A operação da Polícia Federal (PF) de Campinas (SP), que desmantelou fraudes no Auxílio Emergencial que chegam a R$ 50 milhões, identificou que os crimes eram realizados por meio de um esquema de identificação de CPFs através de um programa desenvolvido por um hacker.
Nesta terça-feira (7), a Polícia Federal cumpriu 47 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva em 12 estados, mais o Distrito Federal, onde a organização criminosa atuou durante a prática dos crimes. No total, a investigação estima que pelo menos 10 mil contas foram fraudadas.
No entanto, segundo a PF, tanto o número de contas fraudadas quanto o valor do prejuízo podem ser ainda maiores. O método dos criminosos reunia, além do programa que fazia o cruzamento dos CPFs e fornecia os dados aos investigados, criação de sites ou aplicativos falsos para enganar os beneficiários e pagamento de boletos para uso do dinheiro.
O chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, e o delegado Diego Campos de Almeida, detalharam, na manhã desta terça, a forma de atuação da quadrilha. Entenda abaixo como funcionava o esquema:
Programa cruzava número de CPFs
Um dos suspeitos presos nesta terça-feira, em Goiânia (GO), era um hacker – que já tinha passagem pela polícia desde os 16 anos – responsável pela criação de um programa que faz buscas em vários sistemas bancários para identificar quem teria direito de receber o Auxílio Emergencial pela Caixa Econômica.
A partir disso, os criminosos criavam contas com documentos falsos para receber o dinheiro antes do beneficiário. Quando a vítima entrava no sistema da Caixa, recebia uma notificação de que o valor já havia sido sacado. Segundo a investigação, as pessoas que reportaram o problema à instituição bancária receberam o ressarcimento.
De acordo com o delegado, este era o principal método do grupo, mas não o único. Os investigados também criavam aplicativos ou sites falsos e mandavam SMS para os beneficiários, com link de acesso, para que eles fizessem os cadastros do recebimento do Auxílio Emergencial e, quando recebessem o valor, já cair direto nas contas dos criminosos.
“Tendo descoberto o modos de atuação dos investigados, apuramos que a organização agia em vários estados diferentes. Com um dos investigados, encontramos 140 CNHs falsas. Em outro, mais de 80 cartões, várias máquinas de pagamentos também foram apreendidos”, disse Diego Campos de Almeida.
O suspeito preso em Goiânia era um dos principais articuladores da organização criminosa, segundo a Polícia Federal. O outro mandado de prisão preventiva foi cumprido em Brasília (DF).
Pagamento de boletos
Depois que recebiam o dinheiro, o grupo utilizava o valor e fazia pagamentos de boletos falsos para movimentar o dinheiro e transferir o montante para os outros envolvidos.
“Quando nós colocamos isso em um conjunto de dados, nós começamos a identificar quais são os boletos, quais são as contas, e quais são os destinatários. Quem tinha direito ao benefício, viu que ele tinha sido sacado e não contestou, isso não entrou no banco de dados”, disse Edson Geraldo de Souza.
Os mandados foram expedidos pela 9ª Vara federal de Campinas e cumpridos nos estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Tocantins e no DF. Foi autorizado o bloqueio de bens e valores encontrados em nome dos investigados. Carros, dispositivos eletrônicos, documentos e cartões foram apreendidos.
Ao todo, 37 envolvidos na operação estão sendo investigados pelos crimes de furto mediante fraude, estelionato e organização criminosa. As penas somadas ultrapassam 22 anos de prisão.
Cidades com busca e apreensão
Brasília (DF): 2
Goiânia (GO): 13
Santo Antônio do Descoberto (GO): 1
São José do Rio Ribamar (MA): 2
Alta Floresta (MT): 1
Juína (MT): 1
João Pessoa (PB): 1
Paulista (PE): 1
Recife (PE): 1
Jaboatão dos Guararapes (PE): 1
Paudalho (PE): 1
Teresina (PI): 1
Colorado (PR): 1
Rio de Janeiro (RJ): 1
Nova Iguaçu (RJ): 1
Machadinho d’Oeste (RO): 2
Ariquemes (RO): 3
Porto Velho (RO): 3
São Leopoldo (RS): 1
Guarulhos (SP): 1
Sorocaba (SP): 3
Ibiuna (SP): 1
Valinhos (SP): 1
Araras (SP): 1
Marília (SP): 1
Palmas (TO): 1
Investigação começou em 91 benefícios
O Auxílio Emergencial foi lançado em abril de 2020 para ajudar os trabalhadores prejudicados pela pandemia da Covid-19.
As fraudes começaram a ser apuradas em agosto de 2020 após a Caixa Econômica Federal encaminhar informações à PF de Brasília sobre 91 benefícios do programa de renda complementar fraudados. Eles somavam R$ 54,6 mil e tinham sido desviados para duas contas bancárias de pessoa física e de pessoa jurídica, residente e sediada em Indaiatuba (SP).
Ao longo da investigação instaurada na Delegacia de Polícia Federal de Campinas “milhares de outras fraudes “foram reveladas, disse a PF.
“O rastreamento inicial das transações indicou que parte dos envolvidos nestas fraudes estava situada nos estados de Goiás e Rondônia, sendo este último, estado lugar de residência de familiares da pessoa física residente em Indaiatuba, SP.”, completou a corporação.
Outra etapa da investigação descobriu que os beneficiários suspeitos receberam valores que pertenciam a 359 contas do Auxílio Emergencial. Os pagamentos eram feitos por pagamento de boletos e transferências bancárias.
Ao todo, 200 policiais federais estão na operação, chamada de “Apateones”, que significa fraudadores, em grego.
Fonte: Folha Max