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Sob pressão, delegado pede afastamento por invadir condomínio e ameaçar empresária

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O delegado da Polícia Civil, Bruno França Ferreira, que invadiu uma residência, dentro do condomínio de luxo Florais dos Lagos, em Cuiabá, para intimidar uma moradora, pediu licença não remunerada do cargo. Em nota, ele declarou que decidiu voluntariamente se afastar de suas funções, enquanto o fato é investigado, em pedido feito junto à Corregedoria da Polícia Civil. A decisão foi tomada diante da grande repercussão negativa e da postura da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) que já havia protocolado junto à corregedoria da Polícia Civil o afastamento de Bruno. A defesa da empresária afirmou que adotaria a mesma medida. 

O delegado é acusado de abusar de sua autoridade e aparato público para invadir, armado, a casa de uma empresária e intimida-la, juntamente com o marido e uma filha pequena. As imagens de uma câmera de segurança instalada na sala da família revelaram como o profissional, acompanhado de mais três policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais), realiza o procedimento. Aos gritos, com arma em punho, ele xinga a moradora, exige que ela se deite no chão dentro da própria casa e ameaça “explodir” a cabeça dela.

Ele invadiu a casa da empresária, sem mandado judicial, alegando estar cumprindo uma prisão em flagrante. Já na delegacia, ele teria xingado o advogado, que atendia a mulher. Em uma nota, ele critica a postura da mulher, que estaria expondo o caso publicamente, mesmo envolvendo menores de idade e argumentou que ela persegue seu enteado. No texto, ele também isenta os colegas de Polícia Civil de culpa no episódio. 

“Desde já gostaria de deixar claro que a decisão de realizar a prisão é de responsabilidade única e exclusiva minha, tendo os colegas da GOE inclusive tentado me acalmar nos momentos de maior emoção. Não possuem qualquer responsabilidade, apenas parceria e lealdade para atender ao chamado de um policial em necessidade”, afirmou. 

Bruno França Ferreira também utilizou o texto para pedir desculpas à criança que estava na residência, e que durante a abordagem, chorava copiosamente. O delegado reconheceu os excessos e afirmou que este episódio foi o que mais o entristeceu. Ele finaliza o texto, afirmando que pediu licença do cargo, junto à Corregedoria, abrindo mão também dos salários, durante o período de afastamento. 

“Chegou ao meu conhecimento que a Ordem dos Advogados do Brasil entendeu por bem que eu seja afastado das minhas funções durante o esclarecimento dos fatos, tendo realizado pedido à Corregedoria de Polícia Civil. Se os nobres colegas entendem que é melhor para saúde do procedimento que eu momentaneamente me afaste de minhas funções, voluntariamente atendo o pleito. Ademais, não entendo como justo e razoável que eu seja ressarcido pelos cofres públicos durante a averiguação de excessos verbais que cometi em uma abordagem. Logo, desde já, antecipo que solicitei à Corregedoria de Polícia Civil meu afastamento não remunerado pelo prazo de 30 dias, renováveis por mais 30 se entenderem necessário ou até o final das apurações”, diz o texto. 

Leia a nota de esclarecimento do delegado Bruno França Ferreira, na íntegra:

Nota de Esclarecimento

Na noite do dia 28/11/2022 realizei a captura em flagrante de uma mulher sob a justificativa de estar ameaçando, injuriando e descumprindo medida protetiva existente em favor de J., meu enteado de treze anos.

Conforme registrado em procedimento sigiloso na Delegacia Especializada de Direitos da Criança e do Adolescente, há meses a conduzida vem perseguindo, humilhando e aterrorizando o menor de maneira injustificada, motivo este que levou o Poder Judiciário a deferir pedido de medida protetiva em favor do infante.

Consta demonstrado em procedimento investigativo que a autuada se deslocou até a quadra poliesportiva em que se encontrava a vítima e iniciou os ataques, recorrentes e injustificáveis, contra o adolescente que, após se refugiar na casa de um amigo, pediu socorro.

Após o menor ser resgatado e me relatar os fatos entendi que se tratava de situação flagrancial, motivo pelo qual solicitei apoio a diversos colegas da Polícia Civil para efetuar a prisão. Após sortidos pedidos, fui atendido pelos colegas da Gerência de Operações Especiais.

Diferente da forma expositiva que a conduzida vem tratando o caso, expondo publicamente procedimentos em que estão envolvidos direitos de crianças e adolescentes, nunca divulguei de forma extraprocessual os vídeos das agressões cometidas pela conduzida, em especial os vídeos gravados pela vítima, o menor J. de treze anos, em estado de pânico, no início da noite de 28/11/2022.

