Guerra Digital em 2026 – A Democracia Está Preparada?
A nova arena política não é mais a TV. É o feed. Foto: Divulgação
Se ainda restavam dúvidas, a entrevista concedida por Marcelo Senise à Rádio Metrópoles 104,1 FM de Brasília no último domingo, 8 de junho deixou claro: o pleito de 2026 será travado não apenas nas urnas, mas no campo nebuloso e imprevisível das redes sociais — uma verdadeira guerra digital.
Concordo plenamente com o colega. O que se desenha à frente não é apenas uma disputa política, mas uma reconfiguração profunda da forma como se constrói opinião, se moldam narrativas e se manipula a verdade.
Durante a entrevista, Marcelo alertou:
“Vimos o que a inteligência artificial foi capaz de fazer nas eleições dos Estados Unidos, colocando a maior democracia do planeta de joelhos. O mesmo ocorreu no Brexit, com a mais antiga democracia da era moderna. O Brasil, sendo uma democracia jovem, precisa compreender que regulamentar não é censurar — é estabelecer as regras do jogo.”
Essa constatação é tão incisiva quanto alarmante.
Plataformas no centro do jogo
O que me preocupa cada vez mais é o protagonismo crescente das grandes plataformas digitais — Google, X, Kwai — em eventos políticos.
Vale lembrar o caso mais emblemático disso foi o seminário realizado pelo PL, nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2025, em Brasília.
Com workshops voltados à estratégia digital para as eleições de 2026, o evento deixou claro que as redes não são mais coadjuvantes, mas agentes centrais no processo político.
As velhas narrativas já não funcionam
O cenário já aponta os primeiros sinais dessa nova guerra.
As narrativas tradicionais — polarização, comunismo, o medo de que o Brasil se torne uma “Venezuela em seis meses” — perderam força. Simplesmente, não colam mais.
A comunicação política evoluiu, e com ela, surgem novas histórias, novas estratégias, novos riscos.
Mas será que estamos preparados para lidar com isso?
É preciso, agora mais do que nunca, refletir: essas novas narrativas favorecem a democracia ou a ameaçam?
A pergunta é incômoda, mas inevitável.
Liberdade de expressão não pode ser escudo para a desinformação
A liberdade de expressão, embora essencial, vem sendo frequentemente usada como escudo para práticas perigosas: disseminação de discursos de ódio, manipulação de informações e mentiras travestidas de opinião.
Em vez de fomentar o debate democrático, esse princípio está sendo distorcido por aqueles que desejam esconder suas verdadeiras intenções e fragilizar as instituições.
Estamos assistindo a uma inquietante inversão de valores.
A liberdade de expressão — que deveria promover o diálogo — está sendo usada como instrumento para proteger narrativas extremistas e enfraquecer o tecido democrático.
Esse é um alerta que não pode ser ignorado.
Regulação não é censura — é proteção à democracia
Por isso, é vital que tenhamos clareza sobre os limites e as regras desse novo jogo digital.
E é justamente nesse contexto que ganha importância o julgamento em curso no STF sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet — ponto central de um possível marco regulatório para as plataformas.
O debate na Corte é plural: ministros como Dias Toffoli e Luiz Fux defendem ampliar a responsabilidade das redes; Luís Roberto Barroso propõe uma abordagem intermediária; André Mendonça alerta para os riscos à liberdade; enquanto Gilmar Mendes ressalta que a regulação deve ser feita com cautela.
Mas é fundamental compreendermos: A regulamentação não é — e nem deve ser — censura.
É estabelecer regras claras, com fiscalização rigorosa, para garantir que o espaço digital continue sendo um território de livre expressão — e não de dominação algorítmica e manipulação em massa.
Só com transparência, sobrevivemos
A democracia, mesmo quando atravessa momentos de fragilidade, sobrevive quando o cidadão compreende o processo, entende as intenções dos atores envolvidos e tem confiança para questionar.
E é exatamente isso que está em jogo.
Se queremos proteger o debate público, fortalecer as instituições e garantir eleições verdadeiramente livres, precisamos encarar a guerra digital com seriedade e atuar com urgência.
Porque essa guerra já começou.
Ilson Galdino – Advogado e Servidor Público.