• 14 de março de 2025
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A Política em Fluxo

O Jogo de Percepção e Realidade no PL de Rondonópolis

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A relação entre percepção e verdade atravessa toda a história da filosofia. Heráclito, um dos primeiros a abordar esse dilema de forma radical, afirmou no Fragmento 101:

“Os olhos e os ouvidos são maus testemunhos para aqueles que têm almas bárbaras.”

A questão é inquietante: podemos confiar em nossos sentidos?

Para Heráclito, o mundo está em constante transformação, e aquilo que percebemos nunca é fixo.

A ilusão não reside apenas nos sentidos, mas na tentativa de capturar o real como algo estático.

Platão buscou superar essa questão com sua Teoria das Ideias, separando o mundo sensível da realidade inteligível.

Kant, por sua vez, sugeriu que o conhecimento depende das categorias do entendimento, reconhecendo que a realidade nos escapa tal como é em si mesma.

Mas e na política? O que podemos conhecer em um cenário que nunca é o mesmo?

O mesmo dilema se aplica ao Partido Liberal (PL) em Mato Grosso, especialmente em Rondonópolis.

Aquilo que parecia uma simples estratégia eleitoral – desvincular-se dos políticos que construíram a história do PL no Estado e na cidade – revelou-se uma mudança estrutural.

Cláudio Ferreira (PL), prefeito eleito e declarado bolsonarista, apresentou-se como a “renovação”, prometendo romper com a velha política.

A estratégia gerou grande expectativa em eleitores cansados do modelo tradicional e, assim, sagrou-se vitorioso.

Com habilidade, garantiu maioria no legislativo e consolidou a Presidência da Câmara em um aliado do mesmo grupo político.

No entanto, a percepção criada durante a campanha está se confirmando na prática.

Não era apenas uma estratégia eleitoral, mas um rompimento concreto com a Executiva estadual do partido, liderada pelo ex-prefeito de Rondonópolis e atual secretário de Governo na gestão Abílio, em Cuiabá, Ananias Filho.

Diferentemente do prefeito Abílio, que busca apoio em Brasília e estreita laços com o Senador do PL, Ferreira segue em sentido oposto.

Ao fragilizar as conexões estratégicas do partido e isolar membros da Executiva, a ausência do presidente regional em articulações políticas locais e estaduais se torna evidente.

Esse distanciamento pode comprometer futuras filiações de candidatos que visam ingressar no PL por influência do bolsonarismo, um movimento distinto do partido.

Embora o bolsonarismo e o PL tenham se cruzado politicamente após Bolsonaro se filiar ao partido em 2021, suas essências são distintas.

O bolsonarismo é um movimento ideológico e personalista, centrado na figura de Bolsonaro e em pautas conservadoras, nacionalistas e populistas.

O PL, por outro lado, é um partido pragmático, fundado em 1985, que historicamente abrigou lideranças de diferentes espectros ideológicos e adotou um posicionamento flexível conforme os interesses políticos do momento.

Enquanto o bolsonarismo se apoia em forte ativismo digital e militância organizada, o PL opera por meio de articulações institucionais.

A liderança do bolsonarismo está concentrada na família Bolsonaro, enquanto o PL possui dirigentes independentes, que nem sempre seguem todas as diretrizes do movimento.

Na economia, o bolsonarismo defende um liberalismo moderado, com eventuais intervenções estatais, ao passo que o PL já teve representantes alinhados a diferentes visões econômicas, incluindo posturas fisiológicas.

Em resumo, o bolsonarismo é um movimento político personalista e ideológico, enquanto o PL é uma legenda pragmática, sempre posicionada estrategicamente no centro do jogo político brasileiro.

O presidente nacional do partido, Valdemar da Costa Neto, mantém essa habilidade de articulação, buscando estar na base da governabilidade do país.

Assim como para Heráclito o mundo está em constante mudança, na política as transformações ocorrem com velocidade ainda maior.

A ilusão não está apenas na percepção sensorial, mas na tentativa de fixar a política como algo estático.

Quem não compreende essa dinâmica corre o risco de se perder ao longo do caminho.

O empresário Eraí Maggi alertou: “Não é só chegar e sentar na janela.”

Para ser um candidato competitivo pelo PL, não basta ostentar proximidade com Bolsonaro ou abraçar os valores do bolsonarismo.

É preciso carisma, habilidade de articulação e consistência política.

Voltemos a Heráclito: “Os olhos e os ouvidos são maus testemunhos para aqueles que têm almas bárbaras.” Em política, a simples percepção não basta.

A ruptura do grupo liderado por Cláudio Ferreira pode não ter força suficiente para impor candidaturas estaduais e federais.

Lembrando que Rodrigo da Zaeli, antes preterido pelo grupo, num “passe de mágica”, se tornou deputado federal e agora é um postulante legítimo à reeleição.

Essa distinção é crucial em Rondonópolis. Ferreira, mesmo assumindo o rótulo de bolsonarista, parece estar em desacordo com a própria estrutura partidária, o que pode inviabilizar projetos futuros.

O rompimento com o grupo estadual enfraquece o PL municipal, dificultando a construção de uma chapa competitiva para 2026.

Neste cenário, enquanto Ferreira se isola, Wellington Fagundes se fortalece, consolidando sua posição como uma liderança estadual capaz de articular alianças estratégicas.

Com cinco possíveis nomes na disputa pelo Palácio Paiaguás – Wellington Fagundes (PL), Pivetta (Republicanos), Jayme Campos (União Brasil), Zé do Pátio (PSB) e Odílio Balbinotti (sem filiação partidária) –, aumentam as chances de “chapas puras”, o que beneficiaria Fagundes, possivelmente formando uma composição com a Vereadora Samantha, esposa do prefeito Abílio – em um cenário semelhante ao de 2003, quando Iraci França, esposa do então prefeito Roberto França, tornou-se vice-governadora na gestão de Blairo Maggi.

Para o PL em Rondonópolis, o desafio está em equilibrar a força do bolsonarismo com a pragmática estrutura partidária.

Sem essa harmonia, o partido corre o risco de perder espaço político, inviabilizar candidaturas e, principalmente, enfraquecer sua própria relevância no cenário estadual e nacional.

O futuro do PL em Rondonópolis dependerá não apenas de promessas de renovação, mas de articulações que unam percepção e realidade, fortalecendo o partido sem rupturas desnecessárias.

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