Desde já gostaria de deixar claro que a decisão de realizar a prisão é de responsabilidade única e exclusiva minha, tendo os colegas da GOE inclusive tentado me acalmar nos momentos de maior emoção. Não possuem qualquer responsabilidade, apenas parceria e lealdade para atender o chamado de um policial em necessidade.

Após bater a porta sem resposta e, considerando a situação flagrancial, decidi por adentrar a residência para efetuar a captura. Diferente do falsamente alegado de forma incessante pela conduzida, em nenhum momento apontei arma de fogo para nenhuma das pessoas na casa. As próprias imagens do momento da abordagem demonstram que a arma esteve o tempo todo, que inclusive foi curto, apontada para baixo como reza o procedimento.

Todavia é necessário que eu reconheça, publicamente e de forma humilde, que me excedi na verbalização dirigida à conduzida no momento da abordagem. Isso foi um erro pelo qual peço, a todos, as mais sinceras desculpas. Tal excesso, em que pese ser injustificável, é alicerçado por certa compreensividade, considerando que me encontrava em situação em que meu enteado estava sendo vitimado e, minutos antes, havia se dirigido a mim em estado de terror.

Peço ainda desculpas pelo susto causado à criança inocente que se encontrava dentro da residência. Não sabíamos da presença desta no interior do cômodo antes da entrada e, desde o ocorrido, a ideia do medo que causei a essa menina é, de longe, aquilo que mais tem me machucado.

A Polícia Civil existe para proteger as pessoas e não para assustá-las, motivo pelo qual espero que um dia essa criança possa me perdoar.

Gostaria de enfatizar que, em que pese a violenta emoção que me encontrava no momento, não houve contato físico com nenhuma das pessoas da residência.

Esclareço ainda que, ao contrário do que vem sendo noticiado, sequer acompanhei a conduzida na viatura durante o trajeto até a Central de Flagrantes. Pelo contrário, me desloquei em veículo distinto exatamente para que a conduzida pudesse ser transportada do lado de dentro da viatura e não no local destinado aos presos.

Aos membros da Ordem dos Advogados do Brasil que por tantos anos ombreei em busca de justiça, peço desculpas pelo ato injustificável que realizei em desfavor do Dr. Rodrigo Pouso. Esclareço que no momento das ofensas o procedimento de condução já havia terminado e me encontrava no saguão da delegacia dando apoio ao meu enteado que aguardava para ser ouvido.

Peço, sinceramente, que me desculpem.

Enfatizo que até o presente momento jamais fui representado, sequer uma vez, pelo Ministério Público ou pela Ordem dos Advogados do Brasil por atos cometidos no exercício de minha profissão.

Chegou ao meu conhecimento que a Ordem dos Advogados do Brasil entendeu por bem que eu seja afastado das minhas funções durante o esclarecimento dos fatos, tendo realizado pedido à Corregedoria de Polícia Civil.

Se os nobres colegas entendem que é melhor para saúde do procedimento que eu momentaneamente me afaste de minhas funções, voluntariamente atendo o pleito. Ademais, não entendo como justo e razoável que eu seja ressarcido pelos cofres públicos durante a averiguação de excessos verbais que cometi em uma abordagem.

Logo, desde já, antecipo que solicitei à Corregedoria de Polícia Civil meu afastamento não remunerado pelo prazo de 30 dias, renováveis por mais 30 se entenderem necessário ou até o final das apurações.

Peço desculpas também aos membros da sociedade que, direta ou indiretamente, se sentiram ofendidos pelo ocorrido tendo em vista as imagens divulgadas fora do contexto dos fatos. Fatos estes que serão obviamente esclarecidos.

Agradeço o apoio a mim dispensado pelas famílias das outras crianças vitimadas pela conduzida.

Por fim, em resposta àqueles que questionam se me arrependo do ocorrido, informo que estou profundamente arrependido por ter me extrapolado na verbalização realizada dentro do domicílio da conduzida.

Quanto à decisão de enfrentar a agressora e realizar sua captura, tal conduta não possui qualquer ilicitude e não goza de arrependimento de minha parte. Desde a noite de 28/11/2022 venho sendo atacado na imprensa de forma injusta e não verdadeira pela conduzida. Todavia, desde a noite de 28/11/2022 meu enteado está, finalmente, protegido e seguro.

A todos, de coração, minhas mais sinceras desculpas.

Bruno França Ferreira

Delegado de Polícia.

Fonte: Folha Max

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