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Sem chuva, hidrelétricas em MT já operam com 25% da capacidade e o sinal é de alerta

Especialista diz que é preciso conscientizar o consumidor a reduzir o uso de energia para evitar colapso

| Por RD News
Reprodução

Usina Hidrelétrica do Manso, em Chapada dos Guimarães, única capaz de armazenar água no Estado, hoje funciona com 25% de sua capacidade, de acordo com o Sindicato da Construção, Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Gás no Estado de Mato Grosso (Sindenergia). Fator é decorrente da pior crise hídrica dos últimos 90 anos, destacada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Falta de chuva ocasiona o desabastecimento de água nas hidrelétricas que, sem o fluido, ficam impedidas de funcionar e gerar energia. Ainda conforme o sindicado, hidrelétricas de grande e pequeno porte são responsáveis por quase 85% da produção da energia utilizada. Apenas outros 15% são provenientes das termelétricas e apenas 0,5% são produzidos nas usinas solares.

Com a falta de água, usinas termelétricas, que geram energia por meio da queima de combustíveis, precisam ser acionadas e valor adicional é colocado nas contas de energia. Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) cobra o adicional de R$6,24 por cada 100 kWh consumidos. Valor é passível de aumento.

Presidente do Sindenergia, Eduardo Oliveira, afirmou seria necessário que Estado tivesse ao menos 3 reservatórios do tamanho do Manso para poder encarar período de crise sem que fosse necessário acionar outras fontes. Para ele, tendência é que nos próximos meses, de seca, cenário piore.

“O Manso hoje tem tão pouca água que o volume está na casa de ¼ do que era para estar nessa época. Não consegue operar uma turbina das 4 que tem disponível. Em geração de energia não tem nenhuma outra usina com reservatório em Mato Grosso”, explicou.

Capacidade energética de MT

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Rodinei Crescêncio

Racionamento

Crise despertou a preocupação com referência a possibilidade de racionamento e apagões. Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, por um lado, nega que exista o risco de o país enfrentar período de racionamento. Em audiência na Câmara na última quarta (23), ele afirmou que governo não trabalha com a hipótese, pois órgãos monitoram setor elétrico 24 horas por dia.

Um possível racionamento impactaria o setor produtivo, como comércio, serviços, indústria e o setor rural, que atrasariam ou segurariam seus planos de investimentos”. Engenheiro e consultor da área de energia, Teomar Magri

O engenheiro eletricista e consultor em energia Teomar Estevão Magri, contudo, pontuou que apesar de o racionamento poder ser contornado, existe o risco de o país passar por períodos de blecautes ou apagões. De acordo com ele, Sistema Interligado Nacional (SIN) possibilita o intercâmbio de energia de uma região do país para outra. Em uma situação limite, no entanto, qualquer problema nas linhas pode gerar efeito cascata no desligamento de cargas.

“Um possível racionamento impactaria o setor produtivo, como comércio, serviços, indústria e o setor rural, que atrasariam ou segurariam seus planos de investimentos. Isto seria muito ruim para a economia, inclusive com repercussão nos empregos num momento que o país precisa gerar empregos”, disse.

Crise hídrica

Conforme pontuou o especialista, volume de água nos reservatórios das grandes usinas começou a reduzir de forma acentuada a partir de 2013. Como agravante, o último verão registrou número abaixo do que o previsto para as chuvas. Expectativa é que reservatórios voltassem a encher em novembro, no início de novo período chuvoso. O que não aconteceu.

“Já há alguns anos, as usinas térmicas têm sido acionadas neste período como uma espécie de seguro, com mais ou menos intensidade para compensar a falta de chuvas em ciclos hidrológicos desfavoráveis, que estão se intensificando. Caso o Operador Nacional do Sistema (ONS) tivesse a sinalização consistente de riscos para 2021, utilizando de usinas térmicas de forma adequada, essa ação poderia ter reduzido bastante os riscos e teria menor impacto financeiro para os consumidores.”, explicou.

Crise do apagão

De 2001 a 2002, Brasil vivenciou um período denominado “Crise do Apagão”. Escassez de chuvas em 2001 fez com que o nível de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas abaixasse. Por isso, levantou-se a hipótese de que talvez fosse necessário fazer longos cortes forçados de energia elétrica, denominado apagões. Situação foi contornada após campanha de racionamento de energia.

Apesar das semelhanças do período com a crise atual, Magri assegura que situações são distintas. Isto porque atualmente o país não depende tanto das usinas hidrelétricas e foram instalados outros empreendimentos, como os térmicos e os solares, capazes de produzir energia.

“Aliado a isso, houve nos últimos anos uma maior diversificação da matriz de geração de energia com a entrada de usinas eólicas e solares. Estas duas fontes já representam cerca de 12% da matriz de geração do país. Elas são mais baratas e de construção mais rápida e, por isso, devem continuar a ser implementadas. Então, o sistema elétrico hoje está mais preparado, mais robusto e mais diversificado do que em 2001”, explicou.

Conta de energia tem bandeira verde

Redução do consumo

Assim como há 10 anos, no entanto, especialista defende que é necessário conscientizar o consumidor e estimular a redução no uso de energia, principalmente pelos grandes consumidores do setor industrial. Ainda, deslocar parte do consumo para fora do horário de pico.

“O uso racional da energia neste momento é fundamental. Conseguir deslocar de horário um certo montante de energia é bem mais barato e rápido do que construir novas usinas. A nossa responsabilidade diante desta crise só faz aumentar a reflexão sobre a necessidade de preservar os nossos recursos naturais, com sustentabilidade na sua utilização e diversificação na matriz de geração de energia com outras fontes renováveis”, finalizou.

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