Expansão da soja no Brasil pode enfrentar desafios com a China
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O Brasil, líder global na exportação de soja, tem expandido sua área de plantio há 18 anos consecutivos, um feito impressionante no setor agrícola. No entanto, especialistas questionam até quando essa trajetória de crescimento poderá ser sustentada antes que o país enfrente um possível excesso de oferta.
A experiência dos Estados Unidos pode servir como um alerta. No início dos anos 2000, os EUA dominavam mais de 50% das exportações mundiais de soja, enquanto o Brasil respondia por cerca de 30%. Com as quebras de safra norte-americanas entre 2010 e 2012, o Brasil assumiu a liderança na exportação do grão, posição que mantém até hoje, representando cerca de 57% das exportações globais, enquanto os EUA caíram para 28%.
O exemplo dos EUA e os riscos do excesso de oferta
Na década passada, a crescente demanda chinesa incentivou os produtores dos EUA a expandirem a área plantada de soja, que atingiu um recorde em 2017. Mesmo diante de estoques elevados, os agricultores ampliaram o cultivo no ano seguinte, impulsionados pela relação de preços favorável entre soja e milho.
Entretanto, esse crescimento foi interrompido abruptamente quando, em 2018, a guerra comercial entre EUA e China reduziu drasticamente as exportações norte-americanas. Além disso, surtos de doenças na suinocultura chinesa reduziram a demanda pelo grão, levando a um acúmulo recorde de estoques em 2019. Desde então, a área plantada nos EUA nunca voltou ao patamar de 2017, especialmente devido à maior rentabilidade do milho em relação à soja.
Já no Brasil, os preços da soja recuaram cerca de 20% nos contratos futuros da Bolsa de Chicago desde o início de 2024. No entanto, devido à desvalorização do real ao longo do ano, os preços em moeda local caíram apenas 5%, incentivando os produtores a manterem o ritmo de plantio. Entretanto, com a recente valorização do real no início de 2025, a atratividade das exportações pode diminuir, impactando a expansão da soja no país.
China: principal destino da soja brasileira pode mudar cenário
Atualmente, mais de 70% das exportações anuais de soja do Brasil têm como destino a China. Durante a sequência de 18 anos de crescimento da área plantada no Brasil, o consumo chinês de soja subiu 175%. No entanto, esse ritmo de expansão tem perdido força na última década.
A economia chinesa passa por uma desaceleração contínua, tendência que deve se estender ao longo dos próximos anos. Além disso, a população do país caiu pelo terceiro ano consecutivo em 2024, o que pode impactar a demanda por alimentos. Nos últimos anos, o governo chinês também tem adotado medidas para reduzir sua dependência da soja importada, diminuindo a proporção de farelo de soja na alimentação animal.
Essas mudanças representam um risco crescente para o Brasil, que depende cada vez mais do mercado chinês para escoar sua produção. Enquanto os Estados Unidos já sentiram os impactos dessas transformações, o Brasil ainda precisa avaliar até que ponto é sustentável continuar expandindo sua área de cultivo sem comprometer a estabilidade do setor.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio