De acordo com pesquisa realizada pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o preço do leite pago ao produtor registrou uma alta de 3,3% em fevereiro, atingindo R$ 2,7734 por litro, na média Brasil. Em comparação com o mesmo mês de 2024, o aumento foi de 18,1%, considerando valores deflacionados pelo IPCA de fevereiro. Este é o segundo mês consecutivo de valorização do leite cru, reflexo de uma acirrada competição entre as indústrias pela matéria-prima.

A intensificação da concorrência no setor se deve à diminuição da oferta de leite, que foi agravada por condições climáticas adversas em diversas bacias leiteiras, como seca e calor extremo. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) apresentou uma queda de 4,6% de janeiro para fevereiro, impulsionada por uma redução de 6% nos estados do Sul, 9% em Goiás e 4% em São Paulo. Minas Gerais e a Bahia também registraram recuos, embora menores, de 1,3% e 0,3%, respectivamente.

Simultaneamente, o mercado final de lácteos experimentou uma recuperação em fevereiro, com aumento na demanda, o que, combinado ao crescimento no preço do leite cru, resultou na valorização do leite UHT e do queijo muçarela no atacado paulista.

Apesar da redução na oferta interna, as exportações de lácteos registraram um aumento expressivo de 27% de janeiro para fevereiro, alcançando 6,2 milhões de litros em equivalente leite. Em contrapartida, as importações também seguiram tendência de alta, com crescimento de 3,76%, totalizando 216,2 milhões de litros em equivalente leite.

A expansão das importações gera preocupações no setor, especialmente em relação à possibilidade de repassar o aumento dos custos da matéria-prima para os preços dos derivados. Agentes do mercado indicaram que, após os reajustes nos preços dos derivados de leite em fevereiro, houve maior dificuldade nas negociações com os canais de distribuição em março. A pressão de preços mais baixos nos lácteos importados, que são mais competitivos, aliada à queda no consumo devido ao aumento dos preços nos pontos de venda, limita a margem de lucro das indústrias de laticínios.

No entanto, há uma perspectiva otimista quanto à recuperação da produção de leite nos próximos meses. Com o fim do período de entressafra e condições climáticas mais favoráveis em março, aliados a investimentos no setor, espera-se um aumento na oferta, especialmente em bacias leiteiras mais intensificadas. Caso esse cenário se concretize, o movimento de valorização do leite pode perder força nos próximos meses.

Fonte: Portal do Agronegócio