O juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, manteve a prisão dos nove presos envolvidos com a escavação de um túnel que seria usado para fuga de presos mantidos na Penitenciária Central do Estado (PCE). Alguns dos detidos afirmaram, durante a audiência de custódia, que foram contratados por integrantes do Comando Vermelho sob a promessa de que trabalhariam com garimpo.
Foram presos, na última terça-feira (13), André de Araújo Sousa, Douglas Soares de Souza, Joab de Jesus, Antônio de Sousa, Dionisia de Jesus Rodrigues, Domingos Alves da Silva, Carlos Alberto Rodrigues da Silva, Alan Kenedi Alves de Souza Barbosa e Ednei Jaime de Sousa Laurindo. Além deles, três menores foram apreendidos na ocasião.
Os advogados dos presos pediram a revogação da prisão provisória alegando que os policias entraram ilegalmente na residência, já que não tinham mandado de busca e apreensão ou de prisão. A tese, no entanto, foi rebatida pelo magistrado, que apontou a situação de flagrante, já que houve uma denúncia anônima indicando que ali estaria sendo cavado um túnel para acessar a Penitenciária Central do Estado.
Na casa, foram encontradas diversas ferramentas, maquinário para bombear água, quatro cisternas de 5 mil litros, além de vários sacos de areia empilhados. Os policiais localizaram ainda um equipamento de GPS, com as coordenadas exatas de um dos pavilhões da PCE. Alguns dos presos chegaram a tentar fugir no momento da abordagem, pulando o muro da residência, mas não tiveram sucesso.
Alguns dos detidos confessaram que foram contratados para resgatarem presos ligados ao Comando Vermelho. A maior parte deles disse ter sido contactada por uma pessoa identificada como “Opa” ou “Capitão”, sob a promessa de que receberiam R$ 1 mil por dia trabalhado em um garimpo em Mato Grosso.
Eles relataram que só quando chegaram a Cuiabá, foram informados de que teriam que escavar o túnel para resgatar presos, recebendo ameaças caso desistissem do serviço. O juiz não acatou a tese, alegando que a casa não tinha vigilância, o que permitiria uma fuga dos envolvidos, além do fato de que um deles teria recebido valores altos, antes mesmo de vir a Mato Grosso realizar o trabalho.
“Chama atenção a quantidade de dinheiro que o custodiado Andre de Araújo Sousa afirmou ter recebido em tão pouco tempo, isto é, R$ 17,8 mil antes de iniciar os trabalhos, quando ainda estava no Estado do Piauí, mais R$ 12 mil depois de iniciado os trabalhos, pois, não parece ser a praxe que um contratante de garimpo disponibilize vultosa quantia a título de adiantamento, a corroborar com os indícios de que os indiciados tinham conhecimento da prática ilícita e uniram seus desígnios no interesse do grupo criminoso”, diz a decisão.
Para manter a prisão do grupo, o magistrado apontou que eles pretendiam colocar em liberdade lideranças do Comando Vermelho, destacando a periculosidade dos integrantes da organização criminosa. Segundo o juiz, o prejuízo para a sociedade seria gravíssimo, caso os presos conseguissem fugir da PCE através do túnel.
“A liderança do Comando Vermelho em Mato Grosso encontra-se segregada na Penitenciária Central do Estado, logo, pretendia-se colocar em liberdade membros conhecidos por atos de extrema violência e voltados para a prática de delitos de comércio ilegal de entorpecentes, tortura, homicídio, roubo e lesão corporal. O grupo criminoso se instaura como verdadeiro Poder Paralelo causador de inúmeros problemas na sociedade, atuando dentro e fora dos presídios de todo o país, ordenando “salves” e até morte de desafetos, de modo a exercer uma intimidação coletiva. Não fosse a atuação da equipe de segurança estatal, membros de altíssima periculosidade do Comando Vermelho poderiam ter concluído o plano de fuga, causando um desarranjo social pela potencial onda de crimes que se instalaria com os líderes da facção em liberdade, revelando-se, portanto, a concreta gravidade da conduta dos custodiados”, completou.
Fonte: Folha Max