Os crocodilos não hibernam como os mamíferos. Em vez disso, entram em um estado de dormência chamado brumação, caracterizado por longos períodos de inatividade, nos quais suas funções metabólicas diminuem drasticamente e o movimento se torna raro. Em Primavera do Leste, um fenômeno semelhante parece ter ocorrido — não nos rios ou nas matas, mas dentro do Legislativo municipal.

Depois de sete anos em aparente letargia política, o vereador conhecido como “Crocodilo” voltou à superfície da vida pública com mais uma “descoberta”. Se antes espantou-se com as ruas BH e Florianópolis, agora, com olhar de surpresa, revela à população que falta moradia popular no município. A constatação, claro, não veio de um relatório técnico ou de anos de mandato: foi fruto de uma visita ao setor de Habitação da Prefeitura.

“Recebi várias demandas e também cobranças sobre as casas que foram construídas no município. Foram 5.252 pessoas que foram agendadas. Só que fizeram o cadastro aqui na habitação 2.112 famílias. Foram selecionadas 100 famílias. Dessas 100, 50 vão ser contempladas por essas casas”, declarou o parlamentar, como se estivesse trazendo à tona um dado sigiloso, até então oculto dos olhos da população.

Segundo ele, a equipe da Habitação informou que a entrega das 50 casas está prevista para até o final de julho. Trata-se da primeira etapa do programa habitacional da gestão do prefeito Sérgio Machnic (PL), cuja meta assumida é entregar 5 mil casas populares até o fim do mandato — uma promessa de campanha e também sua principal bandeira administrativa.

Mesmo assim, o vereador resolveu fazer um apelo público:
“Peço também aqui ao Poder Público, através do nosso prefeito, também o governo federal e estadual, por favor, por fazer mais casas populares. Nós temos hoje um índice na cidade de mais de 10 mil famílias que estão de baixa renda que precisam ter moradia para poder realmente viver em Primavera do Leste, que é um custo muito alto. Então o trabalho nosso é sempre isso, tá? Sempre cobrando e reivindicando o Executivo. Vem com a gente!”

A súbita preocupação habitacional do vereador causa estranheza justamente porque passou anos sem se manifestar sobre o tema — nem quando as promessas não saíam do papel, nem quando o déficit habitacional atingiu patamares alarmantes. Apenas em dezembro de 2023, conforme divulgado pelo site NMT, 30 casas foram efetivamente entregues à população — um número simbólico diante da demanda reprimida de milhares de famílias.

Agora, resta saber se o vereador manterá o atual estado de vigília ou se voltará à brumação política até a próxima “descoberta urbana” — talvez a ausência de creches, o drama do transporte público, ou quem sabe, a existência da fila da saúde.

Porque em Primavera do Leste, até crocodilo tem hora pra acordar.