Facção Comando Vermelho (CV) mantém um cemitério clandestino para ocultar corpos de vítimas sentenciadas à morte pelo Tribunal do Crime. A área já foi identificada no bairro Osmar Cabral, conforme investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que fez buscas na região inclusive com cães farejadores mas ainda não teve sucesso em encontrar os corpos.
Em uma casa na mesma região, a Polícia Civil identificou o local onde ocorriam as execuções das vítimas. Peritos detectaram vestígios de sangue no imóvel, com uso do luminol. A situação no bairro é bastante sensível, pois a população de bem se sente acuada pelos faccionados, que já chegaram a montar bloqueios em alguns pontos para impedir a aproximação da Polícia.
De acordo com o delegado Caio Fernando Albuquerque, adjunto da DHPP, no mês de fevereiro equipes da unidade atuaram por dois dias em buscas na região, com ajuda de soldados do Corpo de Bombeiros e cães farejadores. Durante as buscas, as forças de segurança receberam apoio velado de moradores, que temem se expor e falar com os policiais por medo de represálias da facção.
“Temos convicção sobre o local do cemitério, uma quadra imensa de mata nativa, na região próxima ao bairro Jardim Fortaleza. Mas por problemas de compactação do solo, os corpos ainda não foram localizados”, explica Albuquerque.
O delegado destaca que entre os corpos procurados estão os dos 4 trabalhadores maranhenses, sequestrados, torturados e executados com requintes de crueldade por faccionados do CV em 2 de maio de 2021. Oito dos 9 envolvidos no crime foram presos em fevereiro, na Operação Kalypto, deflagrada pela DHPP.
O delegado aponta que hoje a região do bairro Osmar Cabral e bairros vizinhos desperta muita preocupação em relação ao domínio da facção e a comunidade precisa de apoio das forças de segurança, pois se sente à mercê dos criminosos que impõem a lei do silêncio. Sem vestígios Dos 1.037 inquéritos de homicídios e tentativas de homicídio investigados pela DHPP em Cuiabá e Várzea Grande, metade resulta da ação de faccionados.
Se em Cuiabá a DHPP tenta localizar um cemitério clandestino, em Várzea Grande afirma que a situação é bemmais preocupante, já que com uma população de cerca de 300 mil habitantes, metade da Capital, os índices de execuções a mando da facção são, em muitos períodos, maiores do que os registrados em Cuiabá, com seus mais de 620 mil moradores.
E na segunda maior cidade do Estado o CV adotou a modalidade de “microondas” para dar fim aos vestígios e corpos das vítimas, quando depois de cruelmente assassinadas são queimadas em meio a pneus.
Uma das vítimas é Divino Leonardo, o “Gugu”. Ele foi esquartejado e teve o corpo carbonizado e localizado na região do Chapéu do Sol, em 4 de junho de 2022. Gugu foi testemunha ocular da execução de João Gabriel Silva de Jesus, o “Nego João” e foi morto pela facção um dia depois de ter comparecido à DHPP, informa o delegado Caio Albuquerque.
A identificação do corpo foi possível pelo anel que usava no dedo anelar da mão esquerda. “As investigações levaram à prisão de 4 envolvidos na morte de João Gabriel, presos até hoje. Por isso a importância da atuação do judiciário ao deferir estas prisões e segregar estes criminosos do convívio social. Não existe outro meio de combater as organizações criminosas”, pontua.
Fonte: Folha Max