O bolsonarista que matou um apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a facadas após uma discussão sobre política demonstrou frieza ao relatar o crime à Polícia Civil. O caso aconteceu na noite de quarta-feira (7) em uma área rural da cidade de Confresa (MT), localizada a 1.160 quilômetros de Cuiabá.
Preso preventivamente por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meio cruel, Rafael Silva de Oliveira, 24, tem antecedentes criminais por tentativa de latrocínio e estelionato. Antes dos crimes, uma irmã de Rafael foi até a Justiça de Mato Grosso, em abril de 2019, solicitar internação compulsória, apresentando laudos indicando que o irmão sofre de transtornos mentais, como esquizofrenia, e apresentava quadros de surto psicótico grave, com delírio e ideias homicidas.
Um documento obtido pelo UOL Notícias, feito pela Defensoria Pública de Mato Grosso há três anos, mostra que os médicos afirmavam que era o caso de internação com urgência, já que Rafael colocava em risco sua vida e de outras pessoas. A família pedia a internação gratuita, por não ter dinheiro para pagar pelo tratamento. Mas, na sentença emitida em maio de 2020, a Justiça indeferiu o pedido, que não seria a melhor alternativa por causa da pandemia do novo coronavírus.
Outro crime com faca.
Meses depois do pedido de internação compulsória pela irmã, em setembro de 2020, Rafael foi acusado de tentativa de latrocínio —roubo seguido de morte— em Cuiabá, capital de Mato Grosso. Com uma faca, Rafael abordou um taxista, anunciou o roubo e depois desferiu golpes de faca na vítima: no rosto, na cabeça e no braço direito. Ele fugiu e só foi localizado pela polícia em março de 2021.
Durante depoimento, Rafael alegou legítima defesa, porque, segundo ele, o taxista também tinha uma faca. O Ministério Público apresentou a denúncia contra o jovem em setembro de 2020, mas ele nunca chegou a ser preso porque não foi encontrado pela Justiça.
Em março de 2022, Rafael foi preso no centro de Confresa por estelionato e falsificação de documento. Na ocasião, ele aplicou diversos golpes em uma lanchonete, com comprovantes falsos de depósitos por Pix. Ele foi solto no mesmo dia.
Sem remorso.
Figura conhecida na delegacia da cidade pelo envolvimento em crimes, Rafael tinha uma vida conturbada. Com poucos amigos, ele só tem a irmã, que mora em Cuiabá. Mas a relação entre os dois é distante.
Na delegacia, ele disse que não gostaria de avisar para ninguém que estava preso e que não tinha advogado. Rafael trabalhava em uma empresa de cerâmica, localizada no setor de Vila Nova, em Confresa.
A frieza com a qual narrou o crime chamou a atenção do delegado Victor Oliveira Pereira, encarregado pelas investigações. “Ele demonstrou frieza e não parecia estar arrependido pelo crime. Não demonstrou remorso”, disse em entrevista ao UOL Notícias. Por isso, o delegado descartou legítima defesa no crime.
Rafael está preso na cadeia pública de Porto Alegre do Norte (MT), a 20 quilômetros de Confresa.
Como foi o caso? Segundo a Polícia Civil, a discussão começou quando o autor do crime estava com o colega Benedito Cardoso dos Santos, 42, em uma chácara, onde trabalhavam cortando lenha. O motivo foi posicionamentos políticos de ambos: Benedito defendeu o ex-presidente Lula e Rafael o atual.
Durante a discussão, segundo depoimento de Rafael, Benedito lhe deu um soco no rosto e ele devolveu a agressão com outro soco no peito. Depois da troca de golpes, a discussão parou.
Um tempo depois, Benedito teria pegado uma faca que estava na mesa e ficou parado. Rafael contou, então, que foi para cima de Benedito para pegar a faca. Ele continuou a ofensiva até conseguir desarmar o apoiador de Lula. Segundo o bolsonarista, Benedito correu atrás dele para tentar golpeá-lo. Foi então que a primeira facada aconteceu, quando Rafael acertou o petista pelas costas. No depoimento, Rafael afirmou que conseguiu dar outra facada nos olhos e na garganta do petista. Foram ao menos 15 facadas.
Rafael também contou que depois de todas as facadas, parou as agressões e percebeu que Benedito ainda estava vivo. Nesse momento, o apoiador de Lula xingou o agressor de “filho da puta”, que disse ter ficado ainda mais nervoso. O suspeito, então, entrou para a casa e pegou um machado. Quando voltou, Benedito estava gemendo de dor e Rafael deu um golpe de machado no pescoço dele. Benedito morreu depois desse último golpe.
O que o autor do crime fez após o crime? Depois de matar, Rafael disse ter trocado de roupa e escondido as armas do crime. Na madrugada de quinta-feira (8), pediu a um amigo que o levasse de carro até uma cidade vizinha. Contudo, o amigo disse que não poderia atender o pedido porque o seu veículo estava estragado. Rafael então disse que precisava fugir por “ter feito besteira” e entregou o seu celular nas mãos desse amigo, ouvido ontem pela Polícia Civil. “Depois que eu sair da prisão, eu pego o celular de volta”, teria dito o autor do crime, segundo versão contada pela testemunha aos investigadores.
Por que o autor do crime estava ferido? Rafael tinha dois ferimentos: um na mão, causado no momento em que disse ter retirado a faca da vítima. Ele também tinha um corte na cabeça. De acordo com o relato à Polícia Civil, Rafael disse ter sido atingido pela vítima, que o agrediu com uma pedrada na cabeça enquanto era esfaqueada. Por volta das 6h de quinta-feira (8), Rafael buscou atendimento em um hospital.
No local, policiais militares que já tinham conhecimento do crime e estavam à procura de suspeitos, desconfiaram dele e o levaram à delegacia. Confissão no local do crime. Acompanhado por investigadores e peritos no local do crime, Rafael confessou a autoria do assassinato. Em uma estrada de chão perto do corpo, abandonou a faca e o machado que usou para matar Benedito.
Fonte: Folha Max