, tenho enquanto secretário. Chego feliz muito cedo para trabalhar e saio tarde mais feliz ainda. A única diferença é a maturidade e a experiência que chega a cada dia pra agregar. Jamais vou deixar de aprender.