Um acordo de cooperação técnica assinado pelo Bondinho Pão de Açúcar e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) estabeleceu a criação do Circuito Histórico do Bondinho Pão de Açúcar, que está prevista para começar a funcionar até o final deste ano. O superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Olav Schrader, disse que o Brasil, e mais especificamente o Rio de Janeiro, “está sentado em cima de um tesouro cultural, histórico e paisagístico riquíssimo e que está subaproveitado”.
Schrader disse que esse tesouro pode gerar turismo, autoestima, consciência, e fazer com que as pessoas valorizem. “Na verdade, você só consegue preservar aquilo que conhece. Às vezes, as pessoas não conhecem e não dão valor. Isso é algo que nós herdamos, seja pela natureza, seja pela nossa história. Está ali para a gente usar, para explorar de maneira virtuosa”.
O superintendente disse que o Iphan, na década de 1930 e 1940 do século passado, estava na vanguarda e é preciso retomar essa vanguarda. Para ele, isso se faz por meio de parcerias e soluções inovadoras. “A gente tem que tirar esse imenso patrimônio histórico, artístico, paisagístico do ônus e jogar para o bônus”. Segundo Schrader, o Rio de Janeiro tem um acervo imenso que está se deteriorando e se isso não for abordado com novas propostas, reunindo todas as forças da sociedade, ele vai continuar, “infelizmente, nesse deterioro”.
Trajeto
O Circuito Histórico do Bondinho Pão de Açúcar terá um trajeto a ser percorrido pelos visitantes ao longo dos mirantes do Bondinho, que serão rebatizados e trarão conteúdos com textos históricos sobre o bem cultural e o ambiente em que está inserido, além de destacar a inovação tecnológica do primeiro teleférico das Américas. Para o presidente-executivo do Bondinho Pão de Açúcar, Sandro Fernandes, a parceria inédita vai tornar ainda mais rica a experiência dos visitantes.
“A história do Bondinho Pão de Açúcar se mescla com a história da cidade do Rio de Janeiro. O Circuito Histórico do Bondinho Pão de Açúcar promoverá enriquecimento cultural e histórico para todos os visitantes que passarem pelo parque. Esta iniciativa é mais uma oportunidade de, através do conhecimento, inspirar felicidade em todos que se conectam conosco”, disse Fernandes.
Schrader explicou que o circuito terá um olhar para dentro e outro para fora. No olhar para dentro, pretende-se contar a história do monumento, porque muitas pessoas que vão ao Bondinho não sabem que se trata do teleférico mais antigo do mundo em operação. “Todo mundo olha e não sabe o imenso valor que tem. Acho incrível isso não ser de domínio público e não estar arraigado na nossa consciência de cariocas e de brasileiros”. Para o superintendente do Iphan, trata-se de um monumento da engenharia nacional e mundial pelo seu pioneirismo. “Foi um desafio imenso ele ter sido feito na época”. Até o cimento veio de navio da Europa.
Segundo ponto turístico mais visitado na capital fluminense, depois do Cristo Redentor, no Morro do Corcovado, o Bondinho Pão de Açúcar acumula, desde sua fundação, em 1912, mais de 46 milhões de visitantes. Idealizado pelo engenheiro Augusto Ferreira Ramos, o Bondinho foi o terceiro teleférico a funcionar no mundo. Na época, só existiam dois similares, um na Espanha e outro na Suíça. O teleférico carioca superou os dois em tamanho e tem seu ponto mais alto a 396 metros acima do nível do mar.
Olhar para fora
O superintendente do Iphan acrescentou que no olhar para fora do circuito será feita a interpretação da paisagem que se vê do Bondinho, incluindo dados históricos, “para que as pessoas se apaixonem por ela, entendendo o que representou historicamente”. No trajeto com mirantes serão colocadas placas explicativas em português, espanhol e inglês, com legendas básicas e um QR Code (código de barras bidimensional), por meio do qual o visitante terá acesso ao site do Bondinho, com chancela do Iphan, obtendo maiores explicações sobre a paisagem e os acontecimentos históricos a ela relacionados.
“Você vai referenciar um pouco mais o assunto através desse QR Code pelo próprio celular, ou de casa, pelo computador. É uma sinalização física, como se faz na Europa, em qualquer lugar que saiba valorizar o que tem”.
Tombado pelo Iphan em 8 de agosto de 1973 por sua importância na composição da paisagem cultural do Rio de Janeiro, o Complexo do Pão de Açúcar também é reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura desde 2012. O monumento integra o sítio Rio: Paisagens Cariocas entre a Montanha e o Mar, primeira área no mundo a ter reconhecido o valor universal da sua paisagem urbana.
O Bondinho Pão de Açúcar adota um rígido protocolo de segurança sanitária de combate à covid-19 para seu funcionamento. A máscara é item obrigatório, podendo ser retirada apenas no momento das refeições e desde que o distanciamento social seja mantido. Dispenseres de álcool em gel são disponibilizados ao longo de todo o parque e a medição de temperatura é feita em todos na entrada. Além da demarcação do espaço de distanciamento físico nas filas, os bondes operam com capacidade reduzida e são sanitizados a cada viagem.
Cereja do bolo
Schrader revelou que a “cereja do bolo” para o qual o Iphan está trabalhando é promover a interação da Via Sacra do Cristo Redentor com o projeto histórico paisagístico do Bondinho Pão de Açúcar e o circuito histórico da Floresta da Tijuca, que tem o projeto de reflorestamento em grande escala mais antigo do mundo.
“A gente pensou em unir esses três e fazer, em algum momento, o circuito histórico paisagístico do Rio de Janeiro, que seria o primeiro do país. Vamos trabalhar nessa direção”, explicou.
Edição: Valéria Aguiar