Há dois meses, a cartela de clientes cresceu consideravelmente depois que a Horta Santa Edwiges despontou na internet. Foi Diomara Gabrielle, filha de uma das 18 famílias de agricultores que fez com que o negócio entrasse no radar de potenciais consumidores, atraídos pelo conteúdo disponibilizado por ela nas redes sociais.
Aluna do Laboratório de Comunicação e Cultura (LabCom) A Lente, Diomara descobriu um novo mundo de possibilidades e aplicou o aprendizado em favor da comunidade. As vendas de hortaliças e verduras oriundas da agricultura familiar tiveram um salto.
“Foi uma forma que encontrei de retribuir. Minha família está lá desde seu surgimento, há 30 anos. Agora, estamos recebendo novos clientes. Muita gente chega lá porque nos encontrou na internet”.
Ela conta que o estímulo veio da equipe do projeto, que além de subsidiar jovens em situação de vulnerabilidade, motivou a criação de uma rede colaborativa. Além do auxílio na horta e na quitanda da mãe, a jovem de 20 anos dedicou os últimos quatro meses às aulas do LabCom.
“Eu nunca soube como usar o Instagram, o Facebook. Aplicativos de celular então, não tinha noção de como fazer. Nem o Word eu dominava. Mas isso tudo mudou”, diz confiante. Diomara não apenas criou as redes da horta como também desenvolveu a logomarca, produz as peças de divulgação e publica.
O projeto foi selecionado no edital Conexão Cultura Jovem promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT) para implantação e gestão de laboratórios de comunicação e cultura (LabCom) em comunidades com índices de vulnerabilidade social. O LabCom A Lente atendeu jovens de três comunidades periféricas de Chapada dos Guimarães, que fica a 65 km de Cuiabá.
O titular da Secel-MT, Alberto Machado, acompanhou a realização do projeto e se surpreendeu com o alcance do LabCom.
“A gente vê a política pública de cultura sendo executada no seu mais alto grau. Além de garantir o auxílio aos bolsistas e ensiná-los conteúdo que pode garantir oportunidades no mercado de trabalho, a equipe impulsionou uma rede colaborativa que agitou o cenário de Chapada. Bonito de se ver”, destaca o secretário.
Transformando vidas
A idealizadora do projeto Bruna Obadowski, avalia que ainda há muito por vir. “A semente foi lançada. Tanto para eles quanto para nós. Aprendemos mutuamente com esse processo e estamos prontos para desenvolver novas edições do LabCom. O conteúdo pedagógico foi lapidado de uma maneira surpreendente para nós. A comunicação e a cultura transformam vidas”.
Além do caráter social da inclusão digital, Bruna destaca ainda que no chamamento público que fizeram e também na seleção, a prioridade foi atender jovens de bairros periféricos de Chapada dos Guimarães.
“Não foram apenas 20 bolsistas contemplados com o recurso de R$ 1.600,00, foram 20 famílias que precisavam do auxílio em um momento tão crítico da pandemia. Muitos, só tinham esse suporte, então para nós, foi uma questão de garantir que essa política pública cultural garantisse a sobrevivência deles”, ressalta Bruna.
E deste modo, o LabCom atendeu todas as premissas do edital, que era de distribuição de renda, transversalidade cultural e assistência social.
“E como é o caso de Diomara, a contrapartida do Estado e da nossa equipe possibilitou também agentes comunitários que impulsionaram negócios em um momento em que pequenos empreendedores precisavam dessa ajuda, de dar visibilidade e impulsionar vendas”.
Além disso, até mesmo as compras de suprimentos para a realização e manutenção do projeto foram realizadas dentro da própria comunidade, fomentando a economia local. Indo além, ao comentar os valores agregados à iniciativa, o LabCom também garantiu apoio a profissionais da comunicação e cultura que ministraram cursos ao longo de sua realização.
Auxílio na pandemia
Para Samara Moreira dos Santos, o projeto cumpriu seu objetivo. A estudante de 18 anos quer garantir melhores perspectivas de vida ao filho. Ela foi mãe aos 14 anos e teve que desistir da escola para cuidar do filho e trabalhar como camareira. Dividindo a casa com o irmão e realizando trabalhos de serviços gerais em casas de família que se tornaram cada vez mais escassos, o auxílio ajudou muito a jovem que mora no bairro São Sebastião.
“Além de aprender tanta coisa que eu nem imaginava fazer, o recurso veio em boa hora para que eu pudesse garantir uma comprinha básica para alimentar o meu filho”. Do conteúdo absorvido, além de aprender a se comunicar, ela destaca que não vê mais os noticiários como antes. “Nem prestava atenção, agora eu penso na informação, como o jornalista fez para produzir aquela matéria. Eu mesma produzi uma durante as aulas do LabCom”, orgulha-se do olhar mais crítico.
Colega de projeto, Breno Bezerra dos Santos, 18, não está estudando, nem trabalhando. Está à espera de uma vaga em uma pousada local. Para ele, o recurso foi essencial. “Ajudei em casa e separei um dinheiro para eu investir em um negócio. Quero comprar equipamentos e montar um estúdio para produção musical. E então, eu sei fazer tudo o que precisa para divulgar os artistas”.
O jovem que mantém um canal no Youtube, não descarta virar streamer. “Eu aprendi a editar vídeos, então eu acredito que agora eu tenho várias possibilidades. Se aparecer alguma coisa na área, sei que posso ser útil. Fora que é um sonho também virar um influenciador digital. De pouquinho acho que vou investir também no meu canal”.