Projeto de restauração de ecossistemas amazônicos é validado junto a comunidades tradicionais do Amazonas e Pará
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O projeto ‘Restauração de Áreas Alagáveis e Outros Importantes Ecossistemas Amazônicos’ foi validado junto a comunidades locais na quinta-feira (27/02) realizado no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé (AM). Participaram lideranças comunitárias dos estados do Amazonas e Pará e representantes das instituição envolvidas. A validação ocorreu após a construção coletiva que envolveu as instituiões e as comunidades onde as ações serão implementadas.
O projeto é uma parceria do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Coordenação-Geral de Ciência do Clima, com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Instituto Mamirauá. O financiamento é do Fundo Global do Meio Ambiente (GEF).
“Temos convicção de que a parceria para a execução desse projeto permitirá alcançar ótimos resultados, agregando conhecimentos e benefícios para os ecossistemas e comunidades envolvidas”, avalia Antônio Marcos Mendonça, representante da Coordenação-Geral de Ciência do Clima do MCTI.
As ações serão implementadadas em 12 territórios prioritários, ao lado das populações locais, para a restauração ecológica e mitigação de mudanças climáticas na Amazônia. O projeto deve contribuir com a restauração de 25,7 mil hectares de floresta amazônica. Cerca de 1,6 mil pessoas de comunidades indígenas e ribeirinhas serão diretamente beneficiadas na Amazônia. Em escala global, as ações socioambientais vão evitar a emissão de aproximadamente 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Ao longo de 5 anos, serão realizados esforços em áreas úmidas e baixas da Amazônia com objetivo de fortalecer a cadeia de restauração ecológica, desenvolvendo e adaptando planos e diretrizes sobre a temática para as áreas alvo do projeto. Além disso, o projeto desenvolverá um amplo programa de desenvolvimento de capacidades para a restauração de áreas alagáveis da Amazônia (cursos de identificação botânica, manejo de espécies florestais, empreendedorismo, entre outros), direcionado a comunidades locais tradicionais e indígenas, técnicos municipais, estaduais e federais que atuam na área e microempreendedores da região.
Restauração ecológica é uma resposta à degradação ambiental na Amazônia – A degradação florestal na Amazônia tem sido um dos maiores desafios socioambientais nas últimas décadas. Dados DETER da plataforma TerraBrasilia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registraram, para o período entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025, alertas para pouco mais 2 mil km2 de desmatamento contra 46,4 mil km2 de degradação. A degradação é caracterizada pela perda parcial de dossel (copa) florestal, ou pela ocorrência de incêndios florestais, que tem como consequência a diminuição da capacidade de prover serviços ecossistêmicos. Isso geralmente ocorre quando grandes árvores são derrubadas e/ou queimadas.
Os efeitos da degradação ambiental agravam a crise climática, cujos efeitos são sentidos diretamente por quem vive em contato e relação direta com as matas e rios. Nizielle Oliveira, moradora do Estirão do Curumitá, uma das comunidades na Floresta Nacional de Tefé que participará do projeto, vivencia no seu dia a dica. “As queimadas são um problema onde eu moro, e a derrubada de árvores também. Aí, quando cresce a capoeira, já vem bem fraca, a mandioca não tem aquela qualidade de antigamente”, afirma. “E assim a floresta vai se acabando, de pouquinho a pouquinho”.
O projeto de restauração de ecossistemas amazônicos é um esforço pioneiro em abrangência e seleção de territórios diante desse cenário de perdas e destruição. “O projeto pretende se adiantar a um processo de degradação que vai ser cada vez mais intenso e pensar em diretrizes para restaurar essas áreas e em formas mais sustentáveis de manejo e uso do solo”, explica Darlene Gris, pesquisadora do Instituto Mamirauá e coordenadora da frente de pesquisa-técnica do projeto.
Projeto envolve rede de organizações e comunidades – A trajetória de construção coletiva do projeto foi percorrida em cerca de um ano e meio de atividades e envolveu mais de 100 organizações, entre secretarias de meio ambiente, órgãos de gestão estadual, prefeituras e 71 comunidades ribeirinhas e indígenas de dois estados da Amazônia.
