Raquel Teixeira/Polícia Civil-MT
Quem precisa buscar o serviço da mais recente das unidades especializadas de defesa da mulher instalada pela Polícia Civil no estado, a Delegacia da Mulher de Primavera do Leste, encontra não apenas o aparato policial para investigar crimes de violência doméstica e sexual. O espaço foi preparado pela equipe da delegacia para receber vítimas, sejam elas crianças, adolescentes e mulheres adultas, em um ambiente acolhedor, confiável, em que escutar, compreender e dar um suporte psicológico e social que possam fazer a diferença na vida de dezenas de vítimas.
A delegada Anamaria Machado Costa, que atua na DEDM desde a instalação, em dezembro de 2020, pontua que a unidade foi criada com o intuito de inibir e combater os crimes relacionados à violência doméstica e sexual, mas que o atendimento não é apenas policial, mas de acolher e entender a situação de cada vítima que procura a Polícia Civil, de cada mulher que tem sua vida dilacerada pela violência.
“A Delegacia da Mulher, Criança e Idoso foi criada em Primavera do Leste justamente para para inibir e combater os crimes de violência contra essas vítimas. Temos uma equipe preparada e à disposição da sociedade, especificamente para as mulheres vítimas na tentativa de amenizar todo tipo de sofrimento, seja ele moral, psicológico ou físico.
Ela lembra que desde que a delegacia foi instalada, a atuação da equipe de investigadoras, escrivães e do atendimento psicológico tem sido constante para auxiliar as vítimas. Um dos casos investigados e de repercussão na cidade foi um feminicídio ocorrido no dia 20 de dezembro de 2020. Franciele Cosmo de Oliveira, de apenas 22 anos, foi morta com 30 golpes de arma branca pelo convivente, na frente de sua casa. Ela ainda tentou correr e pedir ajuda a vizinhos, mas ele a perseguiu e desferiu as facadas. Depois do crime, o suspeito fugiu usando a motocicleta da vítima. Depois de inúmeras diligências da Delegacia da Mulher, ele foi localizado em Vila Rica, no nordeste do estado. Ao saber que estava sendo procurado pela Polícia Civil, buscou abrigo na cidade vizinha de Santa Terezinha, mas finalmente, foi preso, na casa de parentes, em julho do ano passado.
Outro caso investigado pela equipe da delegacia especializada, que causou comoção na cidade, resultou no indiciamento e prisão de um empresário por tortura praticada durante cinco horas contra a ex-namorada, em 19 de maio do ano passado. Após instaurar inquérito para apurar o crime, depois da vítima procurar a Delegacia da Mulher,, a equipe apurou que ele praticou lesão corporal grave, tortura, injúria e ameaça, a fim de obter informações da vítima, com que já não tinha mais relacionamento. Com a prisão representada pela delegada Anamaria e decretada pela Justiça, a Polícia Civil realizou diversas buscas para cumprir o mandado, contudo, ele não foi localizado e permaneceu foragido por dois meses. Em julho passado, ele foi preso após se apresentar na unidade policial acompanhado de advogados.
No ano passado, a Delegacia da Mulher de Primavera do Leste instaurou 233 inquéritos policiais para apurar os mais diversos crimes relacionados à violência doméstica, desde estupro, lesão corporal, homicídio, ameaça, perseguição, entre outros delitos.
Cárcere privado
Uma situação apurada pela DEDM de Primavera do Leste, que chocou o município envolveu uma mulher e seus filhos mantidos em cárcere privado em uma fazenda na zona rural do município. A vítima de 32 anos sofreu durante nove dias uma série de agressões, inclusive, com choques elétricos, praticados por seu marido. A Polícia Civil recebeu a denúncia sobre uma tentativa de feminicídio e ao chegar na propriedade resgataram a mulher e os filhos menores de idade. Na fazenda, os policiais civis aprenderam oito armas tipo espingarda e diversas munições.
A vítima relatou que foi torturada, quando o suspeito começou a agredindo com um copo de vidro em seu rosto. Depois, ele a levou a uma estrada na mata, onde novamente a agrediu com socos e chutes.Em uma das ocasiões, ela estava com o filho no colo, um bebê, e para desviar os socos da criança, o suspeito lhe agredia na cabeça. Uma das agressões foi feita com uma das armas de fogo, quando o homem a jogou no chão e depois mirou em sua direção fazendo um disparo contra a mulher.
As sessões de agressões e torturas continuaram, quando o suspeito usou fios elétricos para provocar choques pelo corpo da mulher, que deixaram inúmeras marcas na vítima, inclusive nas partes íntimas. Ele disse ainda que a mataria sem deixar provas do crime. A vítima relatou ainda que o agressor a impedia de sair de casa para que os vizinhos não pudessem ver as lesões em seu rosto. Na madrugada desta quinta-feira, ele tornou a agredi-la, batendo com um fio de eletricidade.
Durante as diligências na propriedade, os policiais entrevistaram o suspeito, que confirmou os crimes cometidos e ainda atribuiu a culpa à vítima. Ele foi preso em flagrante e depois teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, após representação da delegada. A vítima e seus filhos foram acolhidos e depois encaminhados a familiares.
“Queremos destacar que a mulher que procura a delegacia especializada encontra aqui o amparo necessário para apurar a violência da qual foi vítima e também dar os encaminhamentos necessários para que possa ter seus direitos resguardados”, pontua a delegada Anamaria.