DA CASA – O primeiro episódio da quarta temporada do TRT Entrevista conta com a participação da presidente do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso, desembargadora Adenir Carruesco, eleita para o biênio 2024/2025. A magistrada fala sobre os desafios da gestão, sua história de vida e destaca a importância da diversidade em espaços de poder.
A Entrevista da Semana vai ao ar todas as segundas na rádio TRT FM, dentro do programa Estúdio 104, e ao longo da programação. Para ouvir, basta sintonizar a frequência 104.3MHz (região metropolitana de Cuiabá) ou acessar o endereço www.trtfm.com.br. Também é possível ouvir através de sites como RadiosNet e outros serviços semelhantes.
Confira os principais trechos da entrevista:
Quais os maiores desafios dessa nova gestão?
O grande desafio da nova administração é entender como podemos, com os mesmos recursos, produzir mais e fazer mais diferença na vida da sociedade. O grande desafio também é gerir pessoas. Nenhuma instituição pode cumprir seus objetivos sem o comprometimento das pessoas. Gerir bem pessoas é capaz de transformar o mundo.
A nossa administração tem alguns pilares importantes. Já que estamos aqui na rádio TRT FM vou destacar o poder da comunicação, que é muito grande. É através da comunicação que transmitimos conhecimento, produzimos bem estar e realizamos nossas ações. A linguagem e a forma como vamos demonstrar o que fazemos e como fazemos. Vamos deixar o público muito bem informado.
Outro pilar importante é a inovação tecnológica. Chegamos em um ponto em que os avanços tecnológicos não têm retrocesso. Precisamos usar toda essa tecnologia a favor da melhor atuação do Poder Judiciário. A inteligência artificial é uma grande oportunidade que temos para dar maior efetividade ao nosso trabalho. Produzir com maior qualidade, eficiência e evitar o retrabalho.
TRT /MT é um dos tribunais que mais concilia. Qual será a importância desse tema nesta gestão?
No meu discurso de posse, destaquei a conciliação como um dos pilares da administração. Quando falamos em conciliação e mediação estamos falando do meio mais adequado para solução de conflitos. Representa também uma proximidade maior da justiça com a sociedade. É o empoderamento da sociedade para que ela própria possa resolver os seus problemas. Para que o judiciário seja a última trincheira e haja um desafogamento das demandas trabalhistas.
Além de juiz coordenador do Centro Judiciário de Métodos Consensuais de Soluções de Disputas (Cejusc), vamos ter outro juiz supervisor para dar mais assistência tanto na capital como no interior, já que a intenção é interiorizar a conciliação e a mediação.
Como foi sua trajetória de vida até a posse como presidente do TRT/MT?
Quando tomei posse como presidente do TRT/MT, em dezembro do ano passado, passou um filme na minha cabeça. Lembrei da minha infância caminhando para escola na zona rural, minha mãe bóia fria trabalhando na enxada. Na adolescência pratiquei esportes na cidade de Naviraí (MS). Meu primeiro trabalho, dando aula na zona rural, levantando às 4h da manhã e depois estudando. Lembrei do primeiro concurso que fiz, que foi aquele entendimento de que a sociedade não estava preparada para mim. Fui para o concurso público porque entendi que nas empresas privadas não teria as mesmas oportunidades. Entendia que no concurso público não faria diferença a cor da minha pele e por isso fiz o primeiro concurso aos 18 anos. Depois fiz concurso para magistratura, emprestando livros de colegas.
Vemos a importância dessa trajetória e me vejo com a obrigação e compromisso de inspirar outras pessoas a saberem que é possível. Inclusive essas ações afirmativas são uma das pautas da nossa administração. Defendemos com garra a pluralidade, diversidade, igualdade de gênero, racial etc. Mais que solucionar os processos que são apresentados, temos um compromisso social muito grande como instituição de fazer a diferença na vida das pessoas.
A que você atribui essa carreira?
Fui a primeira a furar a bolha da minha família e conseguir estudar. Temos aqui o Programa Nacional de Trabalho Infantil e Estimulo a Aprendizagem. Atribuo, fundamentalmente, ao fato de que minha mãe e meu pai, apesar de analfabetos, tinham a consciência de que criança tem que estudar. Eles faziam qualquer sacrifício para eu estudar, então tive o direito de sonhar, brincar e estudar. O amor incondicional dos pais foi um dos fatores fundamentais. Tive outros anjos, como os professores que me inspiraram muito.
O que representou ter o nome lembrado para ocupar a vaga no STF?
Só o fato de ter o nome cogitado foi uma vitória enorme. Não se trata de Adenir Carruesco e sim da causa. Tive a oportunidade de estar em Vila Bela da Santíssima Trindade para um evento no dia da mulher negra e vi a importância que tem de ser uma mulher negra em espaço de poder. As mães traziam as crianças e diziam: “vem ver uma desembargadora negra”. Tive a consciência de assumir esse papel e assumir o protagonismo. Não é uma questão de querer, é uma questão de dever estar nos lugares certos.
Entendo como uma responsabilidade para inspirar outras pessoas. Achei importantíssimo ser lembrada pelo que isso representa na sociedade brasileira. Ainda hoje temos que falar de racismo estrutural.
(Comunicação Social)
Fonte: TRT – MT