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RESSOCIALIZAÇÃO


Penitenciária da Mata Grande oferece oportunidades de ressocialização aos reeducandos

O objetivo é criar condições para que essas pessoas deixem a unidade prisional ao final da sua pena sabendo uma profissão

| Por Denilson Paredes

Com uma população carcerária flutuando em torno de 1.300 pessoas, a Penitenciária Major Eldo de Sá, a Mata Grande, desenvolve projetos que oferecem a oportunidade dos reeducandos trabalharem, estudarem ou se qualificarem profissionalmente visando a sua reinserção na sociedade e a consequente saída do mundo dos crimes. O objetivo é criar condições para que essas pessoas deixem a unidade prisional ao final da sua pena sabendo uma profissão e com condições de dar um novo rumo para suas vidas.

Para tanto, a Mata Grande mantem dentro dos seus muros uma marcenaria, uma serralheria, uma padaria, uma horta e um ateliê de costura onde parte dos reeducandos trabalham, além da produção de artesanato, que é feito nas própria celas pelos apenados. Os reeducandos que participam dessas iniciativas são selecionados pelo seu bom comportamento e por já terem cumprido ao menos um sexto da sua pena. Eles também são responsáveis por grande parte dos trabalhos internos na unidade, assim como muitos deles saem durante o dia para trabalharem em empresas como a Concessionária Morro da Mesa e na Coder.

“Muitos aproveitam a oportunidade e esquecem o crime”, afirma o diretor Ailton Ferreira, na foto ladeado pela policial penal Maria Leite (dir.) e pela assistente administrativa Gildeni Rodrigues Lopes – Foto Denilson Paredes/NMT

Segundo o diretor da unidade, Ailton Ferreira, os projetos de ressocialização, que são desenvolvidos desde 2012 na unidade prisional, já deram muitos resultados positivos. “Já diminuiu muito a reincidência criminal. Hoje, nós temos vários projetos. Um dentro da própria ala do recuperando, onde vários deles trabalham e são remidos por isso. Eles fazem trabalhos como a limpeza, alimentação, artesanato. Eles conseguem também a remissão pela leitura, que tem sido muito importante nesse período de pandemia. E temos também o trabalho intramuros, como a marcenaria, a serralheria, a padaria, a horta, o ateliê de costura, onde alguns até ganham algum dinheiro e recebem uma remissão da pena também. E temos o trabalho extramuros, em parceria com as empresas”, contou.

O diretor da penitenciária conta que entre 2020 e 2021 foram ofertados mais de trinta cursos de qualificação profissional para os reeducandos da unidade, o que é fundamental para que essas pessoas possam projetar uma vida fora do crime. “Muitos aproveitam a oportunidade e esquecem o crime. Deixam a vida de crime para trás, pois muitos querem deixar essa vida e trabalhar. Muitos que trabalham quando estão presos, quando saem daqui, são fichados na empresa que trabalhavam. Só voltam para cá aqueles que realmente não querem deixar o crime”, completou.

A padaria da penitenciária produz o pão para o café da manhã de apenados e funcionários da unidade, além de contribuir financeiramente para a manutenção dos projetos de ressocialização – Foto Denilson Paredes/NMT

Uma das grandes incentivadoras e uma das principais responsáveis dos projetos de ressocialização na Mata Grande, a policial penal Maria Leite, que é responsável pelo ateliê de costura que existe na unidade. Ela conta que inicialmente os reeducandos recebem os cursos de qualificação, para depois servirem como multiplicadores desse conhecimento para outros apenados. “Nós queríamos fazer diferente, não só abrir e fechar cadeados. A gente sempre quis buscar uma mudança, e temos conseguido. Mas isso não seria possível sem o aval, sem o apoio da nossa direção, que nos dá carta branca para desenvolvermos os projetos, buscarmos as parcerias que precisamos para fazer eles andarem”, afirmou.

Encarregado da administração da padaria da unidade, o assistente administrativo Emanoel Carlos Rodrigues Silva conta que o pão para o café da manhã de servidores e apenados é feito pelos próprios reeducandos, sendo que o restante da produção é vendida pelo “mercadinho” que a associação dos servidores da unidade mantêm na própria Mata Grande, de onde são retirados a maior parte dos recursos para custear os cursos de qualificação e outras atividades dos projetos.

“Antes, eu não tinha uma profissão, mas eles me ensinaram aqui e vai servir para quando eu sair eu cuidar da minha família”, contou o apenado Diego Rosa Araújo – Foto Denilson Paredes/NMT

“A ressocialização faz parte do nosso trabalho. Há um empenho para que isso seja possível, e o resultado são mais de 200 recuperandos qualificados. Dessa forma, você dá oportunidade para eles se encaixarem em alguma empresa. A profissão de padeiro, confeiteiro, costureiro, são profissões que dão oportunidades em Rondonópolis. E temos vários recuperandos já aguardando pelos próximos cursos”, explicou.

