Vereador de Cuiabá que matou o agente do socioeducativo Alexandre Miyagawa de Barros, 41, o “Japão” com 3 tiros pelas costas é indiciado por homicídio qualificado mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima. No relatório final do inquérito, apurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o delegado Hércules Batista Gonçalves conclui que o vereador Marcos Paccola agiu de forma precipitada ao não insistir no gerenciamento da situação.
Cita que a conduta adotada pelo autor do crime não se amolda ao Procedimento Operacional Padrão (POP) da própria Polícia Militar, instituição da qual o acusado é tenente-coronel da reserva. Inquérito foi encaminhado nesta quarta-feira (20) ao Ministério Público Estadual (MPE) e ao Judiciário.
Paccola, que se apresentou espontaneamente na delegacia logo após o homicídio, teve dois pedidos de prisão representados contra ele, mas ambos negados pelo Poder Judiciário, que apenas autorizou a busca e apreensão dos dois de seus aparelhos celulares. O relatório do resultado da extração e análise do conteúdo dos aparelhos celulares do vereador será encaminhado posteriormente.
Investigação reuniu depoimento de testemunhas que acompanharam desde a chegada de Alexandre e a namorada Janaína Sá ao local, além de imagens de 5 câmeras de segurança de empresas posicionadas no entorno do local do crime. Uma delas foi requisitada pela defesa de Paccola.
Todas foram submetidas a análise, resultando em relatório técnico. Alexandre foi assassinado em via pública, no dia 1º de julho, no bairro Quilombo em Cuiabá.
A investigação concluiu que a vítima não esboçou qualquer reação e a namorada da vítima em nenhum momento pede ajuda ou socorro para terceiros em razão de uma suposta violência doméstica que estaria sofrendo. Pelo contrário, segundo o apurado, a vítima sacou sua arma de fogo a pedido da própria namorada, para ‘defendê-la’ e não para agredi-la, conforme mostram as imagens e depoimentos de testemunhas.
Na versão de Paccola, ele passava pela via em seu veículo, acompanhado de um assessor. Ao ver o tumulto, acreditava que Alexandre, que portava arma de fogo em uma das mãos iria matar a companheira, motivo pelo qual atirou contra ele.
NEM VIU A MORTE
Depoimentos e os laudos periciais evidenciam que a vítima Alexandre Miyagawa de Barros estava de costas, sob o efeito de álcool e não fez nenhuma menção de girar o tronco quando foi atingido pelos disparos efetuados pelo vereador Marcos Paccola. “Porquanto sequer viu quem ceifou sua vida”, enfatiza o delegado Hércules Gonçalves em relatório.
Testemunhas são unânimes em relatar que Janaína Maria Santos Cícero de Sá Caldas, namorada da vítima, passou ofender, indistintamente, mediante palavras de baixo calão, as pessoas na rua que foram ver o que estava acontecendo, bem como aos clientes que estavam em uma distribuidora. As testemunhas também foram coesas em afirmar que, durante a confusão, a própria Janaína, extremamente alterada, empurra por diversas vezes o braço da vítima que tentava apaziguar a situação.
“Aduzem ainda que Janaína foi quem incentivou e instigou que a vítima sacasse a arma de fogo que trazia na cintura a fim de intimidar as pessoas. Não temos dúvida de ser esse o instante em que a vítima tira a pistola da cintura, levanta o braço para cima com a arma em punho e depois recolhe o braço junto ao corpo e, ato contínuo, sai andando atrás de Janaína que já atravessava a via pública. Possivelmente, também é o momento em que populares gritaram: “Ele está armado!”, enquanto outras pessoas gritaram: “Ele vai matar ela” e logo depois Alexandre é atingido pelos disparos”.
Cópia do inquérito policial da morte do agente Alexandre Miyagawa de Barros foi encaminhada à Delegacia Especializada em Delitos de Trânsito (Deletran) e será analisado pelo delegado Christian Alessandro Cabral, em razão das supostas infrações de trânsito praticadas por Janaína Sá, namorada da vítima. As imagens de câmeras de segurança mostram que a condutora que dirigia o veículo Kicks Nissan executou manobras perigosas ao invadir a via na contração e por pouco não atingir uma motocicleta e outro veículo, pouco antes do crime.
A partir dos depoimentos das testemunhas a Deletran poderá avançar em relação a prática de crime de embriaguez ao volante. O aparelho celular de Alexandre foi examinado, mediante autorização dos familiares.
Nele haviam mensagens onde a vítima costumava reclamar do comportamento de Janaína quando ingeria bebida alcoólica.
Fonte: Folha Max