• 26 de junho de 2025
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Morre Clark Olofsson, símbolo da Síndrome de Estocolmo que ainda intriga a ciência

Criminoso sueco que inspirou o nome da síndrome morreu aos 78 anos; fenômeno psicológico desafia especialistas e segue sendo observado em sequestros, relações abusivas e cativeiros emocionais
Foto: Reprodução

O sueco Clark Olofsson, figura central no caso que deu origem ao termo Síndrome de Estocolmo, morreu nesta quinta-feira (26), aos 78 anos, em Estocolmo. Olofsson ficou mundialmente conhecido após o assalto ao banco Kreditbanken, em 1973, quando quatro reféns passaram a demonstrar empatia e até defesa pública pelos sequestradores — entre eles, o próprio Clark, que já era um criminoso reincidente de alta periculosidade na Europa.

A situação inusitada levou psicólogos, jornalistas e a polícia sueca a identificarem um padrão que, décadas depois, se tornaria um conceito recorrente nos estudos sobre comportamento humano em situações de extremo estresse. Nascia ali o que seria popularizado como Síndrome de Estocolmo — quando a vítima, em vez de odiar o agressor, cria laços afetivos com ele.

O laço entre o medo e o afeto

A síndrome, embora ainda não reconhecida oficialmente pelo Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), tem sido estudada amplamente por psicólogos, criminologistas e profissionais da saúde mental. O fenômeno é interpretado como uma resposta psicológica de sobrevivência, em que a vítima, subjugada pelo medo e pela impotência, projeta segurança no próprio agressor, criando um vínculo emocional para evitar agressões ou manter algum nível de controle simbólico sobre a situação.

Clark Olofsson, por sua vez, passou a vida entre prisões, fugas e aparições públicas controversas, alimentando a aura de ambiguidade que o cercava. Sua morte, noticiada pela imprensa sueca e repercutida internacionalmente, reacende a discussão sobre um fenômeno que, embora raro, continua presente em contextos de violência ao redor do mundo — inclusive no Brasil.

Síndrome de Estocolmo no Brasil: números e desafios

Casos concretos da síndrome em território brasileiro são pouco reportados, em parte pela dificuldade de diagnóstico e pela complexidade emocional envolvida. No entanto, estimativas de especialistas apontam que de 10% a 12% das vítimas de sequestros prolongados no país apresentam comportamentos compatíveis com o transtorno — especialmente quando há vínculo anterior ou relações de poder assimétricas.

No contexto da violência doméstica, o fenômeno também é observado com frequência. Vítimas que insistem em defender seus agressores, relutam em denunciá-los ou até justificam o comportamento violento costumam apresentar traços psicológicos semelhantes aos identificados em reféns de cativeiros reais.

“Nem sempre é amor. Muitas vezes, é trauma”, explica a psicóloga forense Renata Braga, consultora em casos de vítimas de sequestro. “A pessoa encontra no agressor o único elo de previsibilidade dentro de uma realidade violenta. A confusão emocional é profunda.”

Casos famosos pelo mundo

Além do sequestro original em Estocolmo, outros episódios ajudaram a consolidar o conceito:

  • Sequestro do voo TWA 847 (1985), quando reféns expressaram simpatia pelos sequestradores.
  • Caso Natascha Kampusch (Áustria, 1998-2006), em que a vítima, mesmo após anos de cárcere, revelou sentimentos ambíguos em relação ao sequestrador.
  • Casos envolvendo tráfico de pessoas, abusos religiosos e cultos, onde a coerção emocional assume contornos de lealdade afetiva.

Um legado que ainda incomoda

Clark Olofsson nunca assumiu papel direto como criador do fenômeno, mas tornou-se, involuntariamente, símbolo de uma das reações humanas mais paradoxais em situações de violência. Mesmo décadas depois, o caso segue sendo estudado em universidades, relatórios de segurança e diretrizes para atendimento a vítimas de traumas.

No Brasil, o fenômeno continua desafiando políticas públicas de acolhimento psicológico. Profissionais de saúde e segurança relatam que o rompimento da vítima com o agressor — quando há vínculo emocional — costuma ser mais difícil que o resgate físico em si.

O que aprendemos com a morte de Olofsson

Mais do que o fim da vida de um criminoso histórico, a morte de Clark Olofsson é o fechamento simbólico de um capítulo que, na verdade, ainda está longe de terminar. A Síndrome de Estocolmo continua presente em sequestros reais, mas também em cárceres emocionais, em relacionamentos violentos e nas estruturas de poder que oprimem silenciosamente.

Entender esse fenômeno não é apenas uma curiosidade psiquiátrica: é um passo essencial para acolher vítimas com empatia, evitar julgamentos apressados e oferecer o suporte que elas precisam — mesmo quando a dor vem disfarçada de apego.

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