• 23 de março de 2025
#Ciência e tecnologia

Camila Cherem: A cientista que revela os segredos da Amazônia com o apoio das populações locais

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Camila Cherem, bióloga e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), é uma das vencedoras do Prêmio Mulheres e Ciências, na categoria Trajetória. Com uma carreira marcada pela dedicação à biogeografia e à biodiversidade da Amazônia, Camila não apenas desbrava as florestas e rios da região, mas também abraça as populações que nelas vivem. Sua história é um exemplo de paixão pela ciência, coragem para quebrar barreiras e um profundo compromisso com a preservação da natureza.

Desde cedo, Camila foi fascinada pela natureza. “Sempre gostei da natureza e dos ambientes naturais. Por isso, estudar a natureza foi uma decisão muito fácil para mim”, revela. Criada em um ambiente em que não havia pressão para seguir uma profissão lucrativa, ela encontrou na biologia um caminho que lhe proporcionava a liberdade de explorar o que mais a encantava. “Quando decidi que queria estudar a natureza, pensei que poderia ser livre para fazer o que eu quisesse com a minha vida”, conta, enfatizando a importância dessa liberdade para a sua realização profissional.

Para Camila, trabalhar no que se ama não tem preço. “Sou muito grata todos os dias por poder acordar e continuar meu trabalho. Claro, às vezes há algumas burocracias que não gostamos de lidar, mas, no geral, meu trabalho é um privilégio”, confessa. Ela acredita que o prazer de fazer o que gosta, com o intuito de contribuir para algo maior, é o que torna sua dedicação ainda mais significativa. “O trabalho de pesquisadora no INPA me dá a liberdade de seguir o que acredito ser valioso, o que impacta diretamente na qualidade do meu trabalho”, afirma.

Barreiras para o feminino

Camila reconhece a sorte que teve ao longo de sua carreira. Após realizar seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP) sob a orientação da doutora Cristina Miak, ela encontrou uma mentora que, para ela, foi crucial para minimizar as barreiras que a ciência impõe às mulheres. “A Cris é uma pessoa extremamente gentil e acolhedora, o que fez uma diferença enorme no meu doutorado. Ela sempre nos fez sentir parte, sem nos sentirmos menosprezadas ou menores por sermos mulheres na ciência”, conta, visivelmente grata pela orientação de sua mentora.

Hoje, Camila se vê como uma mulher privilegiada, ciente das dificuldades que outras cientistas enfrentam. “Sinto que consegui traçar um caminho dentro de uma sociedade essencialmente machista de maneira bastante privilegiada. Reconheço que tive muita sorte nesse processo, principalmente pelas pessoas ao meu redor, que me ajudaram e apoiaram ao longo do caminho”, admite.

Dedicação e paixão pela Amazônia

Seu trabalho, no entanto, vai além da pesquisa acadêmica. Desde que se mudou para Manaus, Camila se dedica a estudar a Amazônia, seus processos evolutivos e a biodiversidade única desta região, essencial para o equilíbrio ambiental global. “Nos últimos 15 anos, tenho me dedicado a entender como a Amazônia se formou, como esse ambiente incrível existe até hoje e como tem sido afetado”, explica. Para ela, entender as interações entre a fauna, flora e os fatores ambientais é uma missão de vida.

O que realmente dá sentido a sua pesquisa, no entanto, são as experiências vividas em campo, acompanhada de populações indígenas e ribeirinhas. “O que eu mais gosto de fazer quando não estou no escritório trabalhando é estar na floresta, caminhando nos rios da Amazônia. E, ultimamente, por um grande privilégio, muitas vezes faço isso acompanhada de populações indígenas e ribeirinhas, que são meus principais companheiros de campo hoje em dia”, diz com entusiasmo.

Para ela, essas populações são as verdadeiras guardiãs do conhecimento profundo sobre a floresta. Conhecimento que é muitas vezes ignorado pelo sistema científico tradicional. “Essas pessoas são incríveis, com um conhecimento vasto sobre a região”, afirma, destacando a importância de reconhecer e valorizar esse saber.

Camila considera que a ciência brasileira precisa se abrir para uma visão mais plural, que inclua saberes locais. “A ciência brasileira é essencialmente europeia e precisa se tornar mais indígena, mais ribeirinha. Ela precisa reconhecer os conhecimentos das populações que vivem nos ambientes brasileiros”, afirma.

A maternidade

Além do seu trabalho como cientista, Camila tem uma vida pessoal igualmente marcante. Mãe de duas filhas, ela acredita que a maternidade foi um fator essencial para seu fortalecimento pessoal e profissional. “Ser mãe me fez muito mais forte, mais resiliente, mais responsável e mais capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo”, compartilha. No entanto, ela também observa os desafios que a ciência ainda precisa enfrentar para se adaptar às necessidades das mulheres. “As mulheres ainda são uma minoria que precisa ser tratada como um grupo em desvantagem”, afirma.

No reconhecimento recebido através do Prêmio Mulheres e Ciências, Camila vê o retorno do seu esforço e a força das populações amazônicas. “Quero que essa premiação seja o reconhecimento não só do esforço para gerar conhecimento sendo mulher no Norte do Brasil, mas também da força da população da Amazônia para estudar e proteger a região com soberania e excelência científica”, afirma, com um olhar voltado para o futuro.

Camila Cherem é uma mulher que, além de desbravar os segredos da Amazônia, luta para que a ciência brasileira se torne mais inclusiva e conectada com as realidades locais. Seu trabalho, tanto no campo quanto no laboratório, é uma verdadeira celebração da Amazônia, das pessoas que nela vivem e do conhecimento que, por muito tempo, foi marginalizado. Ela estuda a floresta e se dedica a proteger e valorizar a rica biodiversidade da região, com o apoio daqueles que, com tanto amor, a conhecem como ninguém.

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

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