Em até duas semanas, o Museu Nacional espera concluir a licitação para a escolha da empresa que vai reconstruir o primeiro bloco histórico do Palácio da Quinta da Boa Vista, datado do século 19 e localizado no bairro de São Cristóvão, região central da capital fluminense, destruído por incêndio no dia 2 de setembro de 2018.
“O bloco histórico é o mais complexo”, disse hoje (6) à Agência Brasil o diretor-geral do museu, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexander Kellner. “A gente está prestes a fechar isso [a licitação]. Deve fechar em uma ou duas semanas”.
A direção está trabalhando também para o aniversário de 130 anos do Museu Nacional, que acontece no dia 6 de junho, e marca o palácio como sede do museu. Serão realizadas transmissões ao vivo pela internet para conversar com as pessoas sobre questões de acessibilidade, além de uma reunião para contar a história do museu. Entre outras iniciativas que estão sendo preparadas, Kellner destacou o lançamento de um site dentro do portal do museu, onde serão divulgadas as ações em desenvolvimento.
Campanha
O diretor-geral anunciou que no dia 2 de setembro, quando se registra a passagem do terceiro ano do incêndio, será lançada uma campanha nacional e internacional para a recomposição do acervo do Museu Nacional. “Agora é para valer, porque nós queremos devolver parte do Museu Nacional, em 2022, para a sociedade brasileira”.
O diretor lembrou que no próximo ano acontecerá o bicentenário da Independência. “E o Museu Nacional não pode ficar de fora”.
Segundo Alexander Kellner, a ideia é entregar ao público o Jardim das Princesas, que nunca esteve aberto à visitação pública antes e que tem ornatos e material importante relacionado ao Império, e também o jardim frontal, situado em frente à fachada do palácio. “Além disso, a gente quer devolver parte da fachada restaurada, o telhado bem bonito”. A previsão é entregar o museu totalmente restaurado em 2026.
Doações
Kellner informou que, até o momento, o Museu Nacional tem 65%, ou o equivalente a cerca de R$ 240 milhões, da verba necessária para o projeto de reconstrução, que alcança R$ 370 milhões, de acordo com o mais recente levantamento. Desse total, R$ 50 milhões foram doados pelo Bradesco; R$ 50 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); R$ 50 milhões pela mineradora Vale, e R$ 55 milhões pela Câmara Federal, aprovados em 2018 e liberados no ano seguinte.
De acordo com Kellner, os recursos estão sendo aplicados para deixar o campus do museu em ordem, para receber as novas instalações acadêmicas. O diretor disse que o campus foi sempre uma preocupação porque envolve terreno de 44 mil metros quadrados. “Já cercamos o terreno, estamos atuando na infraestrutura. Estamos trabalhando para fazer o que sempre quisemos, que é deixar as coleções e a parte acadêmica separada do palácio, em outro ponto”.
Circuitos
Após a reconstrução do bloco histórico, ficarão no palácio as exposições. “Vamos retirar do palácio a parte acadêmica e fazer dele uma grande área expositiva, um museu de história natural e antropologia”. Dentro desse contexto, quatro circuitos terão destaque. O primeiro é um circuito histórico, que vai contar um pouco do Império e da vida dos moradores daquele local, além do que aconteceu na República, mencionando também a questão do incêndio, em 2018. “Não tem como você apagar isso da memória do palácio”, comentou Kellner.
O segundo circuito abordará os ambientes e biomas brasileiros. “Acho que é o circuito mais bacana. A gente quer fazer uma viagem, saindo do museu”. O itinerário é vasto. Abrange desde as florestas de araucária da Região Sul brasileira, passa pelos Lençóis Maranhenses, pela Amazônia, mostrando um pouco de como são esses ambientes, as populações, os animais e como eles vivem. “E termina no Museu Nacional. Uma viagem pelo Brasil, mostrando esse belíssimo país para todo mundo que nos for visitar”.
No terceiro circuito, a diversidade cultural é a peça principal, exibindo as diferentes culturas de norte a sul, traçando paralelos com culturas de outros países. Para isso, Kellner observou que serão necessários apoios financeiros para as exposições do equipamento.
Já o quarto circuito falará de universo e vida, apresentando o surgimento do planeta, o universo e como chegamos ao ponto em que estamos atualmente. Os dinossauros serão uma das grandes atrações dessa parte.
“Nós queremos ser o museu de história natural e antropologia, que seja inovador, sustentável e, sobretudo, acessível. E que promova a valorização do patrimônio científico e cultural que, pelo olhar da ciência, leva a todos que nos visitem a reflexão pelo mundo que nos cerca, ao mesmo tempo que nos leva a sonhar”.
Alexander Kellner disse que esse é um grande desafio que o museu está encarando e avançando, a despeito dos outros problemas que existem.
Edição: Fernando Fraga