A juíza Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, determinou nesta sexta-feira (20) a conversão da prisão em flagrante para preventiva de Carlos Alberto Gomes Bezerra, filho do deputado federal Carlos Bezerra (MDB). Ele é acusado de assassinar a tiros a ex namorada e o atual namorado dela, na quarta-feira (18), em Cuiabá.
O casal estava sendo perseguido por ele durante o dia do crime, segundo a polícia. Ao saírem da casa da mãe de Thays, de 44 anos, junto com Willian, de 30 anos, o acusado passou de carro e efetuou os disparos. O casal morreu no local e o suspeito empreendeu fuga. Após ser detido, Bezerra passou por audiência de custódia e foi transferido para a Penitenciária Central do Estado (PCE).
A defesa do acusado informou que pretende aguardar o andamento do processo para se manifestar sobre o caso. Conforme a decisão da juíza para conversão da prisão preventiva, as provas até então produzidas no processo revelam a tentativa de Bezerra de escapar da aplicação da lei penal.
“O desprezo pela vida e uma crença na impunidade, capaz de lhe levar a prática de um feminicídio e um homicídio qualificado em plena tarde de um dia de semana, perto de uma avenida movimentada, em frente a um condomínio residencial, desferindo vários tiros a esmo a partir do próprio veículo registrado em seu nome, tiros estes dos quais seis acertaram as vítimas, sendo nítido em meu sentir que o mesmo contava com a impunidade decorrente de sua posição social”, disse a magistrada, na decisão.
A juíza destacou ainda a crueldade demonstrada por Bezerra ao matar duas pessoas em plena luz do dia, o que abalou a ordem pública. “Não estamos aqui tratando apenas deste caso específico, ou ainda somente em razão das pessoas nele envolvidas, mas sim de uma conduta criminosa, perigosa e violenta, estruturada culturalmente, que vem dizimando mulheres em razão da simples condição de ser mulher em um país estruturalmente machista e que merece profundo repúdio e imediata atenção do estado, enquanto detentor do direito da persecução penal”, ressaltou.
Além disso, a magistrada salientou que Bezerra já ameaçou outras mulheres com as quais havia se envolvido emocionalmente, conforme a certidão de antecedentes criminais e cópia de inquérito policial, além das medidas protetivas registradas por outras vítimas em 2016. De acordo com a juíza, isso agrava a conduta manifestada por ele.
‘Neuropatia diabética’
No processo, a defesa de Bezerra alegou que ele estava passando por uma “neuropatia diabética”, o que provocava um “descompasso emocional”. Na decisão, a juíza esclareceu que esse sintoma é anterior ao crime. “Além disso, a neuropatia diabética não gera agressividade, descontrole e nem violência capaz de levar a prática de feminicídio e homicídio qualificado”, disse.
Thays e Willian foram assassinados, no fim da tarde dessa quarta-feira, em Cuiabá, com três tiros cada. Ela já tinha feito um boletim de ocorrência contra ele e, de acordo com a polícia, o crime aconteceu quando ela estava no prédio para devolver o carro que havia emprestado da mãe para buscar o namorado no aeroporto.
Câmeras de segurança registraram as vítimas caminhando juntas momentos antes de serem assassinadas. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Marcel de Oliveira, o acusado premeditou o assassinato e agiu por ciúmes, sendo motivado pela “emoção de vê-la se relacionando com outro homem”.
De acordo com o delegado, familiares de Thays foram ouvidos e afirmaram que o suspeito era “extremamente ciumento e possessivo”. Ele e a vítima mantinham um relacionamento há alguns anos, entre idas e vindas. O término mais recente ocorreu há cerca de 45 dias e ela estava com o novo namorado há menos de um mês.
Fonte: Folha Max