Apesar de serem cada vez mais comuns e terem aumentado durante a pandemia do Covid-19, pessoas com transtornos mentais como depressão e ansiedade demoram a procurar ajuda. Esta realidade se deve, em parte, ao preconceito em relação ao tratamento destas doenças.
Para se ter uma ideia, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 9,3% dos brasileiros sofrem de transtornos de ansiedade. Fora isso, a depressão está presente em 5,8% dos brasileiros, o que representa, aproximadamente, 11,5 milhões de pessoas.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, houve um aumento de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas, durante a pandemia. Outro levantamento feito pelo Instituto Ipsos, mostrou que 53% dos brasileiros sentiram que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito, no ano de 2020.
No entanto, devido ao preconceito, há uma camada de pessoas que prefere esconder o problema ao invés de buscar atendimento. Ou até evitam falar abertamente sobre o assunto com pessoas próximas, enquanto campanhas como o Setembro Amarelo, mostram que muitas mortes seriam evitadas se as pessoas falassem mais sobre os problemas e buscassem ajuda profissional.
A psicóloga do Sistema Hapvida, Ivana Teles, destaca que as pessoas devem encarar as chamadas doenças emocionais da mesma forma como enfrentam as doenças físicas. “Imagina você doente, gripado ou com uma perna quebrada. Você vai procurar o médico, vai entender o que está acontecendo, o que pode ser feito e se está tudo bem. Isso não gera nenhum tipo de prejuízo. Você pode se comunicar no campo familiar ou mesmo no trabalho e está tudo certo”, explicou a profissional.
No entanto, ela revela que, muitas vezes, as pessoas agem diferente, quando estão com doenças emocionais. “Agora, imagina quando é uma situação de adoecimento emocional. Em tese, deveria ser a mesma coisa (adoecimento físico). O que acontece é justamente o oposto. Não falar, não colocar pra fora e guardar. Isto acaba trazendo prejuízo para quem está nesta situação e, em nível social, reforça ainda mais o preconceito, afinal de contas é como se fosse algo errado que não pode ser divulgado”, completou.
A assistente social Márcia Gonçalves Luiz, que mora em Rondonópolis (MT), destacou que, durante muitos anos, sofria de Síndrome do Pânico e que somente conseguiu enfrentar a doença quando resolveu encarar o assunto de frente. “Procurei o atendimento, pois eu mesma achava que esse tipo de coisa, era doença de gente doida e não é isso, muito pelo contrário, é um problema como qualquer outro que somente é resolvido, quando a gente se livra do preconceito e coloca para fora isso”, resumiu.
A psicóloga do Hapvida reforça outro ponto importante para quem conhece pessoas que estão passando pelo problema. “O mais importante é não julgar, pois se julgarmos estaremos reforçando ainda mais o preconceito. Fazer uma escuta acolhedora é de suma importância, no processo”, finalizou.