Um dos casos de homicídio de maior repercussão em Mato Grosso nos últimos anos, a chacina ocorrida em um distrito do município de Colniza, região noroeste do estado, e que terminou com a morte de nove pessoas, requereu da Polícia Civil do Estado um aparato investigativo com inúmeras diligências realizadas em cidades de três unidades da federação, análise de inteligência de centenas de informações e oitivas de investigados, testemunhas, familiares das vítimas e sobreviventes.
Na última semana, o Ministério Público Estadual denunciou mais três pessoas por homicídio qualificado na chacina ocorrida no distrito de Taquaruçu do Norte, em abril de 2017. Eles também vão responder por integrarem um grupo de extermínio. A denúncia do MPE é resultado de uma nova linha de investigação seguida pela Polícia Civil, a partir de informações recebidas pela Secretaria de Estado de Segurança Pública, que apontou outros motivos para a execução do crime e a participação de mais pessoas, sendo um mandante e dois executores.
A primeira fase da investigação realizada por uma força-tarefa, com participação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Cuiabá e a Delegacia de Colniza, identificou quatro executores e um mandante do crime, que foram denunciados pelo MPE ainda em 2017.
Posteriormente, a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso recebeu novas denúncias apontando que as pessoas inicialmente indiciadas na primeira investigação não seriam as mesmas que agiram como mandante e executoras do crime.
A partir das novas informações recebidas, equipes de investigação da Polícia Civil, com apoio da Diretoria de Inteligência da instituição, realizaram centenas de diligências em cidades de Mato Grosso, Rondônia e Pará para coletar indícios que pudessem levar à confirmação e responsabilização dos denunciados.
A denúncia do MP, com base nas investigações produzidas pela Polícia Civil, destaca que o advogado e empresário M.T.S.D., o agricultor A.A.S. e C.P. agiram como um grupo de extermínio e sob pretexto de prestação de segurança privada levando à morte nove pessoas por motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que dificultou a defesa das vítimas.
No ano anterior à chacina, o advogado e o agricultor adquiriram uma propriedade rural em Taquaruçu do Norte, de forma parcelada. O pagamento integral foi condicionado à necessidade de “limpeza da área”, ou seja, a expulsão de eventuais posseiros ou proprietários que estivessem no local. Desta forma, o advogado teria organizado para que os executores promovessem essa “limpeza”. No dia 19 de abril de 2017, as nove vítimas foram mortas com uso de armas brancas e armas de fogo, sendo pegas de surpresa no local.
Em uma das diligências, os policiais civis chegaram ao contrato de compra e venda da área onde ocorreu o crime, que estava em nome de um advogado, cujas informações o apontaram ao final do inquérito como o mandante da chacina.
Os investigadores analisaram materiais apreendidos, depoimentos e a produziram dezenas de relatórios que, diferente das apurações iniciais, levaram aos três investigados pela chacina. Uma das testemunhas ouvidas pela Polícia Civil confirmou que levou os executores até o local da chacina. Outra testemunha corroborou dados levantados em campo durante a apuração de que o advogado teria locado uma aeronave para jogar sementes onde as vítimas foram mortas – uma área aberta – o que confirma que ele tinha intenção de formar pastagem no local que adquiriu anteriormente.
As diligências da Polícia Civil reuniram informações coletadas nas cidades de Chupinguaia, Machadinho d’Oeste, Ariquemes, Ji-Paraná, Pimenta Bueno, São Felipe d’Oeste, Rolim de Moura, Alto Alegre dos Parecis, todas em Rondônia; em Rurópolis, no Pará, e em nas cidades da região de Colniza.
A investigação que culminou com o indiciamento do mandante e executores foi concluída em junho do ano passado.