• 3 de fevereiro de 2025
#Agronegócio

Estiagem no Rio Grande do Sul Compromete Mais da Metade da Safra

Poucos meses após as intensas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, o agronegócio gaúcho enfrenta agora um novo desafio: a estiagem prolongada. A ausência de chuvas, que já se estende por mais de 30 dias em algumas regiões, especialmente no oeste do estado, compromete severamente a produção de soja e milho, com perdas que ultrapassam 50%. A incidência do fenômeno La Niña, mesmo de curta duração, intensificou os impactos negativos na safra.

Impacto Direto nas Lavouras

Patrick Barcellos de Lima, engenheiro agrônomo e produtor rural atuante em Santa Maria, Rosário do Sul e São Gabriel, descreve um cenário preocupante. “Atendo uma área de aproximadamente 10 mil hectares, e as perdas aumentam a cada dia. No caso do milho, aqueles que realizaram o plantio precoce conseguiram minimizar os danos, mas a soja foi severamente afetada. Desde o Natal, os níveis de umidade do solo começaram a cair drasticamente, prejudicando o desenvolvimento das plantas”, relata.

A situação é ainda mais grave na região oeste, abrangendo municípios como São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Santiago e Alegrete. “Os relatos de perdas são expressivos. A combinação entre a baixa umidade do solo e as temperaturas elevadas compromete a capacidade das plantas de absorver e metabolizar a água, agravando o estresse hídrico e acelerando a perda de umidade foliar”, explica Patrick.

Impacto no Abastecimento de Água

Além das consequências diretas para a agricultura, a escassez hídrica já afeta o abastecimento da população. Segundo a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), cerca de 124 mil pessoas enfrentam restrições no fornecimento de água, e algumas cidades registram desabastecimento parcial. Na região metropolitana de Porto Alegre, a captação de água do Rio Gravataí para lavouras, pecuária e indústria foi temporariamente suspensa.

Desafios na Previsão Climática e no Planejamento Agrícola

A instabilidade climática também dificulta o planejamento dos produtores rurais. Patrick Barcellos de Lima destaca a incerteza causada pelas falhas nas previsões meteorológicas. “Os modelos de previsão climática apresentam grande margem de erro no curto prazo, especialmente durante o verão, quando o clima é mais instável. Muitas vezes, há expectativa de chuvas ao longo de vários dias, mas elas não se concretizam, prejudicando as estratégias de plantio e manejo das lavouras”, explica.

O agravamento da situação é intensificado pela forte radiação solar dos meses de janeiro e fevereiro. “Ainda que ocorram chuvas esparsas, estas são insuficientes para reverter o quadro. Além disso, não há previsão de frentes frias que possam amenizar as temperaturas elevadas, o que prolonga o cenário adverso para o setor agrícola”, complementa.

Irrigação: Alternativa Limitada

Diante da estiagem, a irrigação surge como uma alternativa fundamental para mitigar os prejuízos. Contudo, Patrick alerta que essa solução apresenta limitações. “Se o período de estiagem for prolongado, nem mesmo a irrigação pode garantir bons resultados. O sucesso da técnica depende diretamente da intensidade da radiação solar e da resistência das lavouras à seca”, pondera.

O Futuro do Agronegócio Gaúcho e a Necessidade de Diversificação

As recorrentes adversidades climáticas reforçam a necessidade de repensar o modelo agrícola do Rio Grande do Sul. Patrick defende que a diversificação de culturas pode ser uma estratégia essencial para reduzir a vulnerabilidade do setor. “Desde a década de 1980, a soja tornou-se predominante no estado, mas talvez seja o momento de ampliar as opções. No passado, o trigo possuía grande relevância, e hoje vemos sucessivas safras frustradas. Quem apostou exclusivamente na soja enfrenta um cenário crítico”, avalia.

Ele destaca a importância de investimentos em pesquisa e inovação para o desenvolvimento de culturas mais resilientes à seca. “Precisamos de um esforço conjunto entre instituições como a Embrapa e outros centros de pesquisa para incentivar o plantio de alternativas viáveis. Além disso, práticas como a rotação de culturas e um manejo adequado do solo são fundamentais para minimizar os impactos de futuras estiagens”, conclui.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio

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