Como fazer parte dos projetos

Outra grande entusiasta dos projetos de ressocialização da Mata Grande é Gildeni Rodrigues Lopes, encarregada pela seleção e acompanhamento dos internos da penitenciária que são habilitados para trabalharem fora da unidade. “Para fazer parte de um dos nossos projetos, primeiro o reeducando precisa ter bom comportamento. Depois, ele é avaliado por uma equipe multidisciplinar e pode receber uma anuência do Juiz, para só depois estar apto para trabalhar fora. Desde 2010, quando começamos, já fornecemos trabalhadores para dez empresas e cerca de 1.200 apenados já passaram por esse processo”, contou.

Os resultados

Um dos mais entusiasmados com a possibilidade de se qualificar e sair de seu período de reclusão sabendo uma profissão é o reeducando Alisson Balbino Matos, de 25 anos, que cumpre pena por latrocínio e trabalha na padaria da Mata Grande. “A gente aqui aprende uma profissão, que é uma oportunidade para mim não só aqui dentro, mas lá fora também. É uma profissão a mais que a gente aprende e que pode servir para mim lá fora, para eu poder voltar para o meio da sociedade. Eu quero me ressocializar. E isso aqui é muito importante para a gente, pois muita gente não acredita que podemos mudar, mas eles aqui acreditam”, contou, com uma indisfarçável emoção contida na voz.

“Para nós, a educação é a chave que abre todas as algemas da ignorância”, afirmou a pedagoga Creuza Rosa Ribeiro – Foto Denilson Paredes/NMT

Outro que agarrou a oportunidade é Diego Rosa Araújo, de 27 anos, que cumpre pena por homicídio e agora trabalha no ateliê de costura da Penitenciária, se mostrando bastante empolgado com a possiblidade de aprender um ofício para ter uma profissão assim que deixar a prisão. “Antes, eu não tinha uma profissão, mas eles me ensinaram aqui e vai servir para quando eu sair eu cuidar da minha família. E eu gosto muito de costurar, acho tudo maravilhoso. Antes, as pessoas não tinham essa oportunidade e agora podemos sair daqui com um novo conhecimento, com uma profissão boa. Só quem está aqui sabe o quanto isso é importante para todos nós”,

Acolhimento a gays e transexuais

Sempre com o foco de humanizar a unidade prisional e oferecer condições dignas para que todas as pessoas apenadas possam cumprir sua pena em condições dignas, a direção da Mata Grande criou uma estrutura para acolher a homossexuais e transexuais, que contam inclusive com uma ala própria. Isso tudo para evitar os casos de preconceito sexual e violência contra essas pessoas, coisa muito comum em outras épocas.

Quem cuida dessa parte é André Santos da Silva, assistente administrativo da Penitenciária e um dos responsáveis pelo projeto Aquarela. “O que tentamos evitar é a discriminação, que aconteça alguma agressão com eles. Procuramos manter a integridade desse público, porque estar preso não significa que a pessoa tenha que perder sua dignidade física e mental. Aqui eles participam de dinâmicas e cursos de qualificação também”, explicou.

Educação

Outro bonito de caso de dedicação e empenho para ressocializar o máximo de pessoas que cumprem pena na unidade prisional é da pedagoga Creuza Rosa Ribeiro, que desde 2004 trabalha na unidade e desde o início desenvolve trabalhos de alfabetização e de educação para os reeducandos.

“Nós partimos da premissa de que o acesso à educação é um direito humano, independentemente de onde é o lugar. E o que queremos é dar condições para essas pessoas terem acesso ao conhecimento, e que esse conhecimento mude a realidade deles. Para nós, a educação é a chave que abre todas as algemas da ignorância”, externou a pedagoga.

Na unidade, além da alfabetização e do ensino médio, também há os alunos que cursam uma universidade fora dos muros da Mata Grande, mas devido à pandemia da Covid-19, estão tendo aulas remotas.

Assistência social

Com o advento da pandemia do coronavírus, as visitas presenciais de parentes foram proibidas pela direção da Penitenciária, as assistentes sociais da Mata Grande precisaram usar a criatividade para permitir que a comunicação entre os reeducandos e seus familiares não fosse cortada.

A forma encontrada foi criar um WhatsApp para que os familiares pudessem enviar suas mensagens, que são impressas e entregues ao destinatário, que pode responder por escrito e as assistentes sociais se encarregam de fazer a mensagem chegar até o familiar.

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