Para comemorar o Dia das Mães neste domingo (14 de maio), o Tribunal de Justiça de Mato Grosso recebeu depoimentos de mães que trabalham no Poder Judiciário, compartilhando experiências de vida marcadas por histórias de amor, fé e superação.
Mãe de duas filhas e avó de seis netos, a presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Clarice Claudino da Silva, ressalta a coragem da mulher contemporânea que, em meio a tantos desafios e atribulações, traz no sentimento materno uma das forças mais belas e poderosas, capaz de aproximar a humanidade de Deus.
“As pessoas compreendem erroneamente que a força é uma característica daqueles que agem com rompantes de aspereza, rudeza e até mesmo de maneira descortês, quando na verdade, o ser humano verdadeiramente forte é aquele que consciente de sua essência e de sua capacidade de amar, sem se abater pelo julgamento alheio, é capaz de conduzir as diferentes situações da vida com afetividade e amabilidade sem perder a firmeza e o propósito que sempre o guiou. E nesse universo de amor estão as mães, o modelo mais puro e genuíno de força, capaz de aproximar a humanidade do Criador”.
A presidente também reflete que “basta analisarmos uma mãe, que no rompante de proteger e guiar seu filho pela vida, arranca do seu mais profundo ser a força, a coragem, a valentia e a ousadia que apenas um ser dotado de amor e consciente de si é capaz de fazer. E isso se aplica a tudo aquilo a que a mulher decide se envolver, inclusive no seu trabalho. E em meio às centenas de mães que dedicaram e dedicam suas vidas ao exercício da Justiça que afirmo o privilégio do Poder Judiciário de Mato Grosso em ter tantas mães aguerridas, trabalhando para o bem maior da nossa sociedade. Parabéns a todas as mães pelo seu dia, e de maneira muito especial, às mães do nosso Judiciário, verdadeiras pérolas nas nossas vidas”.
Para a vice-presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Maria Erotides Kneip, a sociedade moderna tem desafiado as mulheres a produzir cada vez mais e melhor, mas ainda sem a sensibilidade para acolher essas mulheres nas suas necessidades.
“Nós sabemos que não é fácil conciliar os papéis de mãe, esposa e profissional, em uma sociedade moderna que impõe tantos desafios às mulheres. Querem que ela produza mais e melhor, assuma responsabilidades pessoais e profissionais, tenha liderança. Mas esse avanço também tem gerado pressão e expectativa sobre as mulheres, que muitas vezes precisam lidar com a sobrecarga de responsabilidades e tarefas. E em meio a tudo isso, a mulher precisa desempenhar seu papel essencial que é o de ser mãe, que é o de amar, acolher, e exatamente por essa essência maternal, que ela acaba sobrecarregada, gerando sim, ótimos resultados, mas resultados muitas vezes às custas do prejuízo emocional dessas mulheres. E afinal, quem acolhe essa mulher? Fica aí a reflexão! Quero parabenizar nossas mães pelo seu dia, e que Deus as abençoe”, pondera a desembargadora Maria Erotides, mãe de quatro filhos e avó de sete netos.
Na casa da juíza Sabrina Andrade Galdino Rodrigues, titular da Terceira Vara Criminal de Mirassol D´Oeste, os desafios são outros. O projeto de uma maternidade mais presente e participativa na rotina das filhas, Helena de 3 anos e Manuela de 5 anos, acabou diante do grande volume de demandas exigida pela carreira na magistratura.
Conciliar a vida profissional com a rotina familiar tem sido um desafio, mas também uma oportunidade de exercitar valores e, até mesmo, aprimorar as relações familiares com o exercício da empatia e da generosidade.
“Sonhava em ser mãe antes mesmo de ser juíza. Minha pretensão era estar próxima das minhas filhas, estar presente nas atividades delas, mas não foi bem assim. A maternidade é uma lição de vida, nos ensina a abdicar do egoísmo, a se doar para o outro e, principalmente, a maior das lições, o amor incondicional. Eu sempre me perguntei, por que nós erramos tanto e Deus continua nos amando? E somente depois de ser mãe que pude compreender a essência do amor incondicional, que vem de Deus. E realmente o amor de mãe é o que há de mais próximo do amor Deus aqui na terra”.
Coragem e fé – Histórias de fé, como da servidora Ceila Monica Silva Ferraz Alencastro de Moura, 56, auditora interna do Tribunal de Justiça há 38 anos, também marcam a vida das mães do Judiciário mato-grossense. Mãe da Ana Gabriela, de 27 anos, Ceila é o retrato da superação. Filha única, Ana Gabriela nasceu com malformação congênita e fenda palatal (abertura no céu da boca). As condições acarretam sérias dificuldades físicas, como a incapacidade de sustentar a cabeça após os três meses ou se sentar sozinha aos seis meses, não conseguir formar frase aos dois anos ou ter dificuldade de entendimento e comunicação; e problemas para respirar e se alimentar devido à má formação do céu da boca.
