As principais entidades do agronegócio brasileiro divulgaram nesta quinta-feira (23.11) uma nota conjunta em repúdio à decisão do Carrefour de suspender a compra de carnes do Mercosul para suas lojas na França. O anúncio, feito pelo presidente global da rede, Alexandre Bompard, gerou indignação entre produtores e exportadores, que defenderam os altos padrões de qualidade e sustentabilidade da carne brasileira.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e outras entidades, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), afirmaram que o setor atende aos mercados mais exigentes do mundo, incluindo Europa, China e Japão. Segundo a nota, a carne exportada é auditada e certificada por rigorosos processos sanitários, sendo reconhecida pela certificação internacional British Retail Consortium (BRC), referência em qualidade global.
Além disso, as entidades questionaram a justificativa do Carrefour, sugerindo que, se a carne do Mercosul não é adequada para o mercado francês, também não deveria ser para outros países onde a rede atua.
O movimento iniciado pelo Carrefour na quarta-feira, 20, ganhou a adesão do grupo varejista francês Les Mousquetaires, que anunciou medidas similares para suas redes Intermarché e Netto. O boicote ocorre em meio à resistência da França ao acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, uma negociação que já enfrenta desafios diplomáticos e comerciais.
Produtores franceses têm protestado contra o acordo, argumentando que ele traria concorrência desleal, uma vez que produtos do Mercosul não seguem as mesmas regulamentações internas da União Europeia. Manifestações com tratores bloqueando acessos a portos e estradas têm se intensificado no país.
Especialistas apontam que a resistência francesa é um dos principais entraves para a conclusão do acordo, que exige aprovação unânime dos parlamentos da União Europeia. Embora a diplomacia brasileira indique que as negociações avançaram e poderiam ser concluídas em dezembro, o cenário atual, marcado por protecionismo e mudanças nas dinâmicas comerciais globais, torna o desfecho incerto.
Analistas também destacam que a postura do Carrefour reflete pressões locais, mas pode abrir espaço para padrões privados mais restritivos, como selos ambientais e sociais adicionais, aumentando a burocracia para exportadores do Mercosul.
Governadores e entidades do Mercosul também criticaram a decisão do Carrefour. Mauro Mendes, governador de Mato Grosso, chegou a sugerir um boicote às lojas da rede no Brasil. A Federação de Associações Rurais do Mercosul (FARM) classificou a medida como “protecionista e arbitrária”, afirmando que ignora os esforços de sustentabilidade e qualidade da produção regional.
Enquanto o acordo de livre-comércio segue sob ameaça, o setor agropecuário brasileiro reafirma a confiança nos padrões internacionais de sua carne e reforça que, apesar das barreiras, o Mercosul continuará buscando ampliar sua presença nos mercados globais.
Fonte: Pensar Agro