De um grupo de quatro adolescentes, três foram assassinados na Rua 27 de Dezembro, conhecida como Beco do Candeeiro, em Cuiabá, e apenas um sobreviveu. O crime completou 24 anos neste domingo (10) e segue sem nenhum acusado responsabilizado.
O único sobrevivente do grupo, Edilson Alves, também chamado de ‘Verminose’, entre as pessoas em situação de rua, participou do julgamento popular, em 2014, e reconheceu o policial militar Adeir de Souza Guedes Filho como o responsável pelas mortes dos garotos.
Segundo a denúncia, o policial teria usado uma pistola para matar os garotos na rua. Até hoje não está claro a motivação do crime. Desde então, ele foi o único levado para ser julgado.
Contudo, o júri entendeu que faltavam provas para acusar Adeir e o inocentaram.
Segundo a psicanalista e antropóloga Gabriela Rangel, o julgamento esteve errado desde o princípio.
“Era para ser julgado pelas forças policiais. Foi um julgamento absurdo. E o Ministério Público, à época, não recorreu à segunda instância”, afirmou.
De acordo com ela, há mais questões a serem esclarecidas do que, de fato, algo concreto sobre o caso.
“Que situação deu outorga para ele matar três adolescente no centro histórico? Isso não tem a ver com todos nós enquanto sociedade? Como construímos esse estado? Como libera arma de fogo e não são rastreadas? Não é feito nenhuma diligência ou inquérito policial completo que possa dar conta de encontrar essas pessoas e fazer um monitoramento? Essas são as questões. Isso é o que resta irresoluto a chacina. Essas mortes continuam acontecendo e vão continuar se a gente não falar delas e investigá-las”, indagou.
De acordo com o jornalista Johnny Marcus, que escreveu um livro a respeito da chacina, o único sobrevivente tem medo de voltar a falar no assunto.
“Há rumores de que ele voltou a transitar na região do Centro Histórico. Eu tentei contato, mas ele não quer mais falar do assunto por medo de represálias”, disse.
Atualmente, Edilson está preso, segundo informou a coordenadora municipal do Movimento Nacional de População de Rua, Rúbia Cristina, que é amiga dele e conviveu com o sobrevivente por um tempo nas ruas.
Investigação
Outro objetivo contado no livro de Johnny foi compreender o motivo pelo qual a investigação não chegou a lugar algum. Segundo ele, esse era exatamente o objetivo do Ministério Público e da Polícia Civil e Militar, à época.
“Os autos do processo revelam uma investigação mal conduzida e caótica. Uma advogada, que à época presidia a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), me disse que era justamente esse o objetivo das investigações: não se chegar a lugar nenhum”, afirmou.
Contudo, a estátua na Praça Senhor dos Passos é um tributo aos adolescentes assassinados há 24 anos. Segundo Johnny, também é uma forma de caracterizar o grito de indignação e luto das famílias dos garotos.
“É um tributo aos meninos e um grito de protesto de que os crimes jamais serão esquecidos”, disse.
O Beco
O Beco leva esse nome por causa de um candeeiro na porta da Taverna, à época era chamado de Casa do Truque.
Em 1919, o beco teve a primeira instalação de energia elétrica já que era considerada como a rua mais importante de Cuiabá.
Fonte: Folha Max