A Justiça Militar de Mato Grosso marcou para o dia 18 de julho a posse do Conselho Especial de Justiça que vai julgar o novo processo de tortura movido contra a tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur.
A oficial já foi condenada pela morte do aluno Rodrigo Claro, em novembro de 2016, em Cuiabá, durante o mesmo treinamento
O g1 entrou em contato com a defesa de Izadora Ledur, mas até a publicação desta reportagem, não obteve retorno.
A Justiça acolheu uma denúncia feita pelo Ministério Público Estadual, em janeiro deste ano, e tornou ré a tenente do Corpo de Bombeiros nesta nova acusação. A denúncia foi acatada pela Justiça no dia 3 de fevereiro.
No despacho publicado na última quinta (17), o juiz Marcos Faleiros designou por sorteio a participação dos oficiais superiores tenente-coronel da Polícia Militar Edylson Figueiredo Pintel e tenente-coronel Otoniel Gonçalves Pinto. Participam do conselho os oficiais intermediários capitães da PM Heryk Henryk de Deus Pereira, Lucas Andreo e Rosana Siqueira Galvao Corvoisier.
A denúncia
O MP acusa Ledur de torturar o aluno Maurício Júnior dos Santos. Conforme o documento, o jovem estava sob a autoridade da tenente e foi submetido a intenso sofrimento físico e mental como uma forma de castigo pessoal.
Em julho de 2015, Maurício foi convocado para o 15º Curso de Formação de Soldado do Corpo de Bombeiros. No início de 2016, deu-se início às aulas da disciplina de salvamento aquático, no qual tinha como instrutora responsável a tenente Ledur.
Tortura
Conforme a denúncia apresentada pelo MP, após alguns exercícios preliminares, os alunos formaram uma fila e entraram na lagoa sem corda de apoio ou colete salva-vidas. Em seguida, após percorrer cerca de 40 metros, a vítima começou a sentir câimbras, sendo auxiliada por outros alunos. No entanto, Ledur teria determinado que os demais alunos seguissem com a travessia, deixando Maurício para trás.
O Ministério Pública cita que a denunciada passou a torturar a vítima fisicamente e psicologicamente com palavras ofensivas e sessões de afogamentos.
As sequências de tortura, segundo o MP, só foram interrompidas após o aluno perder a consciência.
À época, Maurício foi encaminhado a uma unidade de saúde após acordar às margens da lagoa e sentir fortes dores de cabeça.
Conforme o prontuário de atendimento médico, Maurício “foi submetido a esforço físico desgastante, sofreu desmaio, vômitos, 3 episódios, tremor e dor torácica”.
Decisão de maus-tratos contra Rodrigo
Em setembro de 2021, Ledur foi condenada a cumprir um ano de prisão, em regime aberto, pelo crime de maus-tratos contra o aluno Rodrigo Claro.
À época, o juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Criminal Especializada da Justiça Militar, desqualificou o crime de tortura por maus-tratos. Ele foi seguido pela maioria do Conselho Militar, exceto pelo tenente-coronel Abel, do Corpo de Bombeiros, que entendeu que a tenente Ledur praticou o crime de tortura.
Pesou na decisão do magistrado Faleiros o laudo do Instituto Médico Legal (IML), que apontou um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sem causa definida como a causa da morte de Rodrigo.
Ledur também não perdeu o cargo ou a farda. A Justiça ainda pode avaliar se ela deverá seguir medidas cautelares.
Desde a morte de Rodrigo, a Justiça investiga se houve abusos por parte dos instrutores do curso de formação.
O estudante do curso de formação de soldados do Corpo de Bombeiros foi internado após passar mal em uma aula na Lagoa Trevisan, em Cuiabá.
Rodrigo ficou em coma na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) de um hospital particular da capital e morreu cinco dias depois. O jovem fazia aula de instrução de salvamento quando passou mal.
Segundo denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) a tenente Ledur, que era a instrutora do curso, usou de meios abusivos de natureza física e de natureza mental.
Depoimentos de outros alunos, da família e testemunhas apontaram que Rodrigo disse que tinha medo da tenente e que, dias antes da morte, mas em outro treinamento, Ledur o empurrou na piscina.
Os amigos relataram que Rodrigo não era tão bom na água e tinha limitações ao nadar. Durante a prova, ele pediu uma pausa e depois quis desistir, mas que Ledur ficava dando ‘um caldo’ no aluno.
Versão da tenente sobre a morte do aluno
Já a tenente disse, em depoimento à Justiça, que a vítima tinha “descontrole emocional na água e não estava preparado para ser bombeiro”. O curso teria sido o segundo aplicado por ela. Ledur garante que não aconteceu nada diferente nesse curso em relação ao anterior. “A diferença é a resposta do aluno”, disse.
Atualmente, ela desempenha funções administrativas. Desde a morte de Rodrigo, em novembro de 2016, Ledur apresentou vários atestados médicos.
A morte de Rodrigo
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro de 2016, cinco dias após passar mal em uma aula prática na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, na qual a tenente Izadora Ledur atuava como instrutora.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), Rodrigo demonstrou dificuldades para desenvolver atividades como flutuação, nado livre e outros exercícios.
Ainda segundo o órgão, depoimentos durante a investigação apontam que ele foi submetido a intenso sofrimento físico e mental com uso de violência. A atitude, segundo o MPE, teria sido a forma utilizada pela tenente para punir o aluno pelo mal desempenho.
Durante a realização das aulas, Rodrigo queixou-se de dor de cabeça. Após a travessia a nado na lagoa, ele informou ao instrutor que não conseguiria terminar a aula.
Em seguida, segundo os bombeiros, ele foi liberado, retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde e sofreu convulsões, vindo a morrer alguns dias depois.