Receita e Polícia Federal investigam uso de metanol em bebidas adulteradas em ação que atinge Mato Grosso e outros quatro Estados
Operação Alquimia busca rastrear origem do produto químico usado ilegalmente em destilarias e fábricas clandestinas de bebidas alcoólicas Foto: Reprodução
A Receita Federal, a Polícia Federal, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) deflagraram nesta quarta-feira (15) a Operação Alquimia, com o objetivo de identificar a origem do metanol utilizado na fabricação clandestina de bebidas alcoólicas adulteradas. A ação foi motivada por casos recentes de intoxicação registrados em diferentes regiões do país.
As equipes estão realizando coletas de amostras em 24 empresas localizadas em 21 municípios, distribuídos pelos Estados de Mato Grosso (Várzea Grande), Mato Grosso do Sul (Caarapó, Campo Grande e Dourados), Paraná (Araucária, Colombo e Paranaguá), Santa Catarina (Cocal do Sul) e São Paulo (Araçariguama, Arujá, Avaré, Cerqueira César, Cotia, Guarulhos, Jandira, Laranjal Paulista, Limeira, Morro Agudo, Palmital, Sumaré e Suzano).
De acordo com a Receita Federal, a operação é um desdobramento das ações Boyle e Carbono Oculto, que já haviam revelado um esquema de adulteração de combustíveis com metanol. As novas investigações indicam que o mesmo produto químico estaria sendo desviado para a produção de bebidas falsificadas.
“Há fortes indícios de que o combustível adulterado esteja sendo utilizado na fabricação clandestina de bebidas alcoólicas, o que representa grave risco à saúde pública”, informou o órgão.
As fases anteriores da investigação revelaram uma rede complexa de empresas envolvidas na manipulação irregular de metanol. A Operação Boyle apurou casos de adulteração de combustíveis, enquanto a Carbono Oculto identificou que empresas químicas regulares importavam o produto e o repassavam a empresas de fachada, que por sua vez desviavam o metanol para postos de combustíveis.
Agora, a Operação Alquimia amplia o foco e investiga importadores, terminais marítimos, indústrias químicas, destilarias e usinas, com o objetivo de rastrear toda a cadeia de circulação do metanol — desde a importação até o uso ilegal em bebidas. Em alguns casos, as notas fiscais indicavam caminhões e motoristas inexistentes, o que reforça a suspeita de fraude documental e desvio de carga.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o metanol, quando presente em bebidas alcoólicas, deve estar em níveis inferiores a 0,1%. Concentrações superiores podem causar cegueira, insuficiência respiratória e até a morte. Em combustíveis, a presença máxima permitida é de 0,5%, proporção que, se ingerida, já representa alto risco de intoxicação. Por esse motivo, o uso de combustíveis ou componentes industriais na fabricação de bebidas é terminantemente proibido.
A operação segue em andamento, e as amostras coletadas serão submetidas a análises laboratoriais para comparar a composição química do metanol apreendido com o encontrado nas bebidas falsificadas.