A retaliação da China à carne bovina brasileira tem colocado a bancada ruralista em estado de alerta uma vez que, pecuaristas brasileiros viram a arroba do boi despencar nos últimos dias, ficando bem abaixo do próprio custo de produção. Para o vice-presidente da FPA, e ex-ministro da Agricultura, deputado Neri Geller (PP/MT), os reflexos negativos vão além dos prejuízos econômicos, mas também, diplomáticos.
“Estamos acompanhando com preocupação essa pauta uma vez que, os estragos vão além dos US$ 10,4 milhões perdidos diariamente pelos pecuaristas brasileiros. Estamos diante de uma crise diplomática, onde nosso principal comprador fechou as portas de forma unilateral”, disse Geller.
O parlamentar lembra ainda que as relações comerciais com os asiáticos são as maiores, já que, 60% das exportações são para a China. “A FPA tem se reunido com a ministra Tereza Cristina e estamos atentos à movimentação do Brasil na retomada desse mercado. Mas, ainda assim, medidas mais incisivas precisam ser tomadas. O gado está no pasto, longe dos frigoríficos e consequentemente, dos supermercados. Estamos assistindo um setor correr o risco de quebrar”, defendeu.
De acordo com Geller, a pandemia já refletiu na alta dos custos da produção e o embargo à carne afeta, inclusive, o mercado interno. “Este ano, há um custo elevadíssimo de ração que gera sucessivos prejuízos para os produtores. Isso interrompe o ciclo de abate e gera desequilíbrio de ofertas no mercado interno. É muito impactante ter um cliente tão grande como a China, interrompendo as importações por tanto tempo”, disse.
MERCADO INTERNACIONAL
O federal Neri Geller já foi ministro de Agricultura, assim como o ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, e ambos trabalharam pelo fim do embargo chinês à carne bovina brasileira, à época, vigente desde 2012. Ainda frente ao mercado internacional e as relações comerciais favoráveis ao Brasil, em 2018 (durante a 10ª Cúpula do Brics – grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), foi trabalhado o fim do embargo russo à carne suína e bovina do Brasil. Na época, as restrições foram anunciadas sob argumento de terem sido encontradas substâncias como ‘estimulantes’ nos produtos brasileiros exportados para a Rússia e o embargo durou seis meses.
“Temos certeza do empenho da ministra Tereza Cristina, assim como de todo corpo técnico do Mapa, mas, os chineses são manhosos e sabem ‘vender’ bem suas posições. O trabalho e as negociações precisam se intensificar”, disse Blairo Maggi.
Foto: Luis Macedo