A Operação Tarântula, deflagrada na manhã desta quinta-feira (1º) pela Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículos (DERFVA), desarticulou uma organização criminosa envolvida em diversos roubos e furtos qualificados de veículos ocorridos em condomínios de Cuiabá e Várzea Grande. A lista com 23 alvos tem nomes de empresas, pessoas e até lojas de revenda de veículos usados.
No balanço parcial da operação, 10 pessoas tiveram mandados de prisão preventiva cumpridos, quatro veículos apreendidos, entre eles um caminhão, R$ 3,1 mil em dinheiro, cédulas de documento falso, arma de fogo, além de diversas peças de veículos, motores e lataria cortada. Nos últimos oito meses, a quadrilha furtou 30 veículos em condomínios de luxo em Cuiabá e Várzea Grande, resultando num prejuízo aproximado de R$ 6 milhões para as vítimas.
As ordens judiciais foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres, Lucas do Rio Verde, Vila Bela da Santíssima Trindade e Pontes e Lacerda. A operação também resultou no bloqueio de contas bancárias relacionadas à organização criminosa.
Investigações
As investigações realizadas pela equipe da DERFVA iniciaram em dezembro de 2021, após uma série de ocorrências de furtos qualificados em condomínios. Nas investigações foi identificado um mesmo modo de ação, o que demarcou uma assinatura da associação criminosa nas ações. Os crimes praticados pelo grupo geraram um prejuízo aproximado de R$ 6 milhões para as vítimas.
Por meio das investigações tecnológicas e financeiras realizadas, aliadas ao cruzamento de dados relacionados aos inúmeros boletins de ocorrências que tinham conexão com os fatos em apuração, foi possível compreender a dinâmica dos crimes praticados pela organização criminosa.
A atuação da organização criminosa iniciava com os furtos qualificados ou roubos de veículos, praticados por membros do grupo, geralmente adolescentes, em sua maioria no interior de condomínios de luxo. Após as subtrações, os veículos eram estacionados em um outro local para “esfriar”, ou seja, até que sejam cessadas as primeiras iniciativas de apreensões dos veículos por parte das forças de segurança.
Após esse período, os veículos eram transportados para um local previamente definido e constantemente utilizados pela organização criminosa. Ali eram adulteradas as placas veiculares e providenciados os encaminhamentos dos veículos de acordo com as oportunidades oferecidas, fossem para desmanches ilegais, vendas em plataformas digitais ou rede sociais, ou comercialização no país vizinho.
Segundo o delegado titular da DERFVA, Gustavo Garcia Francisco, nas ações praticadas pelo grupo criminoso eram subtraídos, além dos veículos automotores, joias, eletrônicos, documentos pessoais e cartões bancários, com os quais foram realizadas compras e saques indevidos.
“Ficou caracterizado que os suspeitos entravam no condomínio para furtar as casas, uma vez que muitos moradores, por acreditarem na segurança de morar em um condomínio fechado, deixavam as portas abertas. Desta forma, o suspeito subtraia diversos bens, como joias, eletrônicos e outros bens pessoais, entre eles a chave e controle do veículo, tendo posteriormente facilidade de sair do condomínio com o próprio carro furtado”, explicou o delegado.
Furto e Desmanche de veículos
As investigações identificaram a existência de cinco células distintas com atuações bem definidas dentro da organização criminosa. A primeira célula ficava responsável pelos diversos furtos qualificados no período noturno em condomínio em Cuiabá e Várzea Grande.
A segunda célula era voltada aos desmanches ilegais, sendo constatado que o grupo realizou diversas ações criminosas envolvendo veículos de luxo e caminhões. O objetivo seria abastecer o mercado ilegal de venda de peças usadas na região metropolitana e no interior do Estado.
Estelionato Digital
As investigações também apontaram que organização criminosa também tinha atuação nas práticas de estelionatos digitais, tendo uma célula específica para essa atuação. Alguns veículos subtraídos tinham suas placas de identificação adulteradas, assim como eram confeccionados falsos certificados de registros de licenciamento de veículos (CRLV) a fim de concretizar as vendas destes veículos em redes sociais e aplicativos de vendas de internet.
A estimativa é que o grupo criminoso interagiu com mais de 200 usuários de aplicativo, havendo fundadas suspeitas de que tenham realizadas diversas vendas de veículos por meio deste canal. As investigações também identificaram uma célula destinada à comercialização de veículos na região de fronteira Brasil/Bolívia. Analisando as recuperações dos veículos subtraídos pela organização criminosa, percebe-se que muitos foram apreendidos pelo Grupo Especial de Fronteira (Gefron), destacando-se as apreensões realizadas em Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Mirassol D’Oeste, tendo boa parte deles como destino a Bolívia.
Lavagem de dinheiro
A quinta célula identificada está envolvida com a lavagem de dinheiro. Observa-se da dinâmica de atuação da organização criminosa que, além das subtrações dos veículos, diversas vítimas tiveram seus cartões bancários subtraídos, os quais foram utilizados para diversas compras e transferências bancárias para terceiros, possivelmente recrutados para agirem como laranjas.
Portanto, foi instalada uma rede para recebimentos dos valores obtidos das práticas ilícitas, sejam oriundos dos saques indevidos ou dos proveitos dos negócios ilícitos realizados nos aplicativos de vendas dos veículos.
Fonte: Folha Max