Investigado por desvio de combustível, Francisco Castanon agride testemunha-chave da Sinfra em posto de Primavera do Leste
Vídeos mostram o momento em que o ex-funcionário Francisco Castanon parte para cima de Douglas Marques; caso envolve denúncia anterior de desvio de combustível e investigação em curso pela Polícia Civil Foto: Reprodução
O início da noite desta quarta-feira (19), véspera do feriado do Dia da Consciência Negra, terminou em confusão num posto de combustíveis da rede CPN, em Primavera do Leste, depois que o ex-funcionário da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Sinfra), Francisco Castanon, iniciou uma gravação contra o servidor Douglas Marques, atual funcionário da pasta, acusando-o – de maneira equivocada – de abastecer veículo particular com recursos públicos. Segundo apuração do NMT – Notícias de Mato Grosso, porém, a prefeitura não mantém qualquer convênio com o estabelecimento, o que comprova que não havia abastecimento pago pelo erário.
O episódio ganhou proporção maior porque, segundo relato da vítima, Francisco Castanon teria aproveitado a situação para perseguir aquele que, meses antes, colaborou com a Polícia Civil numa investigação que apura a suposta apropriação indevida de combustível público. Castanon foi demitido da Sinfra após o início das suspeitas, e dezenas de servidores chegaram a ser intimados para depor, reforçando o peso do caso dentro da secretaria.
No vídeo inicial, gravado pelo próprio Francisco, ele aborda Douglas de forma hostil, insinuando irregularidade:
Francisco: “Mas você está usando carro público, meu irmão, para abastecer seu carro?”
Douglas: “Oi?”
Francisco: “Carro público para abastecer seu carro?”
Douglas: “Você é louco, rapaz! Rapaz! Você é louco, meu irmão!”
Francisco: “Encosta em mim! Você é louco! Encosta em mim!”

Logo após esse registro, Douglas é agredido com um soco no rosto, tendo o nariz sangrado. Ele precisou procurar atendimento e foi até a delegacia registrar o boletim de ocorrência, além de entregar o vídeo que mostra o início da discussão. Em outra gravação feita logo após a agressão, Douglas afirma:
“Aqui pessoal, olha o que o filho do Paulinho Castanon fez. Estou indo para a delegacia agora, porque ele não admite o roubo que ele fez. Então, como que eu provei que ele roubou, ele me agrediu.”
As acusações citadas por Douglas fazem referência ao inquérito conduzido pela Polícia Civil que investiga o suposto desvio de combustível da Sinfra, quando Francisco ainda integrava o quadro da secretaria. Segundo informações obtidas pela reportagem, Douglas Marques teria sido o servidor considerado peça-chave para demonstrar a irregularidade, que após seu depoimento, resultou no chamamento de diversos outros profissionais da pasta. Desde então, ele relata estar sendo alvo de intimidação indireta por parte de Castanon.
Em resposta à repercussão, Francisco Castanon publicou um vídeo nas redes sociais tentando reverter a narrativa. Ele afirma que apenas fiscalizava o uso da camionete oficial – que estava estacionada porque Douglas acompanhava o abastecimento do carro de sua esposa – e nega ser autor da agressão, apesar das imagens mostrarem o conflito deflagrado por sua abordagem. Segundo Castanon,
“quando eu fui filmar, ele surtou. […] Ele tomou meu telefone e depois partiu para via de fato. Eu não me orgulho do que aconteceu, mas não iria apanhar. Eu sou homem.”
O ex-servidor ainda tenta reforçar a tese de que possui denúncias formalizadas contra Douglas, afirmando que ele deveria estar afastado enquanto tudo é investigado. No entanto, a informação colhida pela reportagem desmente o cerne da acusação: não existe convênio entre o município e o posto CPN, o que torna impossível qualquer abastecimento irregular com dinheiro público naquele estabelecimento. Além disso, Douglas Marques possui, por função, a autorização de permanecer com a camionete da Sinfra fora do horário comercial, por atuar como plantonista, figura essencial para atender emergências de infraestrutura.
A versão apresentada por Castanon também omite o fato central da investigação em andamento: segundo fontes policiais, as denúncias feitas por ele contra Douglas nasceram logo depois que o servidor apresentou provas que o incriminavam no caso do combustível supostamente desviado. Em outras palavras, há forte indício de que a gravação e a abordagem no posto fazem parte de uma retaliação direta contra aquele que colaborou com a apuração das irregularidades.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Primavera do Leste ainda não se manifestou oficialmente sobre o episódio, nem sobre o estágio da investigação que envolve Francisco Castanon. A tendência, segundo apurou o NMT, é que o caso avance simultaneamente na esfera policial, por conta da agressão, e na esfera administrativa, envolvendo o histórico funcional do ex-servidor.







