• 23 de maio de 2025
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EDUCAÇÃO

Analfabetismo funcional atinge 29% dos brasileiros e compromete democracia e combate à desinformação

Levantamento nacional revela estagnação no índice de alfabetização plena; cenário agrava a polarização política e facilita a propagação de fake news
Foto: Reprodução

O Brasil segue enfrentando um grave problema educacional com profundas consequências políticas e sociais: o analfabetismo funcional. Segundo a mais recente edição do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgada em maio de 2025, 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos não consegue interpretar textos simples nem realizar operações matemáticas básicas — o mesmo índice registrado em 2018.

A pesquisa foi realizada em todo o território nacional, com metodologia consolidada pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. O levantamento mensura não apenas a capacidade de leitura, mas também o domínio da escrita, da compreensão de textos e do raciocínio lógico aplicados à vida cotidiana.

O cenário também evidencia desigualdades raciais e sociais. Enquanto 63% da população preta e parda é considerada funcionalmente analfabeta, esse número cai para 34% entre os brancos. Além disso, o levantamento revelou que até mesmo entre brasileiros com ensino superior completo, 12% não dominam plenamente habilidades básicas de leitura e escrita.

Esse dado desmistifica a ideia de que o analfabetismo funcional é um problema exclusivo das camadas menos escolarizadas da população. Muitas pessoas com diploma universitário, profissão estabelecida e até sucesso financeiro podem ser analfabetas funcionais. Elas sabem ler, mas não compreendem com profundidade. Sabem escrever, mas não conseguem organizar ideias de forma crítica. Sabem calcular, mas não aplicam o raciocínio matemático a situações cotidianas.

Trata-se de um tipo de limitação muitas vezes invisível, mas que afeta diretamente a capacidade de análise, de argumentação e de participação plena na vida democrática. E o mais inquietante: o analfabeto funcional muitas vezes não sabe que é. O leitor, mesmo com boa formação, pode se perguntar — com honestidade — se é capaz de compreender com profundidade uma reportagem extensa, um gráfico técnico, uma legislação básica ou um contrato. Essa reflexão é necessária.

Outro dado preocupante do Inaf 2025 é que entre os jovens de 15 a 29 anos, a taxa de analfabetismo funcional subiu de 14% para 16% em seis anos, indicando o agravamento do problema mesmo entre aqueles que passaram por toda a formação básica já no século 21. A pandemia de Covid-19, que afastou milhões de alunos do ensino presencial por quase dois anos, é apontada como uma das principais causas desse retrocesso.

A desinformação, alimentada pelas redes sociais e aplicativos de mensagens, encontra terreno fértil em um país com baixa compreensão textual. Nas últimas eleições, conteúdos falsos com estrutura simples, apelos emocionais e linguagem acessível tiveram altíssimo alcance, sobretudo entre públicos com menor escolarização. A alfabetização funcional, nesse contexto, torna-se essencial para o fortalecimento da democracia.

Mas o problema não se limita à educação. O analfabetismo funcional atua como base silenciosa de um fenômeno ainda mais complexo: a radicalização ideológica. No Brasil atual, a polarização política transformou o debate público em um campo minado por rótulos e simplificações. Quando o sujeito é de direita, tende a apontar o “analfabeto” como sendo de esquerda. Quando é de esquerda, faz o mesmo com quem pensa diferente. Poucos, no entanto, possuem capacidade crítica para olhar para si mesmos e reconhecer suas próprias limitações.

Essa incapacidade de autocrítica revela um traço preocupante da cultura política nacional: além do abismo criado pelo analfabetismo funcional, ainda se multiplicam bolhas ideológicas que não apenas isolam os indivíduos, mas agem deliberadamente para que eles não pensem. Em vez de promover o diálogo e a reflexão, essas bolhas reforçam crenças pré-estabelecidas, criando um ambiente hostil ao pensamento livre e à construção de consensos.

Diante desse quadro, o governo federal lançou em 2024 o “Pacto EJA”, destinando R$ 120 milhões à Educação de Jovens e Adultos. A medida, embora necessária, ainda é insuficiente frente à profundidade do problema. Em um país onde quase um terço da população adulta não compreende plenamente o que lê, o desafio não é apenas educacional, mas também ético, institucional e civilizacional. Trata-se de garantir não só o direito à leitura, mas o direito de pensar.

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