• 17 de março de 2025
#Saúde

Profissionais da Saúde de Cabo Verde e Guiné-Bissau contam como tiveram as vidas transformadas pelo EpiSUS

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No evento de abertura das comemorações dos 25 anos do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS – EpiSUS, dois profissionais da Saúde contaram suas experiências, desafios e superações durante o período de formação no nível avançado do programa.

O EpiSUS oferece vagas afirmativas para pessoas de países lusófonos desde 2017. Até o momento, três profissionais da Guiné-Bissau se formaram no nível avançado (14ª e 15ª turmas). Atualmente, Janilza Silveira, de Cabo Verde, e Benvindo Sá, da Guiné-Bissau estão em treinamento. Os países são responsáveis por selecionar e indicar seus candidatos, que passam por etapas como entrevistas, análise do histórico profissional e definição de objetivos a partir do treinamento.

O aprendizado adquirido no Brasil acompanha os profissionais quando voltam aos países de origem, beneficiando não apenas as trajetórias pessoais, mas, também, as comunidades. E, quando outros países precisarem – sejam vizinhos ou até mesmo o Brasil –, estarão prontos para auxiliarem.

População vulnerável

Com um mestrado na Inglaterra, um estágio pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta e uma pós-graduação em Saúde Pública, quando pisou em solo brasileiro pela segunda vez, a cabo-verdense Janilza trazia na bagagem não só títulos, mas um olhar cada vez mais aguçado para a vigilância epidemiológica. No entanto, foi no EpiSUS que ela encontrou o que tanto buscava: um aprendizado que se dava no calor dos surtos, na rua, no contato direto com populações vulnerabilizadas.

Sua primeira experiência de campo foi em um surto de hepatite A na Região Sul do Brasil. Mais do que mapear os casos, Janilza e equipe identificaram algo que poderia ter passado despercebido – a doença atingia de forma desproporcional pessoas em situação de rua. “Poder demonstrar que era necessário um olhar específico para essa população vulnerável, foi algo muito significativo para mim”, recorda.

Apesar da experiência internacional e da familiaridade com o Brasil, mudar-se novamente não foi simples. “É um esforço porque precisei pausar o trabalho que eu fazia para me dedicar a um período mais acadêmico, mas sei que isso será aplicado na prática e trará benefícios”. O futuro já está traçado: voltar para Cabo Verde e aplicar tudo o que aprendeu. Além de fortalecer o Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), quer contribuir para a formação de novos epidemiologistas em seu país. “Pretendo continuar trabalhando no Programa de Epidemiologia de Campo em Cabo Verde (EpiCV) e aplicar um pouco do que aprendi no Brasil”.

Progresso dos colegas

Se a pandemia de Covid-19 transformou o mundo, na vida de Benvindo Sá ela foi um divisor de águas. Médico de formação, atuava na assistência clínica quando foi chamado para integrar a equipe de resposta rápida na Guiné-Bissau. Foi ali, lidando diretamente com surtos, que entendeu que seu caminho era a epidemiologia de campo.

A decisão de ingressar no EpiSUS veio com a influência de um colega que já havia passado pelo programa. “Vendo o progresso dos colegas que fizeram o EpiSUS aqui, percebi que eles estavam contribuindo bastante para o sistema de saúde do nosso país. Os resultados eram palpáveis, dava para ver a diferença que faziam”, conta.

Envolvido nas atividades de combate à pandemia, Benvindo logo se interessou pela proposta. Ingressou e concluiu o nível intermediário, ofertado na Guiné-Bissau. Depois, soube que o programa também disponibilizava vagas para países lusófonos no nível avançado. “Comecei a pesquisar mais sobre o EpiSUS, vi a experiência do programa ao longo do tempo e como ele formava profissionais que depois poderiam apoiar outros países”, conta. A familiaridade pela língua portuguesa o fez optar pelo programa brasileiro.

Apesar dos desafios, ele considera a experiência gratificante. “O EpiSUS tem sido uma experiência valiosa porque me permite aprender fazendo”, descreve. “Aqui, estou tendo essa oportunidade de fato, colocando em prática aquilo que aprendi há algum tempo, mas não tive a chance de aplicar antes”.

O aprendizado veio de forma rápida e intensa. “Meu primeiro campo no Brasil foi em Santa Catarina, investigando um surto de febre do oropouche. Depois, fui para o sul da Bahia apoiar uma investigação sobre varicela em uma aldeia indígena”. Mas foi no Pará, liderando uma investigação sobre meningite, que sentiu o peso da responsabilidade. “Foi um grande desafio conduzir tudo em um país com um sistema de saúde diferente, lidando com equipes que têm uma outra dinâmica e modos de lidar com a situação”. E conclui: “Assim que terminar a formação, pretendo voltar e contribuir com o fortalecimento do sistema de saúde [do meu país], assim como os colegas que já passaram por esse programa. Esse é o objetivo do EpiSUS: qualificar profissionais para fortalecer os sistemas de saúde dos países, especialmente os lusófonos”. 

Felipe Moraes
Ministério da Saúde

Fonte: Ministério da Saúde

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