Sem condições de respirar e se alimentar, Ana Gabriela saiu da sala de parto direto para a UTI neonatal, onde ficou por 23 dias. Conta Ceila que em uma das noites internada no quarto do hospital sentiu que a filha não estava bem. Chegando na UTI, os médicos socorreram Ana, que estava sem respirar.
A falta de oxigenação acarretou atraso no desenvolvimento neuropsíquico motor, ou retardo neuropsicomotor, condição em que as habilidades psicomotoras da criança como o desenvolvimento das capacidades cognitivas, de socialização, motricidade ou comunicação, não acompanham a faixa etária da criança.
“Ficamos 23 dias com a Ana na UTI. Ela nasceu e não conseguia respirar e nem se alimentar sozinha, devido a fenda palatal. O contato que a mãe tem com o filho após o parto, eu não tive. Em uma das noites no hospital senti que ela não estava bem, segurei na mão da minha irmã e disse “corre lá porque minha filha está morrendo”, quando chegaram na incubadora, Ana estava roxa sem oxigenação. O meu leite, ela tomou por sonda porque não conseguia engolir. Antes de receber alta do hospital, eu tive uma determinação pessoal de que a Ana não sairia do hospital sem condição de se alimentar. Começamos um processo intenso com a fonoaudióloga para estimular na Ana a capacidade de mamar e ela saiu se alimentando”, narrou Ceila.
Uma rotina intensa de atividades com fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, neurologista, trabalhos lúdicos e de recreação foi iniciada para estimular o desenvolvimento da Ana. Nem mesmo o medo da discriminação social pararam a Ana, e sua mãe.
“Nós não poupamos a Ana. Nós a colocamos nas mais diferentes atividades possíveis e imagináveis, interagindo com crianças, adultos, frequentando restaurantes, salão de beleza, shoppings, casa de amigos, porque o lugar da Ana é onde ela quiser, e o mundo não vai determinar isso. A curva de socialização da Ana é muito boa. Ela interage com todo mundo. Ela tem uma capacidade de “copiar” os modelos sociais em torno dela que é fantástica, foi assim que ela começou a andar, querendo acompanhar as primas para não ficar fora das brincadeiras. Na escolinha, ela contornava a sala de aula segurando nas paredes até chegar na professora. Colocamos ela em aulas de equoterapia, cursos de culinária, pintura e música, e hoje ela é pandeirista da turma dela”, comemorou.
Aos 5 anos, Ana foi submetida a uma cirurgia delicada de urgência para descompressão do pulmão e correção da coluna vertebral. Com escoliose neuromuscular, uma curvatura espinhal irregular causada por distúrbios do cérebro, Ana sofria quadros repetitivos de pneumonia e já tinha sua postura corporal comprometida.
Hoje, Ana Gabriela continua com a agenda cheia! Aluna da Escola Estadual de Desenvolvimento Integral da Educação Professor Antônio Cesário de Figueiredo Neto, no bairro Bandeirantes, em Cuiabá, ela participa de atividades especializadas três vezes na semana, e segue acompanhada por uma psicopedagoga e fisioterapeuta domiciliar.
Nem mesmo um câncer de mama em 2016, e a perda de familiares para a pandemia da Covid em 2020 abalaram a fé e a coragem de Ceila, que segue sendo o pilar da pequena-grande Ana Gabriela. “Se você me perguntar de onde vem minha força, eu te respondo: minha força vem da fé em Deus, vem do alto”.
#Paratodosverem. Esta matéria possui recursos de texto alternativo para promover a inclusão das pessoas com deficiência visual. Primeira imagem: Foto horizontal colorida. Presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Clarice Claudino da Silva. Segunda imagem: Vice-presidente do Tribunal de Justiça, Maria Erotides Kneip. Terceira imagem: Juíza Sabrina Andrade Galdino Rodrigues, da Terceira Vara Criminal de Mirassol D´Oeste, se agacha e recebe beijos de suas filhas nas bochechas. Quarta imagem: Auditora interna do Tribunal de Justiça Ceila Monika Silva Ferraz Alencastro de Moura e sua filha Ana Gabriela posam para foto. Elas estão em pé, abraçadas, vestidas de branco.
Naiara Martins
Coordenadoria de Comunicação da Presidência do TJMT
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