Pablo Ferreira de Carvalho da Silva, de 25 anos, morto por policiais durante um surto psicótico, na madrugada deste domingo (12), em Cuiabá, era jogador de vôlei de praia e sonhava em seguir uma carreira no profissional, segundo a família. O atleta passou por vários times do vôlei local e chegou a atuar na seleção sub-17 de Portugal.
Ao g1, a irmã de Pablo, que preferiu não ter o nome divulgado, contou que o irmão se dedicou ao vôlei desde criança, mas se perdeu nas drogas há cerca de dois anos e, desde então, perdeu amigos e vínculos com treinadores.
“Era uma criança que teve seus sonhos arrancados pelas drogas. Antes, as pessoas o buscavam na porta de casa para jogar. Depois que começou a ter esses surtos, todos se afastaram, mas era o sonho dele [jogar profissionalmente], sempre se empenhou bastante, e continuou treinando por conta própria”, contou.
Colegas que acompanharam a carreira do jovem afirmaram que ele era um dos melhores jogadores locais que já viram.
Segundo a irmã, a morte do irmão foi um choque para a família. “Estamos sem dormir desde ontem, sem saber o que fazer”, disse.
Pablo foi morto com, pelo menos, seis tiros. A Polícia Militar diz que o jovem tentou atacar a equipe com uma picareta e que, por isso, tiveram que atirar. Ele teria sido atingido por um tiro na perna, mas, ao continuar seguindo na direção dos agentes, recebeu outros cinco disparos a queima roupa.
“O suspeito abriu a porta e saiu empunhando a picareta acima da altura da cabeça, em posição de golpe, e seguiu em direção ao PM que estava mais próximo a porta, no intuito de desferir um golpe contra o mesmo. Foi quando de imediato o mesmo efetuou disparos e o suspeito continuou caminhando em sua direção, foi onde se viu diante da necessidade da realização de mais um disparo, pois ficou encurralado entre a parede e uma caixa d’água, foi quando de fato o suspeito veio a cair ao solo”, explica.
A família afirmou que o jovem não estava sob efeito de drogas no momento em que foi morto. A morte do jovem gerou revolta de pessoas que testemunharam a ação da PM.
A Polícia Militar informou que os armamentos das equipes envolvidas foram recolhidos pelo fiscal de área para medidas administrativas, e que um procedimento investigativo será aberto na Corregedoria. O corpo de Pablo passa por perícia e só deve ser liberado para velório nessa segunda-feira (13).
Tentativa de tratamento
A família de Pablo disse que ele desencadeou episódios de surtos psicóticos e ficou agressivo logo após começar a usar entorpecentes, e não tinha acompanhamento psicológico. O jovem foi internado duas vezes no ano passado para tratar o problema com as drogas, mas, durante as crises, fugiu da clínica.
A irmã contou ainda que a família procurou ajuda em vários lugares, mas recebiam respostas de que o tratamento só se iniciaria, de fato, se o jovem aceitasse. “Tudo isso aconteceu por uma sequência de erros. O estado não tem preparo para tratar esse tipo de situação. Ninguém ofereceu ajuda”, pontuou.
O caso
Pablo foi morto na casa onde morava com a família, no Bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá. A polícia foi acionada pela mãe dele, que relatou que o filho estava tendo um surto e tentando agredi-la. Ela pediu aos policiais que o levassem à delegacia, no entanto, ele teria resistido à abordagem.
A PM afirma que Pablo era usuário de drogas e que, constantemente, agredia a mãe. De acordo com a polícia, o jovem se trancou dentro de casa e, ao entrarem no local, os agentes se depararam com Pablo, atrás de uma porta, com uma picareta na mão, fazendo menção de que daria um golpe.
Ele foi atingido por um tiro na perna, mas, mesmo ferido, teria tentado agredir os policiais. Em seguida, foi atingido por mais disparos e morreu na hora.
A Perícia Oficial foi acionada e realizou os exames de local de crime e o corpo foi encaminhado ao IML de Cuiabá. A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) informou que acompanha o caso.
Fonte: Folha Max