O caráter coletivo e participativo da iniciativa foi reforçado por Emiliano Ramalho, diretor técnico-científico do Instituto Mamirauá. “É um projeto que envolve a geração de conhecimento, envolve a capacitação das comunidades, o envolvimento das comunidades em todos os processos, e com isso a gente acredita que o projeto ganha em sustentabilidade, porque não é algo pontual, que se implementa em um lugar e vai embora. É um processo de enraizamento dos conhecimentos e da criação das soluções e de empoderamento das comunidades”, destaca.
“Esse projeto faz parte de uma constelação de atividades que estamos desenvolvendo dentro da linha Década da Restauração, proposta pela ONU. É um tema tão importante hoje diante da variabilidade climática que estamos vivendo” aponta Gustavo Chianca, representante adjunto FAO. “Foi de fundamental importância trabalhar junto com as instituições nacionais e, com o projeto, apoiar o fundamento de políticas públicas para que a gente consiga diretrizes sustentáveis do manejo de áreas alagadas e da nossa sobrevivência futura”.
Áreas alagáveis da Amazônia são foco de restauração da iniciativa – Entre os 12 territórios selecionados para a restauração ecológica estão seis municípios, uma Terra Indígena e cinco Unidades de Conservação em ambientes alagáveis amazônicos, como os mangues e as várzeas.
Esses ecossistemas desempenham papéis essenciais tanto para a biodiversidade quanto para as comunidades locais. As várzeas, inundadas periodicamente, são habitats ricos em vida selvagem e importantíssimos para a regulação do ciclo da água na região, além de abrigarem uma vasta gama de espécies aquáticas e terrestres.
Os mangues, com suas raízes adaptadas à salinidade, atuam como um importante filtro natural, protegendo as costas da erosão e oferecendo refúgio para diversas espécies marinhas. Esses ecossistemas também são lugares de identidades de populações tradicionais, como ribeirinhos e pescadores, que há séculos habitam seus territórios.
Climaticamente, tanto as várzeas quanto os mangues funcionam como sumidouros de carbono, mitigando os impactos das mudanças climáticas ao absorverem grandes quantidades de CO2 da atmosfera.
ENTENDA O PROJETO
Objetivos – Restaurar os ecossistemas de várzeas, manguezais e terras firmes e a biodiversidade no continente e na costa amazônica. Para atingir este objetivo, o projeto foca no fortalecimento da capacidade para a restauração de ecossistemas, melhoria do ambiente propício e iniciação da restauração em áreas negligenciadas da Amazônia.
Fase Atual do Projeto – Após o evento de consulta às comunidades, organizações, especialistas e demais partes interessadas, ocorrido em 06 de agosto de 2024, e a etapa de validação, ocorrido em 27 de fevereiro de 2025, o projeto segue, agora, para a fase de plano de ação.
Componentes
O projeto está estruturado em quatro componentes principais:
1. Melhorar o ambiente propício para a restauração de ecossistemas
2. Fortalecimento das capacidades para a restauração de ecossistemas
3. Início dos esforços de restauração em ecossistemas de zonas úmidas e florestas de várzea
4. Sensibilização e gestão do conhecimento
Metas
– Restaurar 25,7 mil hectares.
– Evitar a emissão de 10 milhões de toneladas de CO2.
– Beneficiar 1,6 mil pessoas de comunidades locais tradicionais e indígenas.
Áreas de Atuação
O projeto ocorre em 12 áreas focais, sendo duas no Pará e as demais no Amazonas. Áreas protegidas no Pará: Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá e Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo, e no Amazonas: Floresta Nacional de Tefé; Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá; Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã e Terra Indígena Miratu. Além de territórios nos munícipios de: Tefé; Manacapuru; Novo Airão; Manaus; Careiro e Careiro da Várzea.
Alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O projeto está alinhado com vários ODS, incluindo Fome Zero e Agricultura Sustentável, Ação Contra a Mudança Global do Clima, Vida Terrestre, Água Potável e Saneamento, e Vida na Água.
Informações: Ascom/Instituto Mamirauá