Pesquisadoras da Universidade Federal de Rondonópolis desenvolvem fertilizante sustentável com cinza vegetal para agricultura familiar
Projeto alia inovação, baixo custo e aproveitamento de resíduos para fortalecer pequenos produtores em Rondonópolis Foto: Reprodução
Pesquisadores da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) desenvolveram uma tecnologia inédita para a produção de fertilizantes a partir da cinza vegetal — resíduo comum na queima de madeira em indústrias da região. A proposta, voltada principalmente para a agricultura familiar, busca reduzir custos com insumos, promover o aproveitamento de resíduos agroindustriais e incentivar práticas sustentáveis no campo.
O projeto é coordenado pela professora doutora Edna Bonfim da Silva, da área de Ciências Agrárias, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), por meio do edital “Mulheres e Meninas na Computação, Engenharias e Ciências Exatas e da Terra”. A iniciativa reúne docentes e alunos dos cursos de Engenharia Agrícola e Ambiental e Engenharia Mecânica da UFR.
O principal resultado da pesquisa é a construção e ajuste de um granulador de disco rotativo, equipamento que transforma fertilizantes organominerais em grânulos prontos para aplicação agrícola. Esses fertilizantes são compostos pela mistura de adubos minerais com materiais orgânicos, como a cinza vegetal — que deixa de ser resíduo e passa a ter papel ativo na fertilização do solo.
O equipamento foi projetado com foco na simplicidade e funcionalidade: fácil de montar, operar e manter, com ajustes variáveis de inclinação e rotação. A tecnologia permite a produção do fertilizante diretamente nas propriedades rurais, eliminando a dependência de insumos externos e promovendo autonomia aos produtores.
A pesquisa foi desenvolvida em três fases: construção do equipamento e testes de funcionamento em laboratório; formulação e análise química dos fertilizantes; e, por fim, a aplicação prática na cultura do feijão-caupi, com experimentos realizados tanto em ambiente controlado quanto em campo aberto.
Durante os testes, foram analisadas variáveis como produtividade da planta, qualidade do solo, desenvolvimento radicular e eficiência no uso da água. Os resultados preliminares demonstraram que o fertilizante à base de cinza vegetal pode competir com os adubos convencionais, com ganhos ambientais e econômicos.
A tecnologia também tem caráter educacional e social. Foi apresentada a estudantes e pequenos produtores por meio de módulos de extensão rural, promovendo a transferência de conhecimento e a inclusão de mulheres na ciência e nas engenharias — uma das premissas do projeto.
O grupo da UFR está finalizando o pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), tanto para o granulador quanto para o processo de produção do fertilizante granulado.
“A iniciativa representa um avanço nas práticas de manejo agrícola em pequenas propriedades e reforça o papel da pesquisa científica como aliada do desenvolvimento regional e da sustentabilidade no campo”, destacou a professora Edna Bonfim.