A médica epidemiologista, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT e membro do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Ana Paula Muraro, afirmou nesta sexta-feira (12) que são necessárias medidas mais rigorosas para desafogar o sistema de saúde e reduzir os casos de Covid-19 em Mato Grosso. “Para vermos um importante e necessário impacto na transmissão de Covid-19 em Mato Grosso e assim desafogarmos os serviços de saúde e evitarmos mortes, são necessárias medidas de distanciamento mais rigorosas e adesão da população ao uso de máscaras e medidas de higiene”, explica.
Segundo Ana Paula, após um ano de pandemia, com experiências de outros países e outros municípios do país que já enfrentaram a segunda onda ou o recrudescimento da Covid-19, apenas a restrição de horário e a limitação em alguns serviços não essenciais e eventos em horários específicos são insuficientes para controlar a doença.
Ela exemplifica que, no início de março, quando houve um decreto por parte do governo estadual restringindo o horário de circulação de pessoas em Mato Grosso e também a determinação do fechamento de comércios ás 19h, a circulação de pessoas em espaços de lojas e recreação diminuiu em apenas 17%, segundo os dados do Google, enquanto que no início da pandemia em 2020 atingimos mais de 60%. “É difícil prever com exatidão o impacto das medidas adotadas, uma vez que depende principalmente do nível de adesão da população. Após medidas verdadeiramente rígidas, o primeiro efeito seria observado no número de casos diagnosticados, o que realmente ainda não vimos em Mato Grosso com um pouco mais de uma semana em que entraram em vigor as medidas no início de março”, disse a especialista.
Conforme a epidemiologista, os impactos no número de internações e mortes leva mais tempo para serem observados. De acordo com o boletim epidemiológico de Cuiabá, são em média 7 dias entre o início de sintomas e a internação.
Além disso, o alívio nos serviços de saúde depende do tempo médio de internação, que pode sofrer alterações de acordo com o perfil de pacientes que estão chegando aos serviços de saúde com o agravamento da doença. Em Cuiabá a permanência hospitalar (tempo entre a data de internação e alta/óbito) é em média de 11 dias em geral e 14 dias entre os que evoluem para óbito.
“Então realmente melhores indicadores relacionados a internação e óbito, caso as medidas e comportamento da população tenham sido adequadas, poderão ser observados em duas semanas”, ressaltou. “Já observamos a necessidade de reforçar as medidas de prevenção para controlar a transmissão da doença há mais de dois meses. Ao final de janeiro já estávamos com mais de 70% das UTIs pactuadas ocupadas e novas variantes em circulação no país. Mesmo com mais 70 leitos de UTI sendo pactuados, atingimos ao final do mês de fevereiro aproximadamente 90% dos leitos ocupados. A velocidade dessa elevação no número de internações por si só já apontava para a necessidade de medidas mais rígidas serem aplicadas”, disse.
Ainda segundo ela, “mesmo sabendo que esse remédio é amargo, no momento, não temos como seguir com o adequado atendimento aos casos graves se o nível de transmissão não diminuir. Além disso, teremos vidas perdidas que poderiam ser evitadas, pois, mesmo com adequado atendimento a nível hospitalar, temos casos que evoluem para óbito”, finaliza a